Marcha das Mulheres Indígenas e Marcha das Margaridas foram seguidas do lançamento da Frente Parlamentar Feminista Antirracista
Por Gabriela Falcão*
Entre os dias 09 e 15 de agosto, aconteceram na capital brasileira três expressivos momentos de luta e resistência das mulheres: as 1ª Marcha das Mulheres Indígenas, a 6ª Marcha das Margaridas e o lançamento da Frente Parlamentar Feminista Antirracista com Participação Popular, no Congresso Nacional. A primeira levou a Brasília mais de 2 mil mulheres, de 113 povos distintos e de 25 estados. Começou no Dia Internacional dos Povos Indígenas – 09 de agosto – e foi marcada por uma série de atividades que expressam a sua luta, tais como: contra a mineração em terras indígenas, o Fórum Nacional das Mulheres Indígenas, em defesa da saúde indígena e audiência no Supremo Tribunal Federal.
Na segunda-feira (12), centenas de manifestantes ocuparam a Secretaria Especial da Saúde Indígena (Sesai) em defesa política de saúde específica e diferenciada, contra o desmonte do subsistemade saúde, contra a municipalização da saúde indígena e pela saída da coordenadora da saúde da pasta Silvia Nobre Wajãpi, nomeada pelo governo federal em abril deste ano. A liderança Sonia Guajajara afirma que, apesar de a coordenadora se apresentar como indígena, não está a favor do seu povo, mas sim do governo e reitera que seguem em luta por uma saúde que possa atender os povos de forma adequada, respeitando a Constituição Federal. “As coisas que o governo são vistas como uma forma de presente, mas na verdade não é um presente, é um direito que a gente, nossos pais, nossos tios, nossas mães brigaram para a gente ter e eu queria muito que as mulheres conhecessem essa luta e elas estão sentindo na pele essa emoção de encontrar várias parentes falando dos mesmos problemas e entrar aqui e ocupar esse espaço que é nosso é uma coisa inédita”, afirma Watatakalu Yawalapiti, da coordenação de mulheres da Associação Terra Indígena Xingu (ATIX).
No dia 13, a partir do lema “Território: nosso corpo, nosso espírito” mais de 2500 mulheres saíram em marcha do Complexo Cultural Funarte em direção ao Congresso Nacional. Para Luisa Canuto, da etnia Tabajara, que saiu do Ceará: “A partir do nosso corpo, nós exigimos respeito, nós precisamos de respeito. Para nós termos saúde de qualidade, é preciso que nós tenhamos acesso a nossa terra para nós produzirmos alimento de qualidade, para nós termos acesso à água e, também, através da terra nós termos acesso às políticas públicas que venham complementar toda essa riqueza natural que é dada pelo nosso pai Tupã. Então, a nossa luta principal é a gente ter a nossa terra demarcada para nós podermos dizer que somos mulheres dignas”.
As ações que marcaram a 1ª Marcha das Mulheres Indígenas tiveram continuidade com a 6ª Marcha das Margaridas. Ao falar de como as duas marchas estão conectadas, Sonia Guajajara afirma que: “Certeza que somos nós, mulheres, que vamos estar sempre nessa linha de frente contra tudo o que nos oprime, contra todas as injustiças, lutando e dizendo que machismo, violência não é cultural e nós estamos aqui, enquanto mulheres indígenas, para marcar essa força e essa posição de que nós seguimos na luta em defesa dos nossos territórios, da mãe terra, não só por direito, mas pela garantia das nossas vidas”. Com mais de 100 mil pessoas, Brasília amanheceu florida na quarta-feira (14), na maior ação de mulheres da América Latina. A partir do lema “Por um Brasil com soberania popular, democracia, justiça e livre de violência”, mulheres de diversas partes do país foram à Brasília expressar suas reivindicações e denúncias diante de uma série de violações de direitos e de ameaças a programas e políticas públicas. São mulheres das cidades que se juntam às do campo, das águas e das florestas para homenagear Margarida Alves, líder sindical paraibana assassinada em 1983 por conta dos latifúndios. Centenas de ônibus levaram as milhares de pessoas já no dia 13 ao Pavilhão do Parque da Cidade, onde aconteceram diversas atividades – rodas de diálogo, oficinas, shows – em preparação à Marcha. No dia 14, já às 6h, podiam-se ver milhares de pessoas posicionadas com suas bandeiras para saírem em direção à Esplanada dos Ministérios.
“Eu acho que essa semana teve o significado de reforçar a autoconfiança das militantes de que somos capazes, temos força, podemos mobilizar, que a gente é capaz de aguentar tudo, atravessar as dificuldades e fazer acontecer. Isso é fundamental para continuar na luta”, avalia a ativista da Articulação de Mulheres Brasileiras, Silvia Camurça.A integrante da Marcha Mundial das Mulheres, Nathália Diórgenes reitera essa perspectiva, colocando que: “Foi grandioso, a gente conseguiu realmente tomar o Eixo Monumental, então, eu avalio como muito positivo e de muito engajamento e é uma construção nossa. Mostra que, dentro de um contexto de conservadorismo e criminalização da organização política, a gente consegue se organizar, se reorganizar, se afinar e estarmos aí em marcha nesse momento”. As colocações das feministas estão relacionadas também ao lançamento da Frente Feminista Antirracista com Participação Popular, que aconteceu no dia 15 no Congresso Nacional.
Liderada por Talíria Petrone, parlamentar eleita PSOL do Rio de Janeiro, a Frente é composta por seis deputadas federais e seis organizações da sociedade civil (AMB, AMNB, MMC, Renfa e Apib). Para Áurea Carolina, deputada federal por Minas Gerais, “Atuar aqui significa enfrentar no parlamento os ataques que nós estamos sofrendo nessa conjuntura terrível de retrocessos, retirada de direitos. As parlamentares que estão fazendo essa luta dentro da institucionalidade precisam desse suporte dos movimentos sociais e a gente também daqui tem muito como colaborar”. Ela reitera que é uma forma de mostrar que não estão sozinhas e que, junto delas, estão milhares de Margaridas, mulheres indígenas, negras e diversas outras. É o que também relata Elzanira da Silva, integrante do Fórum de Mulheres de Pernambuco, “Nós saímos daqui fortalecidas, vendo mulheres de todas as regiões e territórios afirmando que somos capazes, que mulheres negras têm o seu espaço e o seu lugar”. No lançamento, estavam várias mulheres que também participarem das Marchas das Indígenas e das Margaridas e foi a finalização do que pode ser considerada uma semana histórica para luta desses sujeitos no contexto atual.
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* Gabriela Falcão é jornalista e integra a Articulação de Mulheres Brasileiras. Este texto faz parte de cobertura colaborativa realizada pela Coletiva de Comunicação da Articulação de Mulheres Brasileiras (AMB), em parceria com Universidade Livre Feminista (ULF) e Blogueiras Feministas, organizada especialmente para cobrir a Marcha das Mulheres Indígenas, a Marcha das Margaridas e o lançamento da Frente Parlamentar Feminista Antirracista com Participação Popular.
Expediente: Coordenação Geral: Cris Cavalcanti (PE); Texto: Fran Ribeiro (PE), Gabriela Falcão (PE), Carmen Silva (PE); Laura Molinari (RJ), Carolina Coelho (RJ), Raquel Ribeiro (RJ), Angela Freitas (RJ), Rosa Maria Mattos (RJ), Milena Argenta (DF) e Priscilla Britto (DF); Fotos: Carolina Coelho (RJ) Fran Ribeiro (PE); Vídeo: Débora Guaraná (PE), Milena Argenta (DF) e Cris Cavalcanti (PE); Edição: Coletivo Motim; Diagramação: Débora Guaraná (PE), Bibi Serpa (RJ), Cris Cavalcanti (PE) Sites e Redes Sociais: Cristina Lima (PB), Thayz Athayde (CE), Cris Cavalcanti (PE), Analba Brazão (PE); Produção: Mayra Medeiros (PE) e Masra Abreu (DF).