Comissão para investigar violência contra mulheres em trote da Agronomia (UnB) inicia trabalhos na próxima semana

Erica Montenegro e João Paulo Vicente – Da Secretaria de Comunicação da UnB

Integrantes terão 30 dias para entregar relatório sobre o comportamento dos estudantes que aplicaram o trote da linguiça

 

A primeira reunião da comissão que vai apurar o comportamento dos alunos envolvidos no trote da Agronomia será realizada na próxima semana. Os três integrantes da comissão são Valcir Gassen, professor da Faculdade de Direito, Simone Perecmanis, professora da Faculdade de Agronomia e Veterinária, e Ana Paula Schwelm Gonçalves, Ouvidora da Secretaria de Políticas para a Mulher.

A comissão foi criada pelo reitor José Geraldo de Sousa Junior depois que fotos de calouras lambendo uma linguiça lambuzada de leite condensado provocaram um pedido de explicações feito pela Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres.

De acordo com o ato da reitoria que instituiu a comissão, os trabalhos devem ser encerrados em 30 dias corridos, com a possibilidade de serem prorrogados por mais 30 dias. “A comunidade considerou o trote uma ofensa ao ambiente universitário, por isso a comissão foi instituída”, afirmou o professor Valcir Gassen, que presidirá os trabalhos.

A primeira tarefa da comissão será identificar as pessoas que participaram do trote a partir de vídeos e fotografias. Em seguida, os integrantes ouvirão calouros e veteranos sobre os fatos. Depois de concluir quais estudantes organizaram e aplicaram o trote, a comissão irá convocá-los para que façam suas defesas. Por último, os três integrantes da comissão decidirão sobre quais punições serão aplicadas.

PUNIÇÃO – O julgamento será feito de acordo com os regimentos da Universidade de Brasília e da Faculdade de Agronomia e Veterinária. Nesses documentos, as punições previstas para atos contrários à convivência universitária são advertência, suspensão e expulsão. Segundo o presidente da comissão, o relatório deve apontar diferentes níveis de responsabilidades. “Faremos um trabalho cuidadoso para que as punições sejam proporcionais ao nível de participação da cada estudante”, afirmou Valcir Gassen.

Simone Perecmanis, professora da FAV, que participará da comissão, é contrária aos trotes, mas pondera que essa é uma tradição difícil de ser rompida: “Eu acho que o trote não deveria existir. É uma coisa que deveria acabar, mas é muito difícil. Em alguns casos, até os próprios pais dão trotes nos filhos”.

Para ela, o maior desafio da comissão é chegar a uma punição que seja também educativa. “Eu não me lembro de ter visto nada no regimento interno que aborde diretamente essa questão, por isso é muito difícil saber o que pode ser uma punição educativa. Ainda precisamos discutir se a punição é realmente o caminho a ser seguido”.

Para o professor Gassen, punição educativa é aquela que faz os responsáveis entenderem a consequência dos seus atos. “Os envolvidos precisam entender que as atitudes deles têm consequências.”

A Comissão

Valcir Gassen, 47 anos, é professor da Faculdade de Direito desde 2008. Trabalha como coordenador do Núcleo de Práticas Jurídicas. Formou-se na Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul e fez mestrado e doutorado na Universidade de Santa Catarina.

Simone Perecmanis é a vice-diretora da Faculdade de Agronomia e Veterinária. Ela é formada em Medicina Veterinária pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e fez mestrado na mesma universidade. Em 2005, concluiu o doutorado na UnB. Simone nasceu em Niterói e tem 43 anos.

Ana Paula Schwelm Gonçalves é advogada. Ela trabalha na Ouvidoria da Secretaria Especial de Políticas para Mulheres, ligada à Presidência da República. Ela recebeu e relatou à UnB a denúncia de discriminação contra as mulheres a partir de fotos feitas durante o trote da Agronomia.

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