GABRIELA CUPANI – (7/8/2010) – Folha de S. Paulo
Pesquisa contraria recomendação de esperar para tentar de novo
Mulheres que sofrem um aborto espontâneo não precisam esperar muito para tentar uma nova gravidez.
Segundo um novo estudo, quem engravida num período de seis meses após a perda do primeiro bebê tem menos risco de sofrer outro aborto ou de ter gravidez fora do útero (ectópica), em relação às mulheres que esperam entre seis e doze meses.
Quando o intervalo é mais curto, os riscos de cesariana ou de nascimento prematuro também são menores.
O estudo, feito na Universidade de Aberdeen, na Escócia, avaliou os dados de mais de 30 mil pacientes entre 1981 e 2000 e foi publicado no British Medical Journal.
Isso já se observa na prática. Quando o aborto acontece muito cedo, não há necessidade de esperar, afirma Nilson de Melo, presidente da Febrasgo (Federação das Sociedades de Ginecologia e Obstetrícia).
No entanto, se a mulher chega a dar à luz, é preciso esperar cerca de 12 meses para que haja uma recuperação completa do organismo.
Para chegar ao intervalo entre as duas tentativas, os autores calcularam o tempo entre a primeira e a segunda internação e subtraíram o número de semanas de gestação no segundo momento.
De acordo com o tempo que levaram para engravidar novamente, as mulheres foram divididas em cinco grupos. Quem esperou mais de 24 meses para tentar uma nova gravidez teve mais chance de sofrer um outro aborto.
INTERROMPIDAS
Cerca de uma em cada cinco gestações terminam em aborto espontâneo antes de completar 24 semanas.
Sabe-se que mulheres que sofrem uma perda gestacional têm mais risco de sofrer abortos ou outras complicações no futuro, como ameaça de aborto, parto prematuro ou induzido e hemorragias.
Os especialistas ainda não chegaram a um consenso sobre o prazo ideal para tentar uma nova gravidez.
A Organização Mundial da Saúde recomenda um período de pelo menos seis meses para que a mãe esteja totalmente recuperada, física e mentalmente. Alguns especialistas sugerem esperar pelo menos 18 meses.
No entanto, alguns médicos acreditam que não há motivos para esperar, considerando que o aumento desse intervalo não aumenta a probabilidade de dar à luz sem problemas.
Além disso, hoje, a espera maior pode ser um complicador: muitas mulheres estão adiando a primeira gestação para depois dos 35 anos, quando as chances de engravidar diminuem e os riscos de o bebê nascer com algum tipo de problema começam a aumentar.
Por isso, elas tendem a não querer esperar muito para tentar novamente.