Promotor fala sobre racismo contra a mãe

Kátia Susanna 

O promotor Luis Fausto Valois quebra o silêncio e se emociona ao falar do racismo sofrido pela mãe após homenagem do elenco da novela Viver a Vida

 

Com os olhos marejados e a voz embaçada o promotor Fausto Valois falou a equipe do Portal Infonet sobre o racismo sofrido pela mãe, a Juíza Luislinda Valois Santos. Filho único e pai de dois filhos, o promotor relata que um site nacional de grande audiência divulgou uma foto em que a juíza é identificada como camareira.

Na imagem a mãe do promotor está ao lado da atriz Natália do Valle. A história da juíza foi retratada pela novela Viver a Vida. De acordo com o promotor, a mãe foi uma das homenageadas pelo elenco da novela. A história de vida da juíza Luislinda, que chegou a catar mariscos para o sustento da família, emocionou o país.

O promotor lembra que o fato do site ter retratado a mãe dele como camareira, mostra o estereótipo destinado aos negros. “Não é nada contra as camareiras, tenho respeito e reconheço a importância de todas as profissões, mas o site não tomou o cuidado de checar a informação. Essa foi uma forma indelicada e grosseira de tratar a minha mãe que estava sendo homenageada pela sua história de vida”, lamenta o promotor, ressaltando que a matéria feita pelo site foi reproduzida com o mesmo erro por outros veículos.

Fausto Valois afirma que mesmo após ter entrado em contato com o site para corrigir a informação, os responsáveis não entraram em contato com a mãe. “O site colocou apenas uma correção, no entanto, o dano e o machucado já tinham sido causados. Vamos tomar todas as medidas judiciais cabíveis. A minha mãe é uma mulher muito forte, mas tive que pedir para que um cardiologista verificasse a saúde dela porque fiquei muito preocupado”, relata.

“Volto a dizer, o problema não é com a profissão de camareira, mas mostra a visão preconceituosa de que os negros não podem exercer outras funções”, conclui.

Desagravo

O promotor já enviou carta para a Secretaria da Promoção da Igualdade Racial e para a Secretaria dos Direitos Humanos, em Brasília. O caso teve grande repercussão em Salvador, aonde Luislinda atua como juíza. Varias entidades de combate ao racismo também enviaram nota de desagravo para vários veículos da imprensa.

História

A história de superação de Luislinda é comovente. A criança que teve que vencer desde cedo as barreiras do preconceito chegou a catar mariscos com os irmãos. O fato marcante foi quando aos 9 anos a juíza levou para a sala de aula um conjunto de réguas de madeira ao invés das de plástico, que eram mais usadas e também mais caras. O professor não gostou e disse que era melhor que ela fosse fazer feijoada na casa de brancos já que era pobre e não tinha condições nem para comprar o material. Luislinda saiu chorando, mas voltou dizendo que um dia seria juíza e retornaria para prendê-lo.

Forte e determinada, Luislinda é a primeira juíza negra do Brasil e foi a primeira no mundo a julgar um processo que teve por motivação um ato de discriminação racial.


http://www.infonet.com.br/noticias/ler.asp?id=98687&titulo=cidade

 

fonte: Infonet/Irohin

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