Por Zofeen Ebrahim, da IPS
Karachi, Paquistão, 19/1/2011 – A nova estratégia do movimento islâmico Talibã no Paquistão é treinar mulheres para realizar atentados suicidas. No dia 25 de dezembro, uma jovem com não mais de 18 anos se imolou, assassinando pelo menos 47 pessoas e ferindo outras 105, em um centro de distribuição do Programa Mundial de Alimentos (PMA) na região tribal de Khar, perto da fronteira com o Afeganistão.
Em janeiro de 2010, as forças de segurança paquistanesas detiveram uma garota de 12 anos, Meena Gul, acusada de integrar um complô para cometer um atentado suicida. Também correu a notícia de que o Talibã estava recrutando mulheres. Meena disse às autoridades que foi treinada sob supervisão de um comandante Talibã e que sua irmã mais nova já cometeu um atentado no Afeganistão.
O exército paquistanês lançou uma ofensiva contra os combatentes islâmicos da região no final de 2008. A área foi declarada livre de islâmicos seis meses depois e começou uma operação de vigilância, em janeiro de 2010. Apesar da sustentada campanha militar, a violência persiste e o governo não consegue limpar completamente a área de militantes.
“Não se sabe bem o motivo de exército e forças paramilitares serem incapazes de controlar os combatentes nas áreas tribais”, disse o analista de assuntos de defesa Hasan Askari Rizvi. “Os combatentes islâmicos têm forte apoio do exterior, por exemplo, do Afeganistão, ou possuem simpatizantes na administração civil paquistanesa e entre os militares”, afirmou.
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, disse que o atentado de dezembro foi “uma afronta ao povo do Paquistão e a toda humanidade”, enquanto o PMA fechou temporariamente seus quatro centros de distribuição. A atacante suicida usava uma burca (véu que cobre o corpo da mulher da cabeça aos pés). O Talibã reivindicou imediatamente o atentado.
Seu porta-voz, Azam Tariq, disse à rede de TV norte-americana CNN que se tratou de uma represália pelas operações das forças de segurança paquistanesas. “As forças antiTalibã são nosso objetivo”, afirmou. “As agências paquistanesas terão problemas para controlar as atacantes suicidas porque não contam com suficientes sistemas eletrônicos de segurança nem com suficientes agentes mulheres”, afirmou Hasan. O fato de haver mulheres terroristas indica que os combatentes islâmicos estão um passo à frente das agências de segurança, ressaltou.
Para Shuja Nawaz, diretor do Centro para a Ásia Meridional do Atlantic Council, com sede em Washington, as atacantes suicidas não são uma surpresa. Ele recordou que os separatistas Tigres para a Libertação da Pátria Tamil já apelavam para as mulheres no conflito étnico do Sri Lanka. “Era de se esperar”, concordou o jornalista Rahimullah Yusufzai. Os talibãs “não seguem as regras da guerra nem a tradição pashtún. Atacam lugares de adoração, funerais, idosos, mulheres e crianças”. Contudo, as forças de segurança também geram ódio entre a população.
“Os assassinatos extrajudiciais, os desaparecimentos forçados, e famílias inteiras de supostos combatentes são castigadas e torturadas”, disse Rahimullah, alertando que isto pode aumentar o desejo de vingança e “radicalizar” as mulheres. O contraterrorismo se converteu em um problema interno extremamente difícil, afirmou Hasan. “Se o Paquistão puder controlá-lo nos próximos cinco anos, será um sucesso”. Segundo Hasan, a ortodoxia religiosa é a pedra fundamental da militância islâmica, mas a maioria das pessoas, incluindo os políticos, “é incapaz de ver este vínculo e não trabalham para reduzir o extremismo religioso”. Envolverde/IPS
(IPS/Envolverde)