Na ação, a premiada artista tatua na escritora feminista a flor-vagina que grafitou em um muro em Sorocaba e foi apagada após polêmica com vereador
No fim de 2017, ano em que foi eleita rainha do graffiti brasileiro pela CNN, Panmela Castro teve seu mural apagado do muro do Palacete Scarpa, sede da Secretaria de Cultura e Turismo de Sorocaba (SP). Criada para a 2ª edição de Frestas – Trienal de Artes do Sesc, a pintura continha dois rostos femininos ligados por uma flor-vagina e sofreu ataques do vereador Pastor Luis Santos, sob alegação de que o desenho causava repúdio e vergonha à população, especialmente às mulheres.
Em reação à violência contra o seu trabalho, Panmela Castro se une à escritora Clara Averbuck para uma performance inédita realizada no dia 1º de setembro, a partir das 19h, na galeria A7MA, espaço dedicado à street art localizado na Vila Madalena, em São Paulo.
“A ação é uma resposta à censura que as artes têm passado nos últimos tempos, ao conservadorismo político no Brasil e no mundo, ao machismo, à misoginia e ao patriarcado. É um posicionamento radical que nos impomos como seres livres e autônomos. Uma forma de falar que não aceitamos a perda dos nossos direitos e retrocessos”, explica Panmela.
A performance
A ideia é multiplicar as vaginas como símbolo de poder, e, para isso, a iniciativa será dividida em duas partes. Em um primeiro momento, Panmela vai tatuar em Clara a imagem do polêmico graffiti. Depois, o público será convidado a tatuar as pequenas flores-vaginas criadas pela artista. Enquanto isso, serão exibidos em loop dois vídeos intercalados: a 48o Sessão ordinária de 10/08/2017 da Câmara dos Municipal de Sorocaba, em que o vereador discursa contra o graffiti (assista aqui) e o videoclipe da rapper carioca Ainá BNSC, “Bucetada Na Sua Cara” (assista aqui), considerado como uma resposta irônica.
Para Clara, a tatuagem é também uma forma de continuar usando seu corpo como uma ferramenta política. “O corpo de toda mulher é político, e digo mais: tudo se torna político quando você é uma mulher ou uma pessoa não binária ou trans. Quero fazer refletir essa questão da misoginia e da censura e sobre a celeuma que é criado quando um órgão sexual associado ao corpo feminino vira centro de uma obra em um mundo falocêntrico”, defende.
Na ocasião, também haverá o lançamento de uma gravura criada a partir da imagem do graffiti de Sorocaba e produzida pela FullHouse Prints. Cada ilustração terá o tamanho 60 X 40, em série de 100, e poderá ser adquiridas na galeria pelo valor inicial de R$400.
A performance integra a série “Femme Maison”, inspirada nos trabalhos da artista francesa Louise Bourgeois, criados em 1946-47, que questionam a identidade feminina.
Parceria poderosa
Panmela Castro e Clara Averbuck se conheceram durante a gravação de um programa sobre feminismo e violência contra a mulher. Naquele dia, a artista plástica pediu para entrevistar e fotografar a escritora, tornando-a uma referência para os seus grafittis de mulheres.
A parceria entre as duas gerou outros frutos. Em 2017, para a segunda edição de Frestas – Trienal de Artes do Sesc em 2017, Panmela criou a performance “Femme Maison”, em que a escritora foi madrinha. Na ação, as duas entram no espaço expositivo dividindo um pomposo vestido siamês de veludo e caminham até uma casa de bonecas gigante decorada apenas com objetos de cor rosa. O público, então, é convidado para entrar no espaço e contar uma história para as inusitadas ouvintes.
Sobre Panmela Castro
Mestre em Processos Artísticos Contemporâneos pela Universidade do Estado Rio de Janeiro (UERJ) e bacharel em Pintura pela Escola de Belas Artes da Universidade do Rio de Janeiro (UFRJ), Panmela Castro (Rio de Janeiro, 1981) é brasileira, artista visual e ativista dos direitos humanos.
Desenvolve sua pesquisa artística em diversas linguagens, como performances, fotos, objetos, instalações e vídeos, tendo como temas o corpo, o gênero e a identidade. Como artista de rua, já realizou pinturas em mais de dez países, em cidades como Rio de Janeiro e São Paulo, no Brasil; Cochabamba, na Bolívia; Valparaíso e Santiago, no Chile; Bogotá, na Colômbia; Nova York, Washington e Miami, nos Estados Unidos; Toronto, no Canadá; Paris, na França; Berlim, na Alemanha; Praga, na República Checa; Amsterdã, na Holanda; Viena, na Áustria; Istambul, na Turquia; Jerusalém e Tel Aviv em Israel; e Abu Dhabi, nos Emirados Árabes.
Expôs em espaços de arte como o Museu de Escultura Brasileiro (MUBE), Museu da República, Museu do Bispo Rosário Arte Contemporânea e o Museu de Street Art de Berlin Urban Nation; e possui obras no acervo do Banco Interamericano de Cultura (BID), em Washington D.C, e na Câmara dos Deputados, em Brasília. Em 2017, participou da 2ª edição de Frestas – Trienal de Artes do Sesc, em Sorocaba (SP), a convite da curadora Daniela Labra.
Recebeu o prêmio Hutuz (CUFA) de Grafiteira do Ano (Rio de Janeiro, 2007) e da Década (Rio de Janeiro, 2009); Vital Voices Global Leadership Awards na categoria de Direitos Humanos (Washington DC, 2010); e DVF Awards (Nova York, 2012). Também foi indicada ao prêmio Claudia na categoria Cultura (2016) e ao prêmio Empreendedor Social da Folha de São Paulo 92015). Foi citada pela prestigiada revista norte-americana Newsweek como uma das 150 mulheres que estão abalando o mundo (2012), pela norte-americana W Magazine na lista dos novos ativistas que fazem a diferença no mundo (2017) e pela CNN como rainha do graffiti brasileiro (2017) e como Young Global Leaders do World Economic Forum.
Em 2010 fundou a Rede NAMI, organização que forma lideranças negras nas artes urbanas e é realiza oficinas com o objetivo de promover os direitos das mulheres, em essencial, pelo fim da violência contra a mulher.
Sobre Clara Averbuck
Clara Averbuck é escritora e foi uma das pioneiras da blogosfera no Brasil, com o blog brazileira!preta, de 2001. Tem sete livros publicados (Máquina de Pinball, 2002; Das Coisas Esquecidas Atrás da Estante, 2003; Vida de Gato, 2004; Nossa Senhora da Pequena Morte, 2008; Cidade Grande no Escuro, 2012; Eu Quero Ser Eu, 2014; e Toureando o Diabo (2016). Já teve sua obra adaptada para cinema e teatro, colaborou com incontáveis jornais, revistas e portais e é uma das criadoras do site Lugar de Mulher.
Sobre a galeria A7MA
Fundada em 2012, por Enivo, Jerry Batista, Tché Ruggi, Cristiano Kana e Alexandre Enokawa. A A7MA representa a união de duas casas artísticas: o Coletivo 132 e a Fullhouse. Com mais de 100 m² de arte, o repertório cultural da galeria já tem mais de 30 exposições em seu catálogo e um acervo variado obras e é considerada um dos principais espaços na cidade, interessado exclusivamente pela arte de rua.
SERVIÇO
Performance Femme Maison – Parte II, com Panmela Castro e Clara Averbuck
Galeria A7MA – Rua Harmonia 95b, Vila Madalena
Data: 1º de setembro, a partir das 19h
Entrada: gratuita