Na 3ª temporada, ‘Confessionário – Relatos da Casa’
é ainda mais real
Em cinco dos nove episódios, atrizes contam histórias pessoais de violências sofridas
Dor. Vergonha. Desespero. A agressão sexual vandaliza a intimidade da vítima. Transtorna a ponto de muitas optarem por não lidar mais com as lembranças e tentarem apagá-las. Já a atriz porto-alegrense Tânia Farias, 45 anos, decidiu desafiar o trauma de um estupro coletivo falando dele. A experiência será contada no episódio de estreia da 3ª temporada da websérie Confessionário – Relatos de Casa, nesta segunda-feira (29/03), no YouTube.
“O que me leva a compartilhar essa experiência é o desejo de que isso não ocorra com nenhuma outra mulher. É realmente uma experiência que te atravessa, te marca, te invade de uma maneira complexa e difícil. Mas eu acredito que contar, trocar é parte da cura”, observa a atriz, que também relata o episódio no espetáculo teatral Desmontagem Evocando os Mortos – Poéticas da Experiência, da Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz.
O relato pessoal de Tânia para o projeto, ocorreu após convite dos idealizadores e realizadores da websérie, a atriz e diretora, Deborah Finocchiaro e o cineasta, Luiz Alberto Cassol. Na obra, as atrizes interpretam histórias reais de violência doméstica e de gênero, mas os realizadores sempre deixaram em aberto a possibilidade de elas relatarem suas próprias vivências.
Os aceites começaram a vir na segunda temporada de Confessionário, quando duas das nove participantes contaram histórias pessoais. Na terceira, cinco dos nove episódios tem atrizes relatando abusos sofridos. Para Tânia, isso ajudará a tirar da invisibilidade crimes tão comuns quanto banalizados na sociedade.
“Estupros, violência contra a mulher acontecem o tempo inteiro. É muito triste e trágico que existam tão poucos mecanismos de combate a isso. O preço que a gente paga para ter uma sociedade livre da cultura do estupro é essa exposição”, diz a atriz.
Cárcere privado
Aos 61 anos, a atriz Suzete Martinez reconhece que revelar publicamente o relacionamento abusivo não foi uma decisão fácil.
“Até o último segundo eu não sabia se eu ia colocar um nome no personagem ou se eu ia admitir que estava falando sobre mim. Aí, no fim, pensei; ‘É preciso falar’ A gente está vivendo um momento muito
perigoso para a mulher. Como vivi cárcere privado, achei que era muito importante mostrar que a violência doméstica tem cara e nome. Porque em uma linguagem de vídeo ou de teatro, quando uma pessoa está vivendo um personagem as pessoas tendem, mesmo inconscientemente, a achar que é ficção mesmo que a história seja real”, analisa.
Suzete casou-se, apaixonada, aos 16 anos, e deixou a Santana do Livramento natal para viver com seu amor em Porto Alegre. A cidade grande e o ciúme doentio do seu companheiro, porém, revelaram-se uma prisão triste, dolorosa e solitária. Mas ela crê que as mulheres de hoje têm mais condições de reagir.
“Eu apanhei na rua, no meu prédio, na minha porta. Nunca ninguém foi me resgatar. Hoje, se alguém ouve um ato de violência tem de ajudar. É obrigação de nós mulheres, de quem é resistência, denunciar”, afirma a atriz.
Violência na pandemia
A primeira temporada de Confessionário estreou em agosto de 2020, quando estatísticas já apontavam que o confinamento gerado pela pandemia elevara os índices de violência doméstica no país.
Em 2020, o Ligue 180 e o Disque 100 – canais para denúncia de violações de direitos humanos do governo federal – receberam 105.821 queixas de violência doméstica. Em média, 290 casos por dia.
A ideia do projeto, segundo Deborah, é estimular as mulheres a se livrarem da culpa e do medo e a denunciar os agressores. Ao fim da maioria dos episódios, a advogada Gabriela Ribeiro de Souza, especialista em direitos da mulher, presta informações sobre tipos de violência, formas de denunciar entre outras informações úteis.
A pandemia também determinou a forma com que a websérie seria produzida: à distância. Diretores, atrizes e equipe técnica trabalham cada um de suas casas e as dificuldades inerentes ao uso da internet acabam sendo admitidas como linguagem audiovisual.
“Gravamos de forma remota, assumindo as oscilações da internet, pois buscamos gravar o real e a verdade de cada atriz em seus episódios”, diz o cineasta Luiz Alberto Cassol, codiretor da websérie.
A terceira temporada de Confessionário – Relatos de Casa é realizada com recursos da Lei nº 14.017/2020 – Aldir Blanc.
CONFESSIONÁRIO – RELATOS DE CASA
Quando: segundas e quintas-feiras, às 19h, no Canal do Confessionário no YouTube
(www.youtube.com/confessionario ) e terças e sextas-feiras, 19h, no IGTV Instagram (www.instagram.com/confessionariorelatosdecasa/channel) e Facebook (www.facebook.com/confessionariorelatosdecasa/)
FICHA TÉCNICA – 3ª temporada
Criação, Direção e Roteiro: Deborah Finocchiaro e Luiz Alberto Cassol
Textos: Adaptação coletiva a partir de relatos de Gabriela Souza e outras histórias
Preparação de Elenco: Deborah Finocchiaro
Elenco: Alice Ribeiro, Andrea Cavalheiro, Denizeli Cardoso, Juçara Gaspar, Kaya Rodrigues, Manuela do Monte, Mariana Abreu Marmontel, Suzete Castro Martinez e Tânia Farias
Direção de Fotografia: Freddy Paz
Direção de Produção: Amanda Gatti e Freddy Paz
Montagem e Desenho de Som: Leonardo Cappelatti
Trilha Sonora: Laura Finocchiaro
Design Gráfico: Luciano Ribas
Vinheta: Victor Teixeira dos Santos
Recursos de Acessibilidade: Audiodescrição – Marilaine Castro da Costa e Felipe Mianes | Legendas em Português – Marilaine Castro da Costa |Tradução e Legendas em Inglês: Pedro Mendes |LIBRAS – Simone Dornelles
Assessoria de imprensa: Padrinho Agência de Conteúdo
Social Media: Gabriela Rhoden Tellini
Assistência Técnica Lives: Debora Bregalda
Assessoria Jurídica: Gabriela Souza – Advocacia para Mulheres
Elaboração de Projeto: Companhia de Solos & Bem Acompanhados e Amanda Gatti
Administração do Projeto: Elisete Idalgo
Assessoria Contábil: Carlos Augusto Fleig
Consultoria Astrológica: Amanda Costa
Assistência de Produção: Gabrielle Gazapina Guimarães
Produção Executiva: Amanda Gatti e Deborah Finocchiaro
Coordenação Geral: Deborah Finocchiaro
Apoio: Rádio Univates FM, Rádio FM Cultura, Rádio União FM, Rádio Band News FM, Rede Estação Democracia e Coordenadoria Estadual da Mulher em Situação de Violência Doméstica (Cevid)
Realização e Produção: Companhia de Solos & Bem Acompanhados e Filmes de Junho
Projeto realizado com recursos da Lei nº 14.017/2020 – EDITAL SEDAC – Produções Culturais e Artísticas – Lei Aldir Blanc.
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