Feministas discutem mercantilização do corpo das mulheres

Adital – Representantes da Marcha Mundial das Mulheres (MMM) de todo o Brasil e de alguns países da América Latina se reuniram na última sexta-feira (4), no espaço Glauber Rocha, armado no I Festival das Juventudes de Fortaleza, no Ceará, para discutir a “Mercantilização da Vida e do Corpo das Mulheres”.

 


O debate girou em torno das experiências de três mulheres, as estudantes Ana Paula, do Rio Grande do Norte e Rita Alencar, do Ceará, e a jornalista Rocio Alorda, do Chile. As ativistas propuseram análises e reflexões sobre situações que colocariam a figura feminina como produto de mercado.

Ana Paula criticou a submissão voluntária das mulheres ao padrão de beleza, reflexo de uma sociedade capitalista e machista. “Tudo o que fazemos com o nosso corpo é motivado pelo padrão que a mídia impõe. Nós não alisamos o cabelo porque gostamos dele liso, mas porque nossos maridos gostam, e porque a mídia trata o cabelo liso como superior”.

O desrespeito que ainda é demonstrado por alguns homens em relação à mulher também foi assunto destacado por Ana Paula. “E depois de arrumadas, como os homens e a TV gostam, nós estampamos cartazes e calendários, que vão ficar grudados nas paredes de oficinas, enquanto outras usam o corpo para vender cervejas e carros”.
A feminista ainda destacou a imagem de fragilidade que a mulher é obrigada a conviver e assumir. “Desde pequenas precisamos brincar com bonecas, enquanto os homens ganham espadas, servimos o chá enquanto os homens brincam com carrinhos, cuidamos dos bebês enquanto eles vão ao trabalho. E uma imagem de falsa fragilidade acaba sendo construída. Nós não precisamos da proteção dos homens, porque não somos frágeis”.

A cearense Rita Alencar introduziu no debate o assunto do tráfico de mulheres para fins de exploração sexual. A estudante criticou a exploração de garotas menores de 18 anos e o aliciamento de mulheres mais velhas, que viajam até outros países e são privadas de sua liberdade.

“Nenhuma menina quer ser prostituta, nenhuma mulher quer vender o corpo. Todas as que fazem isso são vítimas de uma sociedade que as privou de tudo e que exige a venda do bem mais precioso, o próprio corpo, para sua sobrevivência”, afirmou Rita.

A representante chilena da Marcha Mundial das Mulheres, Rocio Alorda, explicou que em seu país, e em qualquer lugar da América Latina, as mulheres se inserem nas redes de exploração sexual pelo mesmo motivo: falta de condições mínimas de sustento. Segundo ela, a situação da prostituição em seu país piorou após a abertura econômica, promovida durante a ditadura militar do general Augusto Pinochet, em meados de 1973. O modelo econômico liberal facilitou a entrada de produtos estrangeiros, o que acabou prejudicando a renda e o sustento dos produtores chilenos.

Rocio ainda citou o problema recente vivido pelo país, vítima de uma ditadura que durou 17 anos e se estendeu até 1990. “Nossas mães e nossas avós foram vítimas de torturas e violações sexuais durante o período da ditadura, e ainda guardam as marcas e os traumas do passado. E nós, da Marcha do Chile, não podemos aceitar essa realidade, para que outras coisas semelhantes não voltem a acontecer”.

Para encerrar o debate, as mulheres da Marcha criticaram os projetos de regulamentação da prostituição, sob a alegação de que esse seria o passo final na consolidação do corpo da mulher como uma mercadoria.

O I Festival das Juventudes ocorreu até o último sábado (6).

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