Ruth Aquino – revista ÉPOCA
O alcoolismo costuma ser associado mais aos homens – e à violência masculina. Quando o vício atinge a mulher, é um drama vivido mais em silêncio. Em discrição, no medo. Enquanto bêbados homens são folclóricos e até aceitos de maneira geral pela sociedade, as mulheres bebem em casa, sozinhas, escondidas. Elas têm vergonha. Para piorar, as mulheres sofrem mais fisicamente do que os homens, porque seu corpo tem menos água, o que dificulta a diluição dos efeitos do álcool. As mulheres que abusam do álcool têm mais problemas de memória visual, raciocínio e solução de problemas.
Estatísticas divulgadas hoje revelam que o alcoolismo feminino começa a mostrar mais a sua cara. Ou porque o vício aumentou mesmo, ou porque as mulheres estão recorrendo mais aos centros de tratamento. Reconhecer a dependência é sempre o primeiro passo para uma eventual cura. Cresceu em quase 46% o atendimento a mulheres dependentes de álcool em dois anos. O levantamento é da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo e abrange os atendimentos nos Centros de Atenção Psicossocial (Caps) no período de 2008 a 2010.
O estudo compara os dois primeiros meses de cada ano. Em 2008, o número de atendimentos nos Caps paulistas, em janeiro e fevereiro, foi de 4.235. Em 2009, esse total cresceu para 6.048 e, em 2010, para 6.169. Um aumento, portanto, de 45,66% em dois anos.
“A pesquisa evidencia um problema cada vez mais frequente na sociedade: a relação da mulher com o álcool. Muitas ainda se recusam a procurar ajuda médica, porque além de negarem o vício, o que é um traço característico de dependentes, as mulheres carregam estereótipos sociais que a fazem rechaçar qualquer possibilidade de tratamento. Por vergonha, muitas vezes”, diz Luizemir Lago, coordenadora da área de Saúde Mental da Secretaria. “O aumento de demanda gerou uma necessidade de criar um número maior de centros de apoio médico e psicológico para essas mulheres. Alcoolismo é uma doença extremamente séria e precisa ser combatida”, afirma Luizemir.
Psicólogos acompanham desde a desintoxicação até o resgate da autoestima. O índice de
reabilitação chega a 30%. Enorme porcentual das mulheres atendidas (40%) são moradoras de rua ou de albergues, mas o alcoolismo feminino cresce em todas as faixas sociais.
Passar da bebida social para a doença – de algumas taças de vinho ou copos de cerveja ou doses de uísque semanalmente para o álcool sistemático, na alegria e na dor – é algo que acontece mesmo com adultos instruídos e informados. A luz amarela se acende quando o organismo pede a bebida diariamente, para comemorar algo ou combater uma tristeza que não vai embora.
Em Viver a Vida, de Manoel Carlos, que acaba de terminar, a personagem Renata (Bárbara Paz) – na foto acima que abre este post – emocionou os telespectadores com seu vício. Renata apresentava uma das motivações mais novas para o alcoolismo: a drunkrexia, quando a pessoa bebe para não ter fome e não engordar. Já falamos dissoaqui no blog no ano passado.