Brasileir@s na luta contra o câncer de mama

Maira Caleffi – Presidente da Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama (Femama) e do Instituto da Mama do Rio Grande do Sul (Imama)

Os brasileiros têm até o final de junho para dar importante passo no campo da saúde. Nesse prazo, está aberto o teto para as mamografias em todo o território nacional. Isso significa que são os próprios cidadãos e os profissionais de saúde pública que poderão estabelecer o máximo de mamografias disponíveis mensalmente para cada município, através do Sistema Único de Saúde (SUS). Esse processo se dará pela avaliação do número de mamografias solicitado para cada cidade do país até junho deste ano.

Trata-se de uma chance e tanto. A mamografia é o principal exame para a detecção precoce do câncer de mama. Através dela, podem ser encontrados nódulos bem pequenos, que não aparecem em exames feitos pelo exame médico ou autoexame das mamas. E, para o câncer de mama, chegar cedo é fundamental: as chances de cura de quem descobre antes podem chegar a 95%. Nossos índices de mortalidade são muito elevados diante de chances de cura tão boas. Isso significa que nossas mulheres estão chegando tarde. E é inaceitável que se morra tanto de uma doença que pode ser curada em praticamente todos os casos.

Em nosso país, a cada 100 mil mulheres temos uma média de 49 casos da doença. Mas em estados do Sul e Sudeste esse número pode duplicar. Assim como nos demais países em desenvolvimento, a sobrevida média após cinco anos é de 57%. Na população mundial, é de 61%, enquanto nos países desenvolvidos aumenta para 73%. A diferença se dá, em especial, pelo investimento continuado dos países desenvolvidos em programas nacionais de detecção precoce do câncer de mama. O rastreamento bem-sucedido da neoplasia reflete na redução da mortalidade.

Temos agora a chance de dar um passo adiante para mudar esse quadro. Precisamos, é claro, contar com vontade política de nossos prefeitos e secretários municipais de saúde. Ampliando o teto, daremos oportunidade para mais mulheres fazerem os exames. Para quem não sabe, é importante lembrar: a mamografia deve ser feita de rotina conforme a idade e o risco pessoal de cada mulher. O exame pode ser feito gratuitamente pelo SUS.

De 1975 a 2000, dobrou o número de casos de câncer de mama no mundo. Até 2020, esse número será novamente multiplicado por dois. Até 2030, deve triplicar. Só em 2009, mais de 1,5 milhão de mulheres foram acometidas por câncer de mama no mundo. Trata-se de um problema global, sem dúvida alguma, mas que exige soluções locais, pensadas de acordo com a realidade de cada país, estado e município. Em Porto Alegre (RS), por exemplo, a doença é a primeira causa de óbito nas mulheres em idade fértil e a segunda em todas as faixas etárias. Neste ano de 2010, devem surgir 1040 casos na capital dos gaúchos, de acordo com dados do Inca (Instituto Nacional de Câncer).

No Brasil, contamos com a Lei nº 11.664/08, que entrou em vigor em 29 de abril de 2009. Ela garante a prevenção, a detecção, o tratamento e o seguimento dos cânceres de mama e do colo do útero, no âmbito do SUS. Garante, também, o acesso à mamografia acima dos 40 anos e ao exame citopatológico de colo uterino a todas que já tenham iniciado sua vida sexual. É um grande avanço, certamente, mas precisamos ainda trabalhar muito para fazer com que essa lei se torne realidade na prática e mais vidas possam ser salvas.

A problemática do câncer de mama no país é muito complexa. A baixa qualificação dos profissionais da área da saúde na atenção à saúde da mama, a má qualidade dos equipamentos do SUS e a carência de programas de detecção precoce são fatores que contribuem para os altos índices de mortalidade pela doença. Nossas principais bandeiras, junto à Femama e instituições associadas em 18 estados, são a detecção precoce do câncer de mama, a capacitação dos profissionais da saúde para o melhor atendimento e a diminuição do tempo entre o diagnóstico da doença e o início do tratamento. Na rede pública, muitas mulheres recebem o diagnóstico e ficam à espera da cirurgia por um período muito maior do que os 60 dias preconizados pelos médicos. Quer dizer, elas recebem o diagnóstico e veem o câncer se desenvolver pela precariedade do sistema. Assim, além de ampliar o acesso à mamografia, precisamos diminuir, urgentemente, o tempo de espera para o início de um tratamento de qualidade, baseado nas últimas evidências científicas. Só assim poderemos salvar mais vidas.

 

artigo publicado no jornal Correio Braziliense em 14/6/2010

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