Renda para as mães e escola para as meninas

Brahima Ouedraogo, da IPS

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Ouagadougou, Burkina Faso, 23/8/2010 – Uma iniciativa para que as meninas frequentem a escola apoiando a autonomia econômica de suas mães dá frutos em Burkina Faso, onde a pobreza e os costumes, como casamento precoce, privam muitas meninas da educação. “Frequentemente compro cadernos e canetas esferográficas para os estudantes. A falta destes materiais faz com que algumas crianças deixem de ir à escola, o que é suficiente para que casem uma menina”, disse Mariam Alou, da Associação de Mães que Ensinam, com sede na localidade de Sebba. A entidade foi criada pelo governo para consolidar o sucesso de uma campanha que desde 2007 busca criar consciência sobre a importância de educar as meninas. Agora são, pelo menos, 300 filiais em todo o país.

“As mães devem apoiar as escolas porque sabem que é menos provável que as meninas as frequentem”, disse Marie Claire Guigma, diretora de promoção da educação feminina no Ministério da Educação Básica e Alfabetização. “Normalmente é culpa da mãe, já que, em geral, são elas que fazem com que as meninas fiquem em casa para ajudar nas atividades domésticas e econômicas”, acrescentou.

Em Burkina Faso, a proporção de pessoas que completam a educação primária é uma das mais baixas da África. As mais afetadas são as meninas. Segundo o Ministério da Educação, pouco menos de 42% dos estudantes que ingressam no primeiro grau terminam os estudos. Para as meninas, essa porcentagem cai para 37%. Na região do Sahel, norte do país, onde o Ministério centra suas atividades nesse sentido, apenas 18% das meninas acabam os estudos.

Entretanto, o ponto de vista de Marie Claire sobre quem impede as meninas de irem à escola é contestado. “As mulheres estão atentas à educação das filhas, porque os homens cuidam dos animais de criação”, disse Issa Compaoré, diretora regional de Educação Básica e Alfabetização do Sahel. “O desafio é fazer as meninas permanecerem na escola, especialmente em um contexto de casamentos arranjados. Sabemos que se a esposa souber ler significa uma primeira batalha ganha para a educação das meninas”, acrescentou.

Durante vários anos, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) apoiou atividades geradoras de renda para membros da Associação de Mães que Ensinam, como Mariam. Segundo ela, a venda de leite e outros ganhos obtidos com a criação de cabras e ovelhas permitem que sua organização pague a educação de seus filhos e faça um acompanhamento da mesma. As integrantes da Associação “estavam limitadas por seu próprio analfabetismo e pela falta de recursos”, disse Idrissa Diallo, diretor provincial de Educação Básica e Alfabetização na província de Yagha, no Sahel. “Elas reinvestem uma parte do lucro na educação dos filhos, usando o dinheiro para comprar lâmpadas e óleo, para que os estudantes mais pobres estudem à noite”, declarou à IPS.

Awa Traoré, diretora de Educação Básica na região de Hauts Bassins, afirmou que as diferentes filiais da Associação conseguiram melhorar a renda das famílias. “Demos ênfase no fato de não ser suficiente que as meninas se matriculem nas escolas, e a mensagem foi transmitida. Em algumas classes, hoje em dia, estudam mais meninas do que meninos. Agora dizemos que também apoiem os garotos”, disse Awa em entrevista à IPS. Daí as localidades de Faloni e Oumbara, em Hauts Bassins, terem atualmente 66% de matrículas de meninas, em comparação com apenas 15% em 2003, completou.

Marie Claire disse que se “uma menina adoece e a família passa por necessidades, as integrantes da Associação cuidam da garota. Porém, se suspeitam que acontece uma luta para conseguir um casamento arranjado, informam a direção da escola e agem com discrição para impedir as uniões precoces forçadas.

Segundo Issa Alou, na região do Sahel, os homens que se opõem às atividades das mulheres agora exigem um esforço adicional. “Dizemos a eles que ir à escola não só ajuda as próprias meninas como também, algum dia, poderá ajudar seus futuros maridos. Isto é para que os pais não entreguem as filhas para casamentos precoces quando têm problemas econômicos”, explicou. Envolverde/IPS

(IPS/Envolverde)

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