Thássia Alves – Da Secretaria de Comunicação da UnB
Denúncia sobre trote chega à Presidência da República. Reitor considera que trote “traduz atos de violência contra mulheres” e pede explicações sobre o episódio ao diretor da Faculdade de Agronomia e Veterinária
A Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República encaminhou à Reitoria da Universidade de Brasília pedido de esclarecimentos sobre trote da Faculdade de Agronomia e Veterinária (FAV), ocorrido no último dia 11 de janeiro. De acordo com a notificação assinada pela ouvidora Ana Paula Gonçalves: “as calouras foram submetidas a uma encenação que incita ao sexo oral, ridicularizando e desrespeitando as mulheres”. A representação, também encaminhada ao Ministério Público Federal, foi produzida a partir de denúncia encaminhada à Ouvidoria da Secretaria.
O documento traz fotografias de jovens lambendo uma linguiça lambuzada de leite condensado. Ao redor das calouras, veteranos e veteranas dão risadas. As fotografias foram registradas pela equipe de reportagem da UnB Agência em frente ao Centro Acadêmico de Agronomia (CAAGRO). Leia reportagem sobre o trote da Agronomiaaqui.
A representação da Secretaria de Políticas para as Mulheres foi encaminhada pelo reitor José Geraldo de Sousa Júnior ao diretor da FAV, Cícero Lopes. O reitor pede ao diretor da FAV informações sobre o fato. Em seu despacho, o reitor afirma que: “As fotos traduzem atos de violência e discriminação contra as mulheres. Elas mostram a diminuição da dignidade e violam a ética da convivência comunitária”. O reitor aguarda a manifestação do diretor da FAV para determinar novas providências.
Procurado pela reportagem, o diretor da FAV condenou o trote. “Essa cena da linguiça é deplorável”, resumiu Cícero Lopes. Segundo ele, os calouros têm recebido orientações para não participar dos trotes. “Fizemos um café da manhã para recepcioná-los e orientá-los a dizer não. Infelizmente, não foi isso que aconteceu”, lamentou.
Ana Paula Gonçalves, ouvidora da Secretaria de Política para as Mulheres, lamenta a exposição à qual as alunas foram submetidas. “É lamentável que a mulher ainda seja submetida a situações desse tipo. Elas provocam constrangimento e humilhação”, comentou. Ela destaca que as “brincadeiras” de cunho sexual atingem principalmente as mulheres. No trote da Agronomia, os homens não participam da “brincadeira” da linguiça.
DEBATE – Caio Batista, presidente do CAAGRO, justifica que a participação no trote é optativa. “Só passa pelo trote quem quer. Quem se sente prejudicado deve resolver isso aqui, e não fora”, afirma. De acordo com o veterano, os calouros são informados sobre as atividades da recepção antes do trote. “De 80 alunos, 40 decidem que vão participar. E eles já sabem quais são as atividades”.
Laura Lino é aluna do 3º semestre do curso e afirma que participou do trote porque quis. “Todo mundo faz por livre e espontânea vontade. No meu semestre todas as meninas toparam”, conta. Já Gilma Rosa, estudante do 5º semestre, não quis entrar na brincadeira. Ela conta que é contra o trote, mas que não houve nenhuma represália dos colegas por ter dito não. “Falei que não ia participar e pronto. Sempre frequentei o CA”, afirma.
Os trotes sujos têm provocado discussões entre a comunidade acadêmica. Em entrevista publicada no Portal da UnB, o reitor defendeu o fim da prática. Veja aqui. O debate chegou até mesmo ao Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (CEPE). Orientações sobre a violência nos trotes também integraram a lista de ações de recepção aos calouros da universidade no último semestre.