Ricardo Koiti Koshimizu – Agência Senado
Ao participar de um debate no Senado na última terça-feira (4), o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, voltou a ressaltar que há uma “epidemia de cesarianas” no país. Além disso, destacou que esse procedimento cirúrgico é mais comum no setor privado que no público: a taxa de cesáreas do Sistema Único de Saúde (SUS), no qual ocorrem a maioria dos partos, foi de 30% em 2006; nos planos de saúde, a taxa naquele mesmo ano foi de 80%.
Para o ministro, se o número de cesarianas no setor público já é alto (o percentual máximo aceito pela Organização Mundial da Saúde é de 15%), o número verificado no setor privado “está fora de qualquer padrão”.
– E nós sabemos das eventuais complicações das cesarianas feitas desnecessariamente – alertou ele, referindo-se a problemas como a maior dificuldade para a recuperação da mãe, infecções pós-parto e até o risco de morte.
De acordo com estudos da Organização Mundial da Saúde (OMS), o risco de morte pode aumentar quando as mulheres são submetidas a cesáreas sem que esse procedimento seja realmente necessário.
Somando-se os partos realizados nos setores público e privado, a taxa de cesarianas no Brasil seria de aproximadamente 40%. Apesar das campanhas de incentivo ao parto normal, Temporão constata que “há uma tendência de alta das cesáreas”.
– Estamos perdendo essa guerra – lamentou.
O ministro disse que as campanhas do governo, promovidas em parceria com associações de especialistas e a mídia, enfrentam “uma questão complexa que passa pela desconstrução de uma consciência equivocada, que, por sua vez, tem levado muitas mulheres a associar o parto normal à dor e a problemas com a estética de seu corpo”.
Entre as causas da mortalidade materna no país, Temporão citou a hipertensão, hemorragias, infecções relacionadas ao parto, o aborto e doenças do aparelho circulatório complicadas pela gravidez.
Representando a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), Hélvio Bertolozzi Soares também defendeu a redução do número desses procedimentos cirúrgicos – embora argumente que as cesarianas não levem ao aumento dos índices de mortalidade materna, e sim os problemas que aparecem desde o período pré-natal. Ele observou, aliás, que muitas mortes podem ser evitadas de forma preventiva, principalmente nesse período.
– É necessário mudar o sistema de atenção ao parto, pois do contrário as operadoras de planos de saúde continuarão a aumentar o número de cesáreas – disse ele, propondo que essas operadoras atuem “em esquema de plantão, assim como no SUS”.
Ao apontar as dificuldades dos médicos para trabalhar com o parto normal, Hélvio lembrou que esses profissionais muitas vezes têm vários empregos simultaneamente.
– Como se pode trabalhar em um parto que dura dez horas, por exemplo, se o médico tiver quatro empregos? – questionou ele.
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