III EFLAC: Bertioga, Brasil (1985)

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Do Encontro realizado de 31 de julho a 4 de agosto, participaram cerca de 840 feministas. Na programação, as atividades de discussão passaram a ser simultâneas e reduziu-se o número de plenárias. Uma comissão Organizadora autônoma se propôs a preparar o Encontro mediante um processo participativo. Através de um formulário de pré-inscrição, as feministas foram peguntadas sobre quais temas tinham interesse. Apesar disso, a taxa de inscrição de 60 dólares era um impeditivo à participação de muitas mulheres.

Segundo Sonia Alvarez e outras:

“As dificuldades em construir pontes entre diferentes expressões do movimento de mulheres e feministas – marcadas pelas imensas desigualdades estruturais e diferenças políticas – vieram claramente à tona no Terceiro Encontro em Bertioga, Brasil (1985), quando um grupo de mulheres de uma favela do Rio de Janeiro chegou em um ônibus, pedindo para poder participar, apesar de não ter condições de pagar a taxa de inscrição. Mesmo com um número significativo de mulheres negras e pobres já participando, a crise persistente do feminismo com relação à inclusão e exclusão literalmente se estacionou na porta desse Encontro. As organizadoras brasileiras haviam de fato assegurado várias bolsas para possibilitar a participação de mulheres pobres, e muitas participantes suspeitaram que o incidente do ônibus foi orquestrado por partidos políticos em uma tentativa de desacreditar o feminismo. De qualquer forma, muitas das participantes, especialmente militantes do então emergente movimento de mulheres negras, insistiram que as questões de raça e classe não ocupavam um lugar central na agenda do Encontro e que as mulheres negras e pobres não haviam tido uma participação significativa na elaboração dessa agenda. Obviamente, as desigualdades de raça e classe dificilmente são resolvidas com a simples ‘inclusão’ de mulheres de classe trabalhadora e não-brancas nos ‘ranks’ do feminismo. […] o movimento continua a lutar [até hoje] com as maneiras com que os privilégios de classe, raça e de orientação sexual hetero estruturaram as relações de poder entre as mulheres na sociedade e dentro do próprio feminismo”.

Os debates giraram em torno do caráter de movimento social e político do feminismo. Pela primeira vez em um encontro se fez alusão a “feminismos”, no plural, numa tentativa de abarcar as diferenças internas e reconhecer as diferentes perspectivas feministas. Temas como “nossos feminismo”, “vida cotidiana”, “racismo”, “relações entre mulheres”, “aborto” foram debatidos em atividades um pouco mais flexíveis, autogestionadas e com mais testemunhos do que resoluções. A mudança foi bem recebida por uma parte das participantes, embora outras tenham criticado a falta de discussão sobre estratégias comuns aos movimentos na América Latina.

Referências:

ENCUENTROS FEMINISTAS LATINOAMERICANOS Y DEL CARIBE: APUNTES PARA UNA HISTORIA EN MOVIMIENTO, de Alejandra Restrepo e Ximena Bustamante.

Encontrando os Feminismos Latinoamericanos e Caribenhos, de Sonia Alvarez e outras.

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