FUNDAMENTALISMO: Irã questiona se asilo à condenada não encorajará 'criminosos'

Do G1, em São Paulo

Governo defende que nenhum país vai interferir nas relações internas. Nesta segunda (16), presidente iraniano rejeitou oferta brasileira de asilo.

O governo do Irã, por meio de sua embaixada no Brasil, divulgou nesta segunda-feira (16) uma carta de esclarecimento sobre o pedido brasileiro de asilar Sakineh Mohamadi, condenada à morte por apedrejamento, na qual questiona se a impunidade não encorajará outros atos criminosos semelhantes.

Manifestantes ingleses pedem que pena de morte de iraniana por apedrejamento seja cancelada
 Manifestantes ingleses pedem que pena de morte de
iraniana por apedrejamento seja cancelada.
(Foto: AFP)

“Quais são as consequências desse tipo de tratamento com os criminosos e assassinos?”, pergunta o texto da embaixada iraniana. “Será que esse ato não promoverá e não encojarará criminosos a praticar crimes?”. A carta ainda questiona se “a sociedade brasileira e o Brasil tem que ter, no futuro, um lugar dos criminosos de outros países em seu território”.

A nota enfatiza que o caso de Sakineh não deve estremecer os laços criados entre os dois governos. “As relações entre o Irã e o Brasil são baseadas na habilidade de seus dois líderes, no conhecimento e na compreensão recíproca e chegou a um ponto no qual esses pequenos assuntos não podem interferir e prejudicá-las”.

O governo iraniano também defendeu que os problemas do país serão tratados pelas autoridades do Irã, sem a participação de outras lideranças mundiais. “A República Islâmica do Irã e a República Federativa do Brasil pagaram muito por sua independência e liberdade, tomando uma posição e uma postura independente, não permitirão, de maneira alguma, interferências de quaisquer países em seus assuntos internos”.

Nesta segunda, durante entrevista à uma rede de TV iraniana, o próprio presidente Mahmoud Ahmadinejad disse que seu país não vai permitir que Sakineh receba asilo no Brasil.

 

Ministro de Lula chama líder do Irã de ditador e diz que Brasil segue negociando asilo a Sakineh

DE SÃO PAULO
DA AGÊNCIA BRASIL

O governo brasileiro continua “pressionando diplomaticamente” o “ditador” do Irã para que enviar ao Brasil a iraniana Sakineh Mohammadi Ashtiani, 43, condenada por adultério e sentenciada à morte por apedrejamento, afirmou o ministro brasileiro dos Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, nesta segunda-feira em São Bernardo do Campo (SP).

Irã questiona oferta de asilo a Sakineh e diz que Brasil quer “abrigar criminosos”
Irã rejeita oferta brasileira de asilo à condenada ao apedrejamento

AP
A iraniana Sakineh Mohammadi Ashtiani foi condenada a morte por apedrejamento
A iraniana Sakineh Mohammadi Ashtiani foi condenada a morte por apedrejamento por adultério e pelo assassinato do marido

“O governo Lula está pressionando diplomaticamente o governo iraniano para que permita que ela venha para o Brasil. E se esse ditador [o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad] tiver um mínimo de bom senso, deveria permitir que ela venha morar no Brasil e seja salva”, disse Vannuchi.

Para Vannuchi, o Brasil é o único país que pode negociar com o Irã, após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, junto com o governo turco, ter mediado as negociações entre o Irã e a Agência Internacional de Energia Atômica pelo programa nuclear iraniano.

Brasil e Irã trocaram várias mensagens nas últimas semanas pelo caso de Sakineh Mohamadi Ashtiani, 43 anos, mãe de dois filhos, condenada à morte por apedrejamento no Irã por adultério e também acusada de homicídio.

A sentença de apedrejamento contra Sakineh levou à condenação internacional e a grande pressão contra Teerã. O país adiou a execução da condenação, mas acrescentou ao processo uma acusação de participação no assassinato de seu marido, em 2005. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que mantém um diálogo aberto com o Irã, ofereceu asilo a Sakineh no Brasil.

OFERTA DE ASILO

No dia 31 de julho, o presidente Lula disse que iria usar sua “amizade” com Ahmadinejad para propor que a iraniana tivesse asilo do Brasil. Três dias depois, Ramin Mehmanparast, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores iraniano, disse que Lula fizera a oferta, provavelmente, com base em informações erradas.

No último dia 9, o embaixador brasileiro no Irã, Antônio Salgado, se reuniu com o governo local para apresentar aos canais oficiais, formalmente, a oferta de asilo à iraniana. A visita é um recurso conhecido diplomaticamente como gestão, quando o ministro das Relações Exteriores ou mesmo o presidente de um país manda o embaixador procurar a chancelaria da capital onde atua para estabelecer relações formais.

Dias depois, diplomatas disseram que não faz sentido Teerã aceitar a oferta brasileira, já que Sakineh é uma iraniana criminosa condenada.

ABRIGO A CRIMINOSOS

O governo do Irã questionou nesta segunda-feira as “consequências” da oferta brasileira de asilar uma iraniana condenada à morte por apedrejamento, e perguntou se o “Brasil precisará ter um local para criminosos de outros países”, em uma nota emitida por sua embaixada em Brasília.

“Em relação à presença ou ao exílio [da condenada] Sakineh Mohamadi no Brasil, é necessário conside

rar alguns pontos e questões significativas. Quais são as consequências desse tipo de tratamento aos criminosos e assassinos?”, questiona o governo do Irã em seu comunicado.

“Esse ato não promoverá e não incitará criminosos a praticar crimes?”, completou.

“Será que a sociedade brasileira e o Brasil precisarão ter, no futuro, um lugar para os criminosos de outros países em seu território?”, questionou.

Segundo a nota divulgada nesta segunda-feira, o Irã “considera as declarações e o chamado” de Lula “um pedido de um país amigo”, que atribuiu a “sentimentos puramente humanitários” do presidente brasileiro.

OFERTA RECUSADA

O presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, afirmou nesta segunda-feira que não vai enviar Sakineh ao Brasil. “Eu acho que não há necessidade de criar problema para o presidente [Luiz Inácio] Lula [da Silva] e levá-la ao Brasil”, disse Ahmadinejad.

Em entrevista divulgada na televisão iraniana de língua inglesa Press TV, Ahmadinejad disse acreditar que não há necessidade de enviar Sakineh ao Brasil e afirmou esperar que o assunto “seja resolvido”. Ele não deu mais detalhes.

“Há um juiz no fim do dia e os juízes são independentes. Mas eu falei com o chefe do judiciário e o judiciário também não concorda com a proposta do Brasil”, disse Ahmadinejad.

COM AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

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