Natasha Pitts *
Adital – No início deste mês, a luta histórica das haitianas para escrever sua própria história foi relata no livro ‘Estampa: o Ayití que se levanta‘. Por meio de textos e imagens, as integrantes da Rádio Internacional Feminista (RIF) fizeram um passeio pela luta histórica das haitianas desde a revolução escrava até a resistência às ditaduras, passando pelas lutas atuais e revelando as ações dos grupos feministas no país.
Com a colaboração de Katerina Anfossi, diretora da RIF e da cineasta Ishtar Yasin, María Suárez Toro, editora da Rádio Feminista costa-riquense, sistematizou as informações das coberturas jornalísticas realizadas pela RIF, pela Comunicação e Informação da Mulher (Cimac) e por SEM/LAC durante os cinco primeiros meses após o terremoto de 12 de janeiro, para dar forma ao livro.
Em quatro capítulos distribuídos por 297 páginas, são narrados os vários esforços, perspectivas e lutas empreendidas pelas mulheres junto à população haitiana, que por diversas vezes escaparam da cobertura dos grandes meios de comunicação. Em inúmeros casos, a ajuda oferecida por organizações humanitárias e países ofuscou o papel dos verdadeiros protagonistas das ações realizadas no Haiti.
O livro cede espaço para uma breve caminhada por 200 anos de história haitiana e demonstra que, antes mesmo do terremoto que matou, feriu e desabrigou milhares de pessoas, o Haiti, país mais pobre do continente americano, já estava “rachado pelas políticas neoliberais, pelo racismo, pela pobreza, pelas desigualdades, pelo abuso de poder e também pela degradação ambiental”.
O título ‘Estampa: o Ayití que se levanta’, se remete ao fato de que, apesar de não se ver sempre, existe um país, um Ayití, que se levanta e que esteve sempre de pé, mesmo que o terremoto tenha levado e continua levando a um permanente e profundo sentimento de luto e dor.
Até o momento, a publicação só está disponível em espanhol, não tendo previsão de quando será traduzida para os idiomas principais do Haiti (crioulo e francês). Por este motivo, a Rádio Internacional Feminista está pedindo o apoio de todos que possam realizar a tradução em vários outros idiomas a fim de permitir que os haitianos e haitianas e interessados de outros países tenham acesso ao material.
Situação das mulheres no Haiti
A garantia dos direitos das mulheres já era deficiente antes mesmo do terremoto. Com o sismo de 12 de janeiro esta situação se agravou e após sete meses a atenção às necessidades específicas das mulheres se converteu em um drama.
As limitações no sistema de saúde, nos acampamentos e também nos centros de ajuda humanitária não permitem que seja dada a atenção necessária aos partos e emergências obstétricas, como abortos espontâneos, situação que tem acarretado danos para a saúde da mulher e, em alguns casos, a morte materna. Além disso, também é deficiente o atendimento psicossocial para mulheres de todas as idades, situação que impede a superação dos danos psicológicos causados pelo sismo.
No momento, também se faz urgente tomar medidas para combater e punir a violência de gênero, que se tornou cada vem mais comum após o 12 de janeiro. Da mesma forma, o tráfico de mulheres e meninas precisa ser combatido, já que a condição de vulnerabilidade dá abertura para a consumação do crime.
Com informações da RIF (http://www.fire.or.cr/).
* Jornalista da Adital