Por Gabriela Falcão*
No dia 15 deste mês, aconteceu na Câmara dos Deputados o evento que se somou na mesma semana às Marchas das Mulheres Indígenas e das Margaridas na luta pelos direitos das mulheres no Brasil. Foi lançada a Frente Parlamentar Feminista Antirracista com Participação Popular, coordenada por Talíria Petrone, jovem negra, periférica, deputada federal pelo PSOL do Rio de Janeiro. Estiveram presentes representações de diversas organizações que compõem a coordenação e que apoiaram o processo de construção da Frente, que se identifica com as lutas antirracistas e é contra as violações das mulheres indígenas. Schuma Schumaher, da Articulação de Mulheres Brasileiras, enfatiza que não basta ser feminista, é preciso que seja feminista antirracista. Sobre isso, Erika Kokay reitera que: “As mulheres negras são as maiores vítimas de feminicídio e os jovens negros são os que enfrentam todos os dias o extermínio de toda uma geração e que estão lotando os presídios, os navios negreiros da pós-modernidade”.
A coordenação compartilhada é composta por mais cinco deputadas: Alice Portugal (PCdoB-BA) , Lídice da Mata (PSB/BA), Tereza Nelma (PSDB/AL), Erika Kokay (PT/DF) e Joenia Wapichana Joênia (Rede/RR), primeira indígena a ser eleita para este cargo no Congresso Nacional. Fazem parte também seis organizações da sociedade civil: Articulação de Mulheres Brasileiras (AMB), Articulação de Mulheres Negras Brasileiras (AMNB), Marcha Mundial das Mulheres (MMM), Movimento de Mulheres Camponesas (MMC), Rede Nacional de Feministas Antiproibicionistas (Renfa) e Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB).
Estiveram presentes diversos parlamentares e ativistas ligadas a outros movimentos que apoiam a iniciativa da Frente. Para Áurea Carolina, deputada federal pelo PSOL-MG, a Frente pode ser conectar em rede com vários coletivos e movimentos que já estão atuando no Brasil e as parlamentares feministas antirracistas que fazem essa luta no âmbito da institucionalidade precisam desse suporte da sociedade. Talíria Petrone reitera que o espaço institucional é pouco representativo da maioria do povo negro, especialmente, das negras. “Eu acho que as pautas que envolvem a maioria das mulheres que estejam colocadas aqui como momento de avanço do fundamentalismo religioso, de avanço de um setor reacionário que quer avançar sobre nossos corpos, é muito importante uma Frente que conecte deputadas com movimentos, deputadas com os territórios, deputadas feministas com os territórios para lutar pela nossa liberdade de existir”.
A sessão foi encerrada com dizeres: “Marielle vive, Marielle viverá, mulheres negras não param de lutar”, “Antirracismo é revolução” “Feministas contra o machismo, feministas contra o capital, feministas contra o racismo, contra o terrorismo neoliberal”, “Vai avançar o feminismo popular”.
Segundo Nathália Diórgenes, militante da Marcha Mundial das Mulheres, esse lançamento vem num processo em que o Congresso está contaminado pelo conservadorismo e é um momento de mostrar a força do movimento feminista. Numa perspectiva semelhante, Schuma Schumaher analisa que: “Eu acho que a gente pode burlar esse cerco, que a gente pode ficar mais forte para resistência. E, no mínimo, se a gente não conseguir avançar nesse Congresso fundamentalista, conservador, nós seremos a resistência para que nenhum passo atrás seja dado”.
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* Gabriela Falcão é jornalista e integra a Articulação de Mulheres Brasileiras. Este texto faz parte de cobertura colaborativa realizada pela Coletiva de Comunicação da Articulação de Mulheres Brasileiras (AMB), em parceria com Universidade Livre Feminista (ULF) e Blogueiras Feministas, organizada especialmente para cobrir a Marcha das Mulheres Indígenas, a Marcha das Margaridas e o lançamento da Frente Parlamentar Feminista Antirracista com Participação Popular.
Expediente: Coordenação Geral: Cris Cavalcanti (PE); Texto: Fran Ribeiro (PE), Gabriela Falcão (PE), Carmen Silva (PE); Laura Molinari (RJ), Carolina Coelho (RJ), Raquel Ribeiro (RJ), Angela Freitas (RJ), Rosa Maria Mattos (RJ), Milena Argenta (DF) e Priscilla Britto (DF); Fotos: Carolina Coelho (RJ) Fran Ribeiro (PE); Vídeo: Débora Guaraná (PE), Milena Argenta (DF) e Cris Cavalcanti (PE); Edição: Coletivo Motim; Diagramação: Débora Guaraná (PE), Bibi Serpa (RJ), Cris Cavalcanti (PE) Sites e Redes Sociais: Cristina Lima (PB), Thayz Athayde (CE), Cris Cavalcanti (PE), Analba Brazão (PE); Produção: Mayra Medeiros (PE) e Masra Abreu (DF).