Entre os dias 22 e 25 de novembro aconteceu o 13º Encontro Feministas Latinoamericano e do Caribe na cidade de Lima, capital do Peru. O último encontro havia acontecido em 2011, em Bogotá, Colômbia. No ano de 2011 as feministas latinoamericanas e caribenhas comemoraram 30 anos de história dessa mobilização que reúne feministas de diversos países. É importante ressaltar a importância de um encontro como esse, pois é um dos poucos espaços de debate voltados à realidade do feminismo latino e caribenho, além de promover uma grande troca de experiências e discussões sobre agendas políticas do movimento.
Nesse ano, a convocação para as feministas da região veio logo no título do manifesto “Pela liberação dos nossos corpos”. Grandes debates foram incitados dentro tema, especialmente no que se refere à noção de corpo e territorialidade, temas que apareceram diversas vezes assim, intimamente interligados. É um tema caro para muitas feministas peruanas, reflexão que parte da grande população indígena que ocupa o país. As retiradas violentas das terras indígenas no Peru deram o tom dos discursos das feministas indígenas: o território é nosso, o corpo também. Para elas, defender suas terras, seu povo, seus direitos, também passa por defender os seus próprios corpos, ter liberdade sobre ele, sobre sua sexualidade, sobre seus orgasmos. E com esse olhar, o tema se expandiu, revelando uma grande diversidade de territórios pelos quais lutamos.
Como sintetizado na declaração final do Encontro, “as reflexões sobre corpo-território nos revelam uma variedade de territórios – corpos desde onde se constroem discurso e prática feminista, mostrando que a defesa dos nossos corpos como sujeitos políticos portadores de direitos e da defesa dos nossos territórios como espaço da vida material, cultural, histórica e simbólica é uma luta central em nossos feminismos”
O encontro estava estruturado da seguinte forma: pela manhã acontecia um grande debate voltado ao tema do encontro e com convidadas de vários países, seguido de plenárias e subplenárias, no auditório principal. Durante a tarde, aconteciam os encontros autogestionados, com feministas de diferentes países sobre temas diversos, propostos livremente. A intenção das atividades que ocorriam a tarde era de uma troca de ideias e experiências sobre a militância da sua região, ou ainda sobre lutas como transfeminismo e feminismo negro.
Algumas das atividades ganharam destaque, como a mesa sobre ciberativismo e segurança, do grupo Dominemos la tecnología, que reuniu muitas mulheres interessadas em se proteger na rede, onde, segundo Florência Goldsman, uma das integrantes da organização, estamos também expostas a violência de todos os tipos. Outro destaque foi a atividade “Aquerella Juevens Feministas” (Aquarela Jovens Feministas) que, através do seu manifesto escrito durante 3 dias antes do encontro, levantou questões importantes sobre os sujeitos dos feminismos, privilégios e o debate sobre o transfeminismo e seus sujeitos.
Oficinas e outros tipos de atividades também tiveram espaço no EFLAC, conquistando a atenção e renovando as energias das participantes: ministrada pelo Coletivo Autônomo Feminista Leila Diniz, a oficina autogestionada de serigrafia deu o toque brasileiro ao encontro, começando com funks empoderadores e terminando com composições artísticas feitas em tecidos e papel, usando técnicas de impressão serigráficas outras.
Já em outro lugar, via-se muitas mulheres reunidas falando de ancestralidade, poder e a ciência das plantas. Essa atividade em especial teve uma estratégia curiosa: exalava um aroma de incenso e por isso atraia muitas mulheres. Dentre os temas estavam a espiritualidade dos ancestrais, o autocuidado e relação das mulheres com os territórios.
Outro marco importante foi a reunião autogestionada das mulheres afrodescendentes que estavam no encontro e questionaram a sua invisibilidade e de suas pautas nas atividades e calendário oficial. Essas mulheres se reuniram para avaliar sua participação no Encontro e juntas organizaram um ato que marcou e emocionou todas as feministas presente.
No dia 24, durante a plenária principal logo após a fala da brasileira Betânia Ávila, as mulheres afrodescendentes ocuparam o palco e tomadas de um sentimento de força, recitaram juntas o poema da peruana Victoria Santa Cruz “Me Gritaron Negra”. Logo em seguida, o Manifesto “Mujeres Afrodescendientes: presencia y palabra” (Mulheres Afrodescendentes: Presença e Palavra) foi lido, e dizia: “Exigimos que no próximo país sede e nos seguintes encontros se cumpra o critério mencionado anteriormente, garantindo a participação de Mulheres Negras no grupo impulsor e organizador de maneira que não seja improvisada ou a preencher espaços vazios, mas sim agendada, planejada, monitorada e antecipada.”
No dia 25 de novembro, dia internacional de luta pelo fim da violência contra as mulheres, as feministas tomaram as ruas de Lima, num lindo ato de encerramento do Encontro. Os gritos que seguiram a marcha falavam, de uma forma geral, de violência contra a mulher, legalização do aborto e racismo. Entre eles, o grito que destacou-se entre as feministas latinas e caribenhas dizia “Alerta, alerta que camina la lucha feminista por América Latina”. A marcha foi finalizada na praça San Martin, sendo ocupada por centenas de feministas da América Latina e Caribe.
Após uma votação na plenária final do encontro com as feministas presentes, ficou decidido que o próximo Encontro Feminista Latinoamericano e do Caribe acontecerá no Uruguai nos próximos anos. As uruguaias prometeram construir um encontro em conjunto com os vários feminismos, tratando da diversidade política da luta feminista. Agora que você conhece um pouco sobre o encontro, já pode se programar para juntar-se a nós no Uruguai em 2016, que tal? Vamos gritar juntas que a América Latina será toda feminista!