Fábio Serrato
Racismo prejudica acesso da população negra ao diagnóstico e tratamento da AIDS, indicam pesquisas apresentadas em simpósio nacional
“É preciso criar ações afirmativas”, defendeu Mário Lisboa Theodoro, do Ipea
Diferentes estudos apresentados nesta quinta-feira durante o I Simpósio Nacional de Saúde na População Negra e HIV/Aids indicaram que a vulnerabilidade social a que os negros estão acometidos dificulta o acesso deles ao diagnóstico e tratamento da aids. O evento está sendo realizado em Campinas, interior de São Paulo.
Segundo Mário Lisboa Theodoro, do Instituto de Pesquisa e Estatística Aplicada (Ipea), é preciso acabar com o racismo institucionalizado. “Esse é o grande desafio. O racismo faz com que a saúde deixe de ser universal porque dificulta o acesso a ela e influencia na forma como o usuário será atendido”, explicou.
“Discriminação é caso de polícia. Racismo é caso de política: políticas públicas”, acrescentou Mário. Para ele, a saída é criar ações afirmativas em diferentes ministérios. “Uma opção são as cotas. No Brasil o caso mais em voga é a utilização do método para a seleção no ensino superior. Existe resistência da sociedade porque, se bem colocadas, vão abrir a possibilidade de a elite ser mais parecida com o restante do povo”.
De acordo o integrante do Ipea, os brasileiros sempre utilizaram cotas. Isso ocorre, por exemplo, quando alguém faz pós-graduação no exterior por meio de uma bolsa de estudo que conseguiu por ser latinoamericano. “Mas disso ninguém reclama.”
Para Mário, a sociedade brasileira aceita o racismo. E não faltam dados que justifiquem esse argumento: cerca de 70% dos indigentes brasileiros são negros, o desemprego é até 40% maior para negros em relação aos brancos, a escolaridade do negro é em media dois anos menor que a do branco, segundo o Ipê.
Conheça algumas pesquisas
Em Porto Alegre, a Associação Cultural de Mulheres Negras realizou abordagem quantitativa com 204 soropositivos usuários de um Serviço de Atendimento Especializado (SAE) e abordagem qualitativa com outras dez pessoas que não passam por esse serviço. Foram avaliadas principalmente questões sociais, econômicas e de acesso ao diagnóstico e tratamento do HIV/aids. Em relação à renda e escolaridade, os dados entre brancos e negros são semelhantes até o período do ensino médio incompleto. Acima desse nível escolar, há predominância de não negros tanto em relação ao grau de instrução quanto à renda maior. O estudo conclui que a discriminação vai além do fato de ser negro, pobre e viver com HIV, chegando a afetar o acesso ao diagnóstico e ao tratamento.
Pesquisa feita na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) teve resultados complementares: os negros tomam conhecimento do diagnóstico positivo para o HIV mais tarde que o branco. Ainda, enquanto o negro se descobre com o vírus da aids em situações clínicas complicadas e emergenciais, com o branco o diagnóstico é realizado por meio de serviços especializados ou particulares. O branco teria, portanto, mais acesso a informação e saúde. A pesquisa ocorreu com mil usuários dos serviços de HIV/aids da própria instituição e outras mil pessoas externas.
O I Simpósio Nacional de Saúde na População Negra e HIV/Aids é organizado pela Unicamp em parceria com o Ministério da Saúde, Programa Estadual de DST/Aids de São Paulo e Programa Municipal de DST/Aids de Campinas. O evento termina nesta sexta-feira.
Dica de Entrevista
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fonte: Irohin