Resumo: Este artigo busca desenvolver uma reflexão sobre a realidade social dos escravos e sua participação no processo que desencadeou a música afro-brasileira no contexto social do séc. XVI – XIX, a fim de que estes conhecimentos sejam incorporados no Ensino de História. Através de sua contribuição para o conjunto historiográfico, a pesquisa histórica e cultural, pretende intervir no processo de ensino e aprendizagem, refletindo sobre os sistemas de repressão construídos pela política colonial dominante. Mediante a análise proposta, poderemos comprovar a diversidade dos conflitos na sociedade escravista, a partir de uma realidade multifacetada expressa nesse gênero musical originada no Brasil, no período aqui mencionado. Defende-se aqui que os estudos sobre a alteridade cultural da matriz africana no ensino de história tornam-se elementos marcantes de representação do imaginário dos escravos no desejo de evocar seus costumes e tradições, além de expor a diversidade cultural afro-brasileira
Palavras-Chave: Cultura Escravocrata – Ensino – História da música.
Abstract:This article seeks to develop a reflection on the social reality of the slaves and their participation in the process launched the African-Brazilian music in the social context of the century. XVI – XIX, so that this knowledge is incorporated into the Teaching of History. Through its contribution to the whole historiography, historical research and cultural attempt to intervene in the process of teaching and learning, reflecting on the prosecution systems built by the dominant colonial policy. Through this analysis, we demonstrate the diversity of conflicts in the slave society, from a multifaceted reality expressed in that music genre that originated in Brazilduring the period mentioned. It is argued that studies of the cultural otherness of African origin in the teaching of history become the mo
st salient elements of the imaginary representation of slaves in the need to raise their customs and traditions, and exposed to cultural diversity African-Brazilian.
Keywords: Culture slavery – Education – History of music.
INTRODUÇÃO
Este estudo aborda a modalidade da música Afro-Brasileira, que surgiu dos movimentos herdados da sociedade escravista, decorrente da imposição criada pelo sistema colonial escravocrata. Esta música foi marcada pelo preconceito e violência da elite dominante, que se valeu de umasuposta superioridade étnica e religiosa direcionada à população indígena e aos milhares de negros que foram trazidos para o Brasil como cativos.
Os índios, que a princípio tinham uma relação amistosa, foram eliminados quando não seguiam os interesses desta elite e quando podiam trabalhar eram escravizados. Os escravos, por sua vez, foram comercializados, tratados como instrumentos de trabalho e reprodutores de outros no processo da cultura popular afro-brasileira, a partir do século XV.
Diante deste cenário, podemos relatar que as canções musicais eram expressões contidas no sentimento, sofrimento e revolta contra a sociedade dominante, que reprimia os valores e tradições de origem africana. Os africanos teriam de se adaptar às novas regras de convivência e compor os movimentos ficcionistas, tomando, por exemplo, a questão de uma raça e uma etnia formando uma marginalização de sua adversidade cultural.
Outro ponto importante que devemos mencionar é a questão das canções, melodias e letras da música afro-brasileira, que engloba os ritmos musicais, danças, religiões e outros componentes da cultura européia, representados pela comunidade colonial portuguesa, e outra música nativa, que era incorporada aos grupos de negros e mestiços que constitui hoje a cultura afro-brasileira. É dessa forma que as músicas simbolizam as histórias sócias político econômico e cultural das práticas representativas da comunidade afro-brasileira.
Neste contexto, demonstra as condições existentes nas relações sociais durante o período colonial, para disfarçar as violências sofridas pelos escravos. Estes expressavam a opressão, através das práticas representativas expressas nas atividades folclóricas e no controle da igreja que permeavam a sua vivência cotidiana.
Convém ressaltar que a igreja tentava combater os rituais musicais da cultura Afro-Brasileira, uma vez que seus atos de controle afetavam a consciência e a conduta social dos movimentos festivos. No entanto, essa hegemonia religiosa não conseguiu destruir os perfis de outras culturas tradicionais, como no caso da criação das irmandades religiosas que buscam separar a igreja da elite branca e a dos escravos. Criou-se assim o sincretismo, difundindo-se a fusão da igreja católica cristã com a religião pagã dos escravos. Emergiu, dessa forma, o candomblé e outras expressões próprias dos negros.
A partir do século XVII surgem as expressões, mas vivas da tradição musica negra, a exemplo do lundu, que se desdobrará em outros ritmos, tais como o samba, maxixe, a polca, e assim sucessivamente. Nesse processo, a música Afro-Brasileira chega na segunda metade do século XIX, com as inovações decorrentes do desenvolvimento econômico, social, político e cultural. A música é percebida através de outras visões, especialmente quando as tendências desse processo de ruptura criam uma nova roupagem das expressões culturais que vai se fixar no século XX.
Decorrentes dessa importância social podem inserir a música afro-brasileira nos parâmetros dos currículos escolares do ensino de história, propondo a divulgação da diversidade das tradições culturais Afro-Brasileiras. Analisando-se a música no contexto da sociedade escravista colonial, buscamos refletir sobre a situação que originou os conflitos existentes, que incidem nos movimentos reacionários de dominação imposta pela sociedade.
Esta música de raiz negra retrata um momento em que a cultura de um povo foi submetida a inúmeras formas de violência, mas que na expressão de sua identidade deu forma e voz aos escravos como mecanismos de resistência social.
1. ADMINISTRAÇÃO E ESTRUTURA DA SOCIEDADE ESCRAVOCRATA NO PERÍODO DE DOMINAÇÃO PORTUGUESA NO BRASIL
A expedição comandada por Martin Afonso de Sousa, em 1531, tornou um marco à administração colonial portuguesa no Brasil, com a instalação do primeiro engenho da capitania de São Vicente. Com essa medida, efetuou-se a implementação do sistema colonial de orientação mercantilista. Através dessa intervenção, produziu-se no Brasil a organização administrativa, com demandas de investimentos capazes de fomentar a base de uma empresa essencialmente agrícola, voltada para atender às necessidades desse tipo de exploração com vistas à acumulação de riquezas e do lucro rápido.
O funcionamento dessa política de conotação absolutista presente na Europa foi caracterizada pela total concentração de poderes na mão do rei. Na colônia, o rei era representado por funcionários metropolitanos que recebiam plenos poderes para agir segundo os interesses da metrópole portuguesa.
Essa transferência de poderes resultou na concentração de riquezas nas mãos dos proprietários de terra, que desenvolviam também a exploração do trabalho (principalmente, o da forma compulsória de escravidão). Por essas medidas, foi permitida a existência do latifúndio improdutivo neste contexto histórico e de outras riquezas naturais na produção agrícola em larga escala destinada ao mercado externo. A montagem dessa estrutura fez surgir uma classe dominante aristocrática que dominava a administração brasileira.
A sociedade formada nessa constituição apresentava alguns aspectos específicos em algumas regiões. Entretanto, o fator predominante era o patriarcalismo, onde a família e as pessoas que viviam nas terras de um proprietário eram posses dos senhores do engenho. Como salienta Freire (2004):
… A influência africana fervendo sob a européia e dando um acre à vida, sexual, à alimentação, a religião; o sangue do negro correndo por uma população brancarana, quando não predominando em regiões; Ainda hoje de gente escura; o ar da áfrica, um ar quente, oleoso, amolecendo nas instituições e nas formas de cultura. (FREIRE, 2004, p. 66).
Criada pelas relações de convivências simples, típicas do espaço rural, combinado com a agricultura, a miscigenação, a regularidade por meio da escravidão, foi incorporada ao sistema político dominante. Esse autoritarismo foi acentuado na produção canavieira, onde o latifúndio destinado à produção se sobressaia ao poder da autoridade local, que tinha nas vilas os seus representantes. Além da autoridade aristocrática existia também o poder da Igreja católica, que exercia seu autoritarismo sobre as pessoas. A conjuntura econômica da exploração colonial era vivenciada numa sociedade onde a elite era amparada pelas concepções científicas que difundiam uma ideologia preconceituosa para justificar a exploração dos negros, que eram, na verdade, considerados seres “incapazes” e “dependentes”.
Reforçando essa minha inferição, reportume-me a Flávio de Campos; Lídia Aguilar; Regina Claro e Renan Garcia Miranda, no livro didático apresentado em “O Jogo da História: de corpo na América e de alma na África”, no qual chama-nos atenção para o fato de indica que:
[…] Na base, a imensa maioria era composta por escravos. Logo a seguir vinha um pequeno grupo formado por artesãos, pequenos proprietários de terras, homens livres pobres e escravos. No topo figuravam os grandes senhores de engenho e as autoridades coloniais e eclesiásticas. A sociedade mineradora também tinha uma grande massa de escravos em sua base. No entanto, os grupos intermediários eram mais complexos e numerosos. Logo acima dos escravos estavam os homens livres pobres, em geral mulatos ou libertos, que se dedicavam a serviços ocasionais ou participavam das milícias organizadas pelas autoridades metropolitanas. Na camada seguinte encontravam-se os artesãos, os comerciantes, os profissionais liberais, os representantes do clero e os funcionários da administração colonial. No topo estavam os grandes mineradores e as autoridades coloniais. (CAMPOS, 2002, p. 112 – 113)
É neste contexto que a Igreja católica deu sua contribuição, afirmando a conversão da população africana escrita pela exploração escrava perante o cristianismo. Junto das idéias cristãs e da autoridade administrativa representada pela elite agrária, desenvolveu-se o domínio dos escravos como produto da economia colonial mercantilista, ou seja, foi enfatizada pela Lei Eusébio de Queirós, em 1850 do século XIX com o fim do tráfico dos escravos; a Lei do Ventre Livre em 1871 do século XIX e a Lei dos Sexagenários de 1886 do século XIX, que foram aprovadas pelo fim da escravidão no Brasil.
Cabe destacar ainda, que a assinatura da Lei Áurea, em 1888, foi mencionada como um sistema de mecanismos para a utilização pela cultura superior [“elite”], isto é com a meta de desfazer a mobilização das revoltas escravas e as próprias organizações que os apoiavam nesta última década da escravidão, mas haviam atingido pelo nível de mobilização que a introdução dos imigrantes, principalmente na lavoura cafeeira, que foi a base fundamental para desfazer esse movimento abolicionista. Na mesma linha de raciocínio, esses acontecimentos procuram apresentar que após os imigrantes, que conseguiram se organizar, estruturar essas sociedades clássicas, a partir deste rompimento com o processo historiográfico da república velha, da espada e o início da política social, cultura do governo Vargas em 1930 para o Brasil. Arantes (1992) explica:
A diferenciação das condições materiais de existência no interior de uma sociedade, entretanto, própria a formação de subgrupos especializados e acarreta a produção de conteúdos culturais constituído das especificidade de cada um deles frente aos demais(…), faz compreender o movimento ritimística dos cânticos, numa mistura da religião católica com rituais africana, a origem de várias expressões presente nos presentes nos diferentes cultos afro-brasileiros (ARANTES, 1992, p. 42).
2. AS IMPLEMENTAÇÕES DAS TRADIÇÕES DE MATRRIZ AFRICANAS AGREGADAS A NOVOS VALORES SÓCIOS CULTURAIS NO BRASIL
O fato de conviver num ambiente hostil e de complexas relações sociais, os negros foram sufocados pelas condições que os negros tinham em seus países de origem. Aqui, tiveram de se adaptar e aceitar e exigências e imposições determinadas pelo sistema político dominante. Em razão disso, foi criada a concepção escravista que irá influenciar os grupos humanos numa confluência étnica e racial típica da soci
edade colonial da época. Dessa mistura de culturas brancas e negras, surgiram hábitos e costumes agregados à identidade étnica. Sejam na forma de culinária, danças, linguagem, música, religião, entre outras expressões.
È nas festas que as adversidades culturais dos escravos, suas representações, seus gestos são associados aos já existentes, originando costumes e músicas típicas dos movimentos, numa forma de resistência e afirmação de suas identidades. Desses movimentos sobressaiu o que comumente conhecemos como cultura popular. Com características próprias de cada região do Brasil, estas expressões foram se desenvolvendo de acordo com as realidades econômicas de cada uma. Os principais núcleos rurais que se destacaram como difusores dessa dinâmica foram regiões que englobam o Rio de Janeiro, Pernambuco e Salvador, consideradas centros irradiadores de produção sócio-cultural.
A possibilidade de poder agregar elementos novos, tais como os costumes e crenças que carregavam de seus antepassados, tornou viável para o cativo uma readaptação às exigências impostas pelo repressivo sistema escravista vigente. Essa tomada de decisão é reflexo da própria imagem que os negros passaram a ter a partir do momento em que foram inseridos num mundo completamente diferente do seu. A música passa a ser fundamental nesse processo, como explica Ferreira (2009):
Na cultura africana, a música está vinculada ao cotidiano do trabalho, da religião e do entretenimento. Para o africano a música não é um luxo, mas um modo de vida, presente do nascimento à morte, do plantio à colheita. Atividade rotineira como caça, pesca, preparação de alimento são invariavelmente realizadas ao som de músicas. (FERREIRA, 2009, p. 5).
Dessa forma, a música e outros gêneros de movimentos da cultura africana vieram acalentar o impacto causado pela nova realidade. Subjugados, os escravos lutaram para manter vivos seus ritos e tradições, transmitidos através dos conhecimentos das expressões culturais trazidas dos diferentes grupos e de regiões em que viviam no continente africano. Como essa música afro pode ser instrumento cultural, auxiliando no ensino de História?
Assim, o movimento cultural desenvolvido pelos escravos em meados do século XVI ao início do século XIX, foi marcado pela música, que representou a produção coletiva dos grupos presentes na sociedade colonial brasileira. Os escravos, ao perceber em suas condições, se envolveram nestes movimentos na esperança de criar um ambiente agradável, contrapondo-se as sujeições impostas pela elite dominante, a fim de manter viva as tradições da matriz africana no Brasil de seus países de origens.
Em concordância com Antônio Augusto: “aquilo que se considerar como vigência do plena do passado, só pode ser interpretado, no presente como curiosidade”(PINSKY, 1998, p.18). O processo histórico em que se desenvolveu a música Afro-Brasileira, revelaria para os escravos uma maneira de preservar suas tradições e um símbolo de libertação que pode ser percebido nas letras desse
gênero musical, o que nos levou a problematizar essa questão.
Os conflitos existentes no interior da sociedade colonial brasileira, envolvendo principalmente os escravos, decorriam das repressões impostas pela elite dominante aos movimentos culturais da música Afro-Brasileira, que era proibida, segundo o discurso da época, que aceitavam tais manifestações porque contradiziam o código de postura vigente. Isso constituía o discurso ideológico da época, que orientava os interesses dominantes, representados pela administração política e religiosa de valorização dos costumes e controle social.
Os negros, ainda que sujeitos a um tratamento desumano herdado da antiguidade, e enfrentando em seu cotidiano formas de violência tais como: pena de morte, longas jornadas de trabalho, estupros, alimentação deficiente, entre outras, práticas desumanas comuns às condições impostas, estas, de alguma forma, despertaram conscientemente a concepção de raça e identidade de um grupo étnico inserido num ambiente hostil aos seus costumes e valores, conforme Arantes (1990). Salienta:
Essa diversidade, que se desenvolve em processos histórico múltiplos e o lugar da “cultura”, uma vez que, sendo em grande medida autoritária é convencional, ela constitui os diversos núcleos e identidade e de vários agrupamento humanos, ao mesmo tempo que os diferencia um dos outros…(ARANTES, 1990, p. 26).
Neste sentido, entende-se a produção histórica e social de grupos descendentes de escravos, como de povos que antes de serem introduzidos como mercadoria especifica do sistema político colonial, viviam num continente diferente, sendo que cada um, com suas organizações culturais e particularidades lingüísticas, conferem as distinções desses grupos, através dos movimentos africanos de outros povos.
No complexo processo no qual foi desenvolvida a música de origem africana, na sociedade colonial brasileira, caracterizava-se como hegemônica a estrutura étnica e religiosa, uma vez que os costumes da população branca de tradução européia misturavam-se às das classes populares negras e mestiças porém com interesses comuns.
É, em meio a essas divergências, que a música despontará, mesmo que de forma tímida, pois era proibida e tida como sedução aos movimentos populares. O lundu surge assim como gênero de dança e música rítmica que servirá como viés às vertentes da música popular brasileira. Conforme Montari (2001):
origem nos batuques dos negros que aqui chegaram como escravo. Da mesma forma que aconteceu com o blues e o ragtime, na música norte americana, o lundu e a modinha vão se associar as outras influências, advinda da musica européia, para dar origem a música brasileira que atravessou o século XX. (MONTARI, 2001, P.77).
No início do século XIX, a música passa a ganhar novas conotações, decorrentes das transformações advindas da transferência da corte portuguesas para o Brasil. Cria-se um ambiente com novas paisagens e costumes decorrentes das migrações, como explica Davis (2001): “… amplas mudanças nos valores culturais enfraqueceram as justificativas religiosas e filosóficas da escravidão. Todavia, as próprias tendências do pensamento que enfraqueceram as sanções bíblicas e históricas também ampliaram a importância das características mentais e físicas do homem”.(DAVIS, 2001, p. 493).
Diante do exposto, observamos que a prática educativa no ensino de história enfatiza a necessidade de uma reflexão sobre os pressupostos metodológicos para uns ensinos curiosos, atraentes, eficazes e que seja capaz de instruir o aluno para que desenvolva um entendimento eficaz à compreensão do mundo, atentando-se para as suas decorrentes transformações. Como reforça Cabrini (2000): “A tônica marcante é investigar na perspectiva de uma mudança de mentalidade quanto ao ensino-aprendizagem”.(CABRINI, 2000, p.14).
Essas mudanças acontecem principalmente no ambiente escolar que não se restringe a um espaço de aprendizagem, mas de integração de diferentes atores que interagem para a produção de conhecimentos, sem esquecer de que sua realidade social é resultado de um longo e contraditório processo histórico. A temática da escravidão negra apresenta diversos subsídios para uma reflexão.
Entre eles, a música Afro-Brasileira é colocada como sendo capaz de desenvolver nos alunos a sistematização do conhecimento e por seu intermédio podem ser desempenhadas diferentes diretrizes para os fatos decorrentes de um mesmo processo histórico, tornando-se viável a articulação com o conhecimento produzido. A música de origem africana, inserida no contexto histórico da sociedade brasileira durante o período colonial, possibilita a compreensão dos aspectos sociais, econômicos, políticos e culturais desse momento histórico.
Para o ensino de História, o uso da música Afro-Brasileira se insere como proposta metodológica para a prática docente, condizente com o objetivo maior do reconhecimento da cultura afro-brasileira, uma exigência da Lei n° 10.639/2003. Esta Lei dispõe que sejam incluídos nos currículos do ensino básico e superior, conteúdos que contemplem a história da África e dos africanos, bem como suas lutas e sua contribuição para o Brasil.
Em conseqüência disto, fica evidente a relevância histórica que envolve os povos africanos, em amplas situações de ensino, que pode ser colocada no ambiente educativo como troca de experiência e reforço da aprendizagem. Assim, prática educativa precisa criar novas situações que visem à pesquisa nessa direção, de forma que sejam orientadas por valores, visões de mundo e experiências sem qualquer tipo de preconceito étnico racial.
O ensino de história propicia fontes e recursos metodológicos que geram alavancas para caminhos a serem trilhados no processo de conhecimento, fator fundamental para a prática docente. CABRINI (2000) sugere: tratar um conteúdo vinculado à realidade do aluno permitirá mais facilmente se chegar com ele ao conhecimento concreto do objeto, à sua descoberta, ou seja, aprendê-lo seu movimento, em suas contradições.”(CABRINI, 2000, p. 54).
Conforme o exposto, a prática educativa no ensino de história assegura diversas concepções sobre o conhecimento humano e seu espaço é uma construção intelectual, onde professores e alunos fazem parte desse processo dinâmico. Por essa perspectiva, abre-se a possibilidade de se poder interferir nas relações sociais futuras ou posteriores, tornando possível atribuir conceitos teórico-metodológicos em que são dados os conflitos étnicos, políticos, econômicos e religiosos existentes na sociedade a partir de sua reflexão no ambiente educativo.
Isso significa contribuir para o ensino, de forma a permitir o desenvolvimento de trabalhos que facilitem a constituição de conhecimentos mais consistentes, profundos, articulados com as experiências humanas e que visem um diálogo reflexivo com as diversidades inerentes ao contexto social. Conceitos relacionados ao tema cultura, como o que está proposto aqui, reflete o contexto histórico da cultura popular brasileira.
Possibilitaremos, assim, novas acepções e a criação de novas abordagens que envolvam a temática, seguindo os pressupostos dos parâmetros curriculares, que: “podem ser usados para aprofundar questões históricas, instigar debates, analisar representações artísticas de época, confrontar, pontos de vistas, diferenciar abordagens históricas, resumir temas, estudo, explicar definições históricas para conceitos etc.”(BRASIL, 2001, p. 81).
Nesse sentido, estudar a música afro-brasileira é justificável para, sobretudo, difundir sua importância na sociedade e resgatar os processos que a geraram, ajudando a construir a identidade negra e cultural do país.
3. ALGUNS PRESSUPOSTOS BÁSICOS QUE PERMEIAM A PRÁTICA EDUCATIVA NO ENSINO DE HISTÓRIA
Por se constituir num documento histórico, onde são encontrados registros que nos levam a apreender uma viagem sobre o passado e a interagir com áreas afins do conhecimento humano, poderemos inserir a pesquisa em novos contextos, atribuindo-lhe novas abordagens sobre o conhecimento humano. Concernente ao exposto, torna-se evidente a pesquisa com fontes bibliográficas como recurso histórico metodológico.
Conforme sugere o texto oficial: “o documento histórico adquire outra amplitude no trabalho do historiador. São utilizadas outras fontes de pesquisa históricas relacionadas à preocupação de se estudar outras dimensões da vida social”. (BRASIL, 2001, p. 84). De acordo com os parâmetros curriculares nacionais, os registros de fontes escritas podem ser considerados um documento e um achado arqueológico que podem tomar outros rumos no desenvolvimento da pesquisa.
Os estudos científicos requerem o cuidado para não incorrer sobre a “veracidade” dos fatos registrados nos documentos e estes eram tidos como verdades absolutas, onde os conhecimentos eram consolidados sem interferência exterior, ou seja, não eram questionados. Sobre os parâmetros curriculares, “Durante algum tempo, principalmente para os historiadores de inspiração positivista do século XIX e início do XX, o documento significara a idéia de testemunho escrito, comprovação, de provas sobre os acontecimentos do passado…”. (BRASIL, 2001, p. 84).
Conforme o exposto, os estudos historiográficos passaram por um longo processo de reavaliação na pesquisa histórica, permitindo o diálogo com outras ciências sociais. Por essas perspectivas, é destacado aqui o auxílio oferecido pelas fontes bibliográficas, principalmente as que abordam os conceitos pertinentes ao imenso campo de investigação da pesquisa da história cultural, que, por sua vez, está voltada para a dimensão da cultura popular.
3.1. CONSIDERAÇÕES REFLEXISIVAS TEÓRICO METODOLÓGICO SOBRE AS DISCUSSÕES INTERPRETATIVAS DA MÚSICA AFRO-BRASILEIRA NO ENSINO DE HISTÓRIA
No que se refere às diretrizes para o levantamento da pesquisa, pretende-se seguir os fundamentos teóricos das representações das atividades culturais dos grupos étnicos que geraram a temática da música afro-brasileira, a partir de análises da produção do conhecimento histórico, inseridas na produção da música de origem escrava e os processos a que foi submetida num eixo que se coloca:
[…] Para além dos sujeitos e agências que produzem a cultura, estuda-se os meios através dos quais esta se produz e se transmite: as práticas e os processos. Por fim, a matéria-prima’ cultural propriamente dita (os padrões que estão por trás dos objetos culturais produzidos): os sistema de valores, os sistemas normativos que constrangem os indivíduos, os ‘modos de vida’ relacionados aos vários sociais, relacionad
os as concepções relativa a esses vários grupos sociais […]. (BARROS, 2004, P. 61).
O desencadeamento da música Afro-Brasileira como sua produção cultural herdada das tradições étnicas do continente africano e situá-las como fonte metodológica para o Ensino de História, uma vez que estudar o uso dos costumes representa também conhecer as principais características de uma sociedade.
Seguindo a mesma linha do autor supracitado, Barros (2004), que faz uma explanação do conhecimento nos vários eixos da história que, segundo ele, estão situadas várias áreas de interesses e abordagens que compõem o campo de pesquisa das ciências sociais da historiografia, que concernem aos estudos culturais sobre as questões que permeiam os diferentes interesses que envolvem a música afro-brasileira e ao seu reflexo no Ensino de História.
Assimilando algumas propostas presentes nos relatos de Conceição Cabrini e nos Parâmetros Curriculares Nacionais podemos destacar as possibilidades que os textos oficiais apresentam sobre diferentes idéias curriculares para o ensino de história. A prática docente surge para propor novas abordagens interdisciplinares para o currículo escolar de história, dinamizando o processo de ensino e da aprendizagem.
Escolhemos referências direcionadas à pesquisa sobre história do Brasil nos séculos XVI-XIX, serviram como apoio ao trabalho de Jaime Pinsky e Davis Brion, que fazem uma crítica das condições vivenciadas pelos escravos mesmo antes de sua introdução no início da colonização brasileira. Na mesma proporção, foi citado Gilberto Freire em sua obra intitulada em “Casa Grande & Senzala”, mostrando algumas implicações sobre as relações de convivência social e as idéias de dominação, tratando da situação dos escravos num contexto de interação étnico e racial.
Dando continuidade às questões que envolvem a escravidão, as convivências e os conflitos inseridos neste processo, Valdir Montinari, na bibliografia “O que é Cultura Popular”, aborda as relações de domínio sobre os bens culturais, referenciadas como prática representativa de um determinado grupo social, manifestações culturais, tais como as práticas de um povo representando domínio, sua identidade, o espaço identificando as origens. A obra reflete bem sobre alguns pontos levantados sobre a influência africana, a exemplo da música afro-brasileira como sendo conhecimento de um povo.
No que se referem à música, os relatos desses autores que fazendo em um apanhado histórico sobre o processo gerador dos movimentos, que recai sobre os diferentes estilos da música popular brasileira, assim, Joana D’Arc e José Roberto enfocam o histórico da música de origem africana. Nesse artigo, ambos trabalham os principais fatores determinantes que envolveram a produção da música.
Pa
ra isso, destacam as tradições, costumes, crenças, entre outros movimentos que representam as manifestações da cultura popular nas organizações dos grupos étnicos do continente africano, até serem introduzidos no início da colonização no Brasil. Dos movimentos surgidos nesse contexto histórico, ambos os autores destacam o samba como identidade nacional, representação da cultura popular brasileira.
Nesse sentido, com o apoio dessas referências teóricas, pretendemos estudar a música afro-brasileira e mostrar sua importância para contexto do ensino de História, dinamizando suas formas de apreensão e compreensão.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo da cultura afro-brasileira e africana revela os direitos legais de valorização da identidade, cultura, história que privilegia educação das relações étnico-raciais. Por essas medidas, foi permitida a realização da pesquisa que se deu através de uma análise reflexiva sobre a música afro-brasileira, percebendo como seus reflexos incidem no Ensino de História, em consonância com a concepção que perpassa o processo metodológico de ensino e aprendizagem.
Portanto, foi necessária uma abordagem acerca dos acontecimentos históricos, da origem africana que se desenvolveu no contexto da escravidão no Brasil, bem como das questões que desencadearam esta trama da história que mesmo tendo acontecido há quase cinco séculos, continua presente na identidade da cultura popular brasileira.
Para viabilizar a pesquisa que versa sobre o conhecimento “historiográfico” sobre a história cultural foi empreendida uma investigação histórica no sentido de conhecer a produção do conhecimento existente sobre o tema abordado.
A idéia que procurei defender nesse estudo dar ênfase à música Afro-Brasileira no Ensino de História percebeu-se sua importância bem como seus reflexos incidem métodos educativos, em consonância com a concepção que perpassa o processo metodológico de ensino e aprendizagem na disciplina de História.
Portanto, desenvolveu-se uma abordagem acerca dos acontecimentos históricos, da origem africana que se desenvolveu no contexto da escravidão no Brasil, bem como das questões que desencadearam esta trama da história que mesmo tendo acontecido há quase cinco séculos, continua presente na identidade da cultura popular brasileira.
Para viabilizar a pesquisa que versa sobre o conhecimento “historiográfico” sobre a história cultural foi empreendida uma investigação histórica no sentido de conhecer a produção do conhecimento existente sobre o tema aqui abordado.
Contudo, é preciso elucidar que a importância da temática música afro-brasileiro no meio acadêmico e nos processos didáticos que visem novos métodos educativos no ensino e aprendizagem fará com que esta problemática seja mais do que um desdobramento de categorias acima referidas e se consubstancie em um outro movimento de suma importância nos debates educacionais.
Esse movimento esta relacionada com uma dinâmica de focalização dos valores históricos e culturais dos grupos étnicos de afros-descendentes, que se apresenta nitidamente no Brasil, a partir da introdução da escravidão colonial. A valorização das idéias contidas na modalidade da música afro implica o reconhecimento dessa categoria capaz de detectar e reprimir preconceitos étnicos raciais.
Sob a orientação dessa valorização no Ensino de História, a composição dos grupos afros-descendentes passará a ser objeto de atenção dos sujeitos envolvidos, direta ou indiretamente com o compromisso sócio educacional.
REFERÊNCIASBIBLIOGRÁFICA
- ARANTES. Antônio Augusto. O que é cultura popular.3.ed. São Paulo: Brasiliense, 1990.
- BARROS, José D’Assunção. O campo da história: especialidades e abordagens. 3 ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2005.
- BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: história. Brasília: MEC, 2001.
- CABRINI, Conceição et al. Ensino de história: revisão urgente. São Paulo: EDUC, 2000.
- DAVIS, David Brion de. O problema a escravidão na cultura ocidental. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001.
- FERREIRA, Joana D’Arc A. GALDÊNIO, José Roberto de Vasconcelos. UMA MÚSICA Afro-Brasileira: a samba da representação a símbolo da identidade nacional. Disponível em: http:/ www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/. Acesso em 14/ 06/ 2009.
- Flávio de Campos; Lídia Aguilar; Regina Claro e Renan Garcia Miranda. O Jogo da História: de corpo na América e de alma na África, São Paulo, Moderna, 2002, p. 112-3 (volume para 6ª série).
- FREIRE, Gilberto. Casa Grande & Senzala. 94 ed. São Paulo: Global, 2004.
- MONTINARI, Valdir. História da Música: da idade da pedra a idade do Rock. São Paulo: Ática, 2001.
- PINSKY, Jaime. A escravidão no Brasil. 16 ed. São Paulo: Contexto, 1998.
[1]Graduado em Licenciatura Plena em História pela Universidade Estadual da Paraíba – UEPB e Graduando em Licenciatura Plena em Filosofia pela Universidade Estadual da Paraíba – UEPB.
Perfil e Links: |
Luciano Bezerra Agra Filho, filho de pais paraibanos, nasceu no dia 02 de Agosto de 1976 em Campina Grande/PB. Iniciou-se o curso de Licenciatura Plena em História em 1999/2 e terminou em 2003/2. Tenho uma publicação na Revista virtual de História – Ano VI – Edição 27 – Janeiro – Março de 2006.[http://www.klepsi |
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