Documentário “She’s beautiful when she’s angry” fala do movimento feminista americano dos anos 60 e 70.

Durante as mamadas da Iara, assisti, no Netflix, o documentário “She’s beautiful when she’s angry”, que apresenta a criação e a evolução do movimento feminista americano dos anos 60 e 70.

Há uma série de entrevistas com mulheres importantes para a condução de várias causas e lutas e como elas inspiraram toda uma geração. Além de questões como a igualdade de cargos e salários, e a legalização do aborto, me chamou a atenção a reivindicação por uma política de criação de creches e como essa ação, que aparentemente pode ser simples e sem grandes impactos, é na verdade um instrumento decisivo para a emancipação da mulher e uma oportunidade concreta de tempo para a luta.

Um outro ponto interessante foi o trabalho realizado por um grupo de feministas, que durante seus encontros, começaram a se questionar sobre orgasmo e perceberam que a grande maioria nunca havia sentido prazer durante uma relação sexual. A perplexidade foi tão grande que formaram grupos de estudos sobre anatomia feminina, masturbação, saúde da mulher, gravidez, maternidade… questionaram conceitos, desenvolveram várias técnicas e lançaram um livro que fez um baita sucesso com milhões de exemplares vendidos.

Há também, por todo o filme, relatos de homens achando um absurdo tudo isso… As mulheres já têm tantos benefícios… não precisam trabalhar, sustentar uma família, ganhar dinheiro… são tratadas com toda a etiqueta e ainda por cima podem ser representadas por seus pais, irmãos, maridos. Diante de tanta facilidade, o que podem querer mais? Por que e para que lutar?

Nessa toada, recomendo por demais o livro da Margareth Rago, “A aventura de contar-se – feminismos , escrita de si e invenções da subjetividade”, que apresenta narrativas autobiográficas de sete feministas brasileiras. A cadência do texto é impressionante… é uma cartografia de memórias e experiências de cada uma dessas mulheres, passando pelo contexto histórico, pelas transformações políticas e a desconstrução de uma cultura falocêntrica. É revelado um passado praticamente ignorado, onde elas foram e são tão importantes para o feminismo, para a luta contra a ditadura e tantas outras questões.

Taí um filme e um livro regados à leite materno e que só nos ajuda a crescer fortes e saudáveis!

Maria Carolina Machado é feminista, colaboradora da Universidade Livre Feminista e criadora do MAMU – Mapa de Coletivos de Mulheres.