Ivanir Bortot e Renata Giraldi
Repórteres da Agência Brasil
Brasília – O Irã manterá presa a mulher condenada à morte por apedrejamento. Em entrevista à Agência Brasil, o embaixador do Irã no Brasil, Mohsen Shaterzadeh, descartou o envio da viúva Sakineh Ashtiani, de 43 anos, para o Brasil. O diplomata negou que tenha ocorrido formalmente a oferta do Brasil ao governo iraniano de asilo ou refúgio político para a mulher.
Shaterzadeh disse que o assunto envolve apenas o Irã, pois a mulher condenada é iraniana, o que elimina a possibilidade de outro país ser incluído no processo. Para o embaixador, o caso ganhou repercussão internacional porque há uma manipulação por meio da internet e da imprensa estrangeira para constranger o governo do presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad.
“Nós não recebemos de forma oficial pedido ou oferta alguma [de asilo ou refúgio político] para esta senhora ser enviada para o Brasil. Não houve ofício por escrito, nota oral ou troca de notas, como é a orientação na diplomacia em casos assim”, afirmou o embaixador. “Ocorreram crimes e serão julgados conforme o código do Irã, que segue preceitos morais e culturais do país”, disse ele. “O processo envolve pessoas iranianas, por que deveria ter o envolvimento de outros países?”
Shaterzadeh reiterou, porém, que a interpretação do assunto por parte do Irã não significa desrespeito à oferta de Lula para que a mulher fosse enviada para o Brasil. “Nós respeitamos muito o presidente Lula. Confiamos cem por cento na ideia de que ele não quis interferir em assuntos internos do Irã. Ele foi movido por sentimentos humanos e quando o nosso porta-voz disse isso, foi com muito respeito a ele. Mas o comentário foi mal interpretado pela imprensa brasileira”, afirmou o embaixador.
Há cinco anos, a viúva Ashtiani, mãe de dois filhos, foi condenada à morte por apedrejamento sob a acusação de adultério e ter mantido relações sexuais com dois homens. Ela e a família negam as acusações. O advogado dela, Mohammad Mostafaei, recebeu asilo na Noruega. Ele tenta levar a família, alegando que todos correm riscos no Irã.
Shaterzadeh disse ainda à Agência Brasil que foi encerrado o processo de adultério e que a mulher é acusada “apenas” de assasinato do marido. O embaixador não confirmou que a pena de morte por apedrejamento tenha sido substituída por enforcamento. Segundo ele, o processo está em curso e ainda não foi encerrado, por essa razão há possibilidade de alterações.
“Posso enfatizar que não é uma questão de adultério, mas de assassinato”, afirmou o embaixador iraniano. “Será que se este crime tivesse ocorrido em outras partes do mundo, todos estariam reagindo desta forma?”, perguntou. “Infelizmente, hoje em dia há um ambiente virtual que está sendo aproveitado pela mídia. É um assunto interno do Irã que não necessita de interferências externas”, concluiu o diplomata.
Shaterzadeh confirmou que a sentença de morte da iranaina virou tema de várias reuniões de diplomatas no Brasil e no Irã. Pessoalmente, o embaixador disse ter conversado sobre o assunto com vários representantes do Brasil. Em Teerã, o embaixador do Brasil no Irã, Antonio Salgado, também esteve com autoridades do país asiático para informar sobre a posição brasileira.
Ontem (11), no Rio de Janeiro, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, reiterou que houve, sim, uma oferta do governo para o envio de Ashtiani para o Brasil. “Houve comentários feitos em nível diplomático que explicavam [a condenação]. Talvez eles estejam considerando isso como uma resposta oficial, dizendo que ela é acusada não só de adultério, mas de cumplicidade em homicídio”, afirmou.
Amorim acrescentou que não ia discutir o caso. “O fato é que a situação dessa moça, inclusive em função da ameaça de apedrejamento e do suposto delito de que ela é acusada, é uma coisa que choca a sensibilidade do brasileiro como a do mundo todo”. “O presidente [Luiz Inácio Lula da Silva] expressou o oferecimento de recebê-la no Brasil, se isso ajudar a evitar a execução”, disse ele. “Nosso embaixador em Teerã foi instruído a comunicar o fato, o que, a nosso ver, é uma formalização deste oferecimento e do sentimento que é o do povo brasileiro”.
Edição: Graça Adjuto