Tráfico de pessoas é consequência de machismo, diz articuladora do SMM

Tatiana Félix *

Adital – Quem atua no combate ao tráfico de seres humanos, sabe que este crime explora a pessoa em condições degradantes, tirando-lhe a liberdade e reduzindo-a a simples objeto negociável. De acordo com dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT), por ano, o número de vítimas do tráfico de pessoas no mundo, chega a 2,3 milhões, sendo que, cerca de 80% destas pessoas traficadas são mulheres e adolescentes, exploradas no comércio sexual.

 


Engajada no enfrentamento deste crime, a jornalista Priscila Siqueira, articuladora do Serviço à Mulher Marginalizada (SMM), se propõe também a analisar as causas deste mau, que é considerado a escravidão dos tempos modernos.

Autora dos livros “Tráfico de Mulheres: Oferta, Demanda, Impunidade” e “Tráfico de Pessoas: Uma abordagem Política”, ela contribuiu, recentemente, com a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pedofilia e participa de eventos sobre a problemática.

“O SMM faz questão de dizer que o tráfico de pessoas se dá como consequência de um processo de vida da sociedade. As causas deste problema estão interligadas, tem a concentração de riqueza nas mãos de poucos, problemas socioeconômicos que exclui muitas pessoas. Tudo isso contribui para o tráfico”, declarou.
Entretanto, ela considera que é imprescindível analisar a questão de uma forma mais aprofundada. “Dizem que o tráfico de pessoas é uma questão ligada aos direitos humanos, gênero, raça, migração. É uma análise que tem que ser feita de um ponto de vista múltiplo. O tráfico é consequência de uma sociedade machista e patriarcal, onde há muito preconceito, controle e poder”, analisou.

Para ela, as religiões judaico-cristãs têm forte influencia neste quadro, já que é a mulher, a principal vítima. “A maioria das pessoas traficadas no Brasil são mulheres e meninas para serem exploradas sexualmente. Por que isso? Porque é cultura, a mulher é vista como pecadora, que tem deve ser punida, merece apanhar. A religião é muito responsável por isso. Basta ver o exemplo do Jardim do Éden”, criticou.

Como exemplo do forte machismo e do descaso com que a mulher é tratada, Priscila lembrou que só no ano passado 300 mulheres foram assassinadas no Ceará, e de todos estes crimes, houve apenas uma condenação.

Para reverter a situação a jornalista afirmou que é necessário empenho e paciência, já que é um processo longo e demorado. “Nós não vamos ver os resultados agora, mas não podemos deixar de lutar”, disse. “Até 10 anos atrás, falar em tráfico de pessoas no Brasil era considerado loucura, que isso não existia. Hoje, já estamos começando a ter este debate”, sinalizou.

Por fim, Priscila considerou que é fundamental a inserção da sociedade civil nessa luta. “Não podemos apenas cobrar do Estado, porque o Estado está inserido na sociedade, não dá só para ficar esperando. Cada um precisa se envolver na luta e fazer sua parte”, finalizou.

Para acessar as publicações e conhecer o SMM, basta clicar em: www.smm.org.br.

* Jornalista da Adital

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