Nathalia Passarinho – Do G1, em Brasília
Ela participou de cerimônia em memória das vítimas do Holocausto. Presidente afirmou que ‘memória’ é instrumento contra barbárie.
A presidente Dilma Rousseff afirmou nesta quinta-feira (27), ao discursar em homenagem às vítimas do Holocausto, que não vai “compactuar” com desrespeitos aos humanos em outros países.
“É nosso dever não compactuar com qualquer forma de violação dos direitos humanos em qualquer país, inclusive no nosso. Meu governo prefere sempre as múltiplas formas da democracia, mesmo que não concordem conosco em algum momento, ao silêncio da ditadura”, afirmou durante solenidade do Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto, em Porto Alegre (RS).
Desde que foi eleita presidente, Dilma tem sido questionada se manteria a postura de “tolerância” e boa convivência com países que adotam práticas contrárias aos direitos humanos, como o Irã. Em entrevista, dias depois do segundo turno da eleição presidencial, ela afirmou considerar uma “barbaridade” a condenação à morte por apedrejamento da iraniana Sakineh Mohammed Ashtiani, mesmo considerando os “usos e costumes” do país islâmico. Sakineh é acusada de adultério e participação na morte do marido.
Durante o discurso, Dilma lembrou os esforços do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas negociações de paz no Oriente Médio. “Nós não somos um povo que odeia, que cultiva o ódio. Tenho a honra de dar continuidade a um governo que buscou a afirmação da paz em todos os recantos, em especial no Oriente Médio.”
Lula sempre defendeu que os Estados Unidos deixem de ser os únicos intermediadores nas negociações de paz entre palestinos e israelenses. Durante os oito anos de mandato, ele iniciou uma aproximação do Brasil com países islâmicos e intermediou com o Irã um acordo de troca de combustível nuclear. O acordo foi rejeitado pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas.
A homenagem desta quinta às vítimas do Holocausto foi instituída há seis anos pela Assembléia Geral das Nações Unidas e marca o dia em que tropas soviéticas libertaram o campo de extermínio de Auschwitz, na Polônia, em 1945.
Memória
Dilma afirmou ainda, durante o evento, que a “memória” do Holocausto é essencial para evitar a ocorrência de novas “barbáries”. “No caso do holocausto, o dever da memória não deve se confundir com a passividade da lembrança. A memória serve para que a intolerância e injustiça não se banalizam. A memória é arma humana para impedir repetição da barbárie.”
Ela lembrou que na Alemanha nazista, anos antes do início da Segunda Guerra Mundial, já existiam sinais claros de agressão aos direitos humanos, mas muitos se silenciaram diante da violência contra os judeus.
“Temos que lembrar sempre para impedir que aqueles que não são objeto da barbárie não se silenciem e pratiquem a coragem de se manifestar contra essas práticas e experiências contra a vida humana”, afirmou.
Segundo Dilma, “no Brasil o dever da memória é algo indissossiável do dever de festejar a vida.” “Somos um povo que encara como sendo um momento muito especial da vida entender, compreender que é importante lembrar sempre, afirmar sempre que nós rejeitamos a barbárie”, disse a presidente, que lutou contra a ditadura militar no Brasil e foi vítima de tortura.
Racismo
A ministra da Secretária de Direitos Humanos, Maria do Rosário, também presente à solenidade, disse que o Brasil repudia manifestações antisemitas. “Nos posicionamos claramente contra a atitude ou qualquer manifestação neonazista na pátria brasileira”, afirmou
Ela lembrou que a legislação brasileira não prevê prazo de prescrição nem liberdade sob fiança para o crime de racismo. “Orgulhamo-nos da comunidade judaica e qualquer outra comunidade no Brasil. As comunidades são parte da nação brasileira”, complementou.
Já o presidente da Comunidade Judaica no Brasil, Carlos Lotterman, lembrou o passado de Dilma, que foi torturada durante o regime militar. “A senhora sabe muito bem o que é ser torturada, ter seus direitos renegados”, afirmou. Segundo Lotterman, “nossos presidentes no Brasil têm sido fiéis à democracia e ao respeito às minorias.”
O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM), participou da solenidade, assim como o presidente do Superior Tribunal de Justiça, Ari Pargendler, e a ministra da Secretaria de Comunicação Social, Helena Chagas.