Neide Castanha: Adeus companheira!

É com grande pesar que o INESC noticia o falecimento de uma grande defensora dos direitos humanos que dedicou parte de sua vida a lutar contra a violência a que ainda são submetidas crianças e adolescentes nesse país. Neide era presidente do Comitê Nacional de Enfrentamento à Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes, coordenadora do CECRIA e foi membro do Conselho Diretor do INESC. O sepultamento acontecerá nesta quarta-feira (27), às 17h, no cemitério Campo da Esperança, em Brasília.
Neide, que todas as sementes de coragem, transformação e justiça, que você plantou ao longo de toda a sua luminosa vida, gerem frutos, alimentando a construção de um novo mundo onde a luz do olhar de uma criança jamais seja eclipsada pela violência e a brutalidade que ainda nos rodeia.

Equipe Inesc

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Neide Viana Castanha, 55 anos


 
 
 

Uma vida dedicada aos direitos da infância e da juventude. Assim foi a trajetória de Neide Viana Castanha, que morreu na terça-feira última. No próximo dia 20, a militante social completaria 56 anos. Neide atuou, desde jovem, em defesa da criança e do adolescente. Quando estudava serviço social na Universidade Católica de São Paulo, trabalhou com crianças de rua e, na década de 1990, mobilizou-se pela aprovação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

Na década de 1980, Maria Lúcia Leal, professora de serviço social da Universidade de Brasília (UnB), trabalhou com Neide, que, à época, dirigia a Colmeia, presídio localizado no Gama. Fundadora do Violes — grupo de estudos sobre exploração sexual de mulheres, crianças e adolescentes —, ela acredita que Neide fez história. “Eu fazia as pesquisas e ela, as mobilizações políticas”, explicou. “O maior presente que nos deixa é a lembrança de uma coragem sem limites na luta pelo bem”, acrescentou.

Engajada, participou ativamente, entre 2003 e 2004, da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito da Exploração Sexual do Congresso Nacional. “Era uma pessoa extraordinária. Tinha bastante jogo de cintura”, definiu Patrícia Andrade, assessora da senadora Patrícia Saboya (PDT-CE), que presidiu a CPMI. “Ela emocionava as pessoas.”

Neide trabalhava havia 15 anos na coordenação do Centro de Referência, Estudos e Ações sobre Crianças e Adolescentes (Cecria), organização não governamental que ajudou a criar o Disque Denúncia-100 do governo federal. A assistente social Karina Figueiredo trabalhou com ela durante 10 anos, no Cecria. “Tinha uma criatividade jamais vista e uma capacidade de leitura política incrível”, comentou. “Fica o aprendizado de que nunca podemos desistir.”

Há oito anos, Neide atuava como secretária executiva do Comitê Nacional de Enfrentamento à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes. Nascida em Januária (MG), estava internada no Hospital Santa Lúcia, na Asa Sul, e lutava contra o câncer no intestino havia pelo menos dois meses. Vítima de parada cardíaca, Neide deixa dois filhos. O sepultamento ocorreu ontem, às 17h, no Cemitério Campo da Esperança.

fonte: Correio Braziliense

Não deixe o samba morrer
Elisa Lucinda
elisalucinda@yahoo.com.br

“Neide Castanha sonhou e trabalhou por um mundo melhor, mesmo quando ela não morasse mais aqui”

“Tem dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu”, diz o velho-novo Chico. É assim que me sinto quando não compreendo a lógica de idas e partidas deste mundo. Explico: meu coração já estava inconformado com a morte prematura da jovem jornalista daqui, da TV Justiça, que aos 27 anos fica sem direito à volta, na mesa de uma lipoaspiração. Vítima da indústria da vaidade, a moça deixa um filho e sonhos pelo caminho. No impacto dessa dor, eu já vinha me perguntando sobre nossa finalidade aqui nessa Terra, e a resposta, que ainda está na validade, confirma-me o nosso papel de melhorar esse mundão.

Cada um vem e despeja nele sua sabedoria, seus esclarecimentos, suas conclusões, na intenção de evoluí-lo. Assim, pensava meu coração, quando foi atropelado, bombardeado, trucidado pela nota de falecimento da brasileira de primeira grandeza Neide Castanha. Uma porrada, uma lástima, parecendo um equívoco de Deus. Quando minha mãe morreu, minha sogra, que reconhecia o seu valor solidário no mundo, disse: “Daria pra encher um trem de pessoas para irem no lugar de sua mãe.” Sei que essa é uma lógica humana, mas é a minha lógica, e o mesmo afirmo da Neide. Da sua trajetória, sabemos que fez um caminho único, vitorioso, raro e difícil, porque ascendeu socialmente. Ela, negra vinda de uma família sem privilégios, desenhando uma história de inclusão. Neide é pioneira no olhar dentro das ações públicas e também não governamentais sobre crianças e adolescentes. Doutora nisso, sua ideologia prática bolou o Cecria, um centro de atendimento focado principalmente nas meninas que vivem em situação de abandono nas ruas de Brasília.

Experiente, vinda de São Paulo, a selva síntese das contradições de um Brasil, Neide previu, com seu largo conhecimento sobre gênero que, quando se tira uma menina da rua, tira-se um ventre do abandono e, ao salvar um ventre, pode-se salvar uma geração. Então, como assim Neide morreu!? Construída sua autoridade entre políticos, empresários, soci

ólogos, professores, psicólogos, instituições, pensadores. Premiada, querida por todos e consolidado o seu respeito nos direitos humanos na comunidade nacional e internacional, não sei quais são os planos de Deus em retirá-la do nosso mundo ainda tendo tanto a fazer.

Era minha amiga, me hospedou no Lago Sul há 20 anos. Foi nos ver, a mim e à Geovana. no teatro em São Paulo em dezembro último, e não nos abraçamos como se fosse a última vez. Descobri um tumor aqui no intestino, ela me disse, ou no estômago (não sei), vou retirá-lo. E ainda completou, “nossa, Elisa, como essa doença é silenciosa, o caroço é grande e eu não sinto nada, descobri num exame de rotina. Mas vai dar tudo certo!” Otimista, valente, de volta aos braços de seu amor, segura de que venceria mais essa batalha, Neide não estava com ares de quem iria se despedir da vida. A operação foi um sucesso, retiraram 100% do mal e ela falece por uma reação alérgica a um dos componentes da quimioterapia, porque às vezes o remédio mata e essa foi a novidade que nos traiu.

Essa morte escureceu a semana, empobreceu o mundo. Inconformada, penso várias coisas: então a ciência avança, reverte tantos quadros, câncer já não é sentença de morte, mas a doença ainda avança? É epidêmica? Onde nos contaminamos? Nos cigarros? Nos agrotóxicos? Nos remédios que tomamos? Socorro! O que está acontecendo? Onde estamos? É desafio nosso, precisamos matar essa charada, afinal viemos melhorar o mundo. A luta contra a peste não começou ontem nem vai acabar amanhã, mas agora só penso no que nos cabe na ausência física, ousada e insubstituível de nossa Neide. Sua morte não pode nos esmorecer, encolher nossa esperança.

Deixou como herança uma atitude estruturada, um pensamento solidário, altruísta e possível, que mesmo sem ter sempre todos os holofotes sobre sua obstinada ação, fez e faz nascer um Brasil mais justo e novo. Nós, que conhecemos o seu pensamento, suas dificuldades e glórias, seus alcances e revoluções na reconstrução da cidadania da juventude brasileira, herdamos sua obra como dever de casa. A bola agora é nossa. Pois este “samba” que ela começou, Neide morreu confiando-o a nós. Portanto, atenção, políticos, simpatizantes, idealistas, humanistas, apaixonados, inconformados, militantes, empresários e governantes, há muito trabalho começado por essa dama por aí.

Neide Castanha sonhou e trabalhou por um mundo melhor, mesmo quando ela não morasse mais aqui.

SPM manifesta pesar pelo falecimento de Neide Castanha

 

Defensora dos direitos das crianças e dos adolescentes, Neide costumava dizer que “as crianças não têm dono, são patrimônio do País”

A Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres (SPM) manifesta seu profundo pesar pelo falecimento, nesta terça (26/01), em Brasília, da militante a favor dos direitos humanos e sociais de crianças e adolescentes Neide Castanha, em razão de um câncer.

Assistente social, especialista em políticas públicas e direitos da criança e do adolescente, Neide ficou a frente do Comitê Nacional de Enfrentamento à Violência Sexual Contra Crianças e Adolescentes desde 2004.“As crianças não têm dono, são patrimônio do País”, dizia Neide Castanha. Na sua trajetória, teve grandes conquistas como a mobilização nacional para aprovação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), a luta em defesa dos adolescentes privados de liberdade, e a capacidade de organizar lideranças de vários países para a realização do III Congresso Mundial de Enfrentamento à Violência Sexual, no Rio de Janeiro, em 2008.

Neide foi também uma das principais responsáveis pelo desenvolvimento da metodologia de uma importante ferramenta para o combate a violência infanto-juvenil, o Disque Denúncia -100, para notificação de casos de violação dos direitos sexuais de crianças e adolescentes.

Por seu relevante trabalho, Neide recebeu premiações e homenagens, como o “Prêmio Claudia 2009” e o “Prêmio Mulher Cidadã Bertha Lutz”, ambos pelo amplo trabalho realizado a favor dos direitos de crianças e adolescentes.

Nota de pesar da SEDH

 

A Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República e a Subsecretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Criança e do Adolescente comunicam com pesar o falecimento da companheira Neide Castanha, secretária executiva do Comitê Nacional de Enfrentamento da Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes.
 

Neide Castanha foi uma destemida parceira na defesa dos direitos da infância e da adolescência. Ousada, combativa, generosa e leal, Neide trabalhou incessantemente para tornar mais digna a vida das novas gerações. Sua alegria permanente nos animou nos melhores e nos mais difíceis momentos. Neide foi também uma das protagonistas na mobilização nacional pela aprovação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que este ano completa 20 anos, e por seu trabalho com meninas em situação de rua e na defesa de crianças e adolescentes vítimas de violência sexual, tornou-se uma referência destacada.
 

Atualmente, Neide também estava à frente do Centro de Referência, Estudos e Ações Sobre Criança e Adolescentes, em Brasília, tendo sido agraciada com o Prêmio Cláudia na categoria Trabalho Social em 2009. Somos profundamente gratos pela possibilidade de ter convivido com ela. Sua parceria para a concretização do Comitê Nacional, do Disque 100 e, mais recentemente, do III Congresso Mundial de Enfrentamento da Exploração Sexual foi determinante e deixou marcas profundas em cada um/uma de nós que teve este privilégio.
 

O movimento da infância perde uma incansável companheira, mas certamente seguirá com seu notável trabalho na certeza de que é possível lidar com temáticas tão delicadas com um largo sorriso e uma força sem igual. Temos a convicção de que a história de vida de Neide Castanha nos convoca não apenas a dar continuidade a esses projetos, mas acima de tudo a acreditar que um outro país e um outro mundo são possíveis. Neide, sua luta continua!

 

Pa

ulo Vannuchi
Ministro da Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República
 

Carmen Silveira de Oliveira
Subsecretária Nacional de Promoção dos Direitos da Criança e do Adolescente
 

Brasília, 27 de janeiro de 2010

Morre em Brasília secretária do comitê de combate à violência sexual contra crianças

Da Agência Brasil
Repórter da Agência Brasil


Brasília – Vítima de câncer no intestino, morreu ontem à noite a secretária executiva do Comitê Nacional de Enfrentamento à Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes, Neide Viana Castanha. O corpo está sendo velado no Cemitério Campo da Esperança, em Brasília, e será enterrado às 17h de hoje (27).

Mineira de Januária, Neide Castanha tinha 55 anos, era casada e deixa dois filhos. Assistente social por formação, com especialização em políticas públicas e direitos da criança e do adolescente, Neide recebeu no ano passado prêmio da revista Cláudia na categoria Trabalho Social.

Há dois anos, a secretária executiva recebeu o Prêmio Bertha Lutz 2008, destinado a cinco mulheres que tiveram atuação de destaque na garantia dos direitos femininos e em questões de gênero.

Neide foi uma das fundadoras do Centro de Referência, Estudos e Ações sobre Crianças e Adolescentes (Cecria), uma organização não governamental especializada em projetos de pesquisa, capacitação e articulação, e responsável pela metodologia do serviço de denúncia Disque 100, para registro de casos de violação sexual de crianças e adolescentes.

Edição: Nádia Franco

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