Mulher pretende congelar seus óvulos para que a filha de dois anos possa também ser mãe no futuro

mae-e-filha-sindrome-turnerPenny Jarvis, aos 25 anos, já tem cinco filhos. Mas a de dois anos (com ela na foto à esquerda) nasceu com uma doença chamada Síndrome de Turner, que apenas atinge meninas. Ela se chama Mackenzie e não tem ovários. Por isso, sua mãe decidiu congelar seus próprios óvulos para que, um dia, a filha faça inseminação artificial e dê à luz um bebê, que será tecnicamente seu meio-irmão ou sua meia-irmã. Penny vive com seu companheiro Karl Stephens em Sheffield, Inglaterra.

“Só de imaginar que Mackenzie, que tem três irmãs, iria acompanhar a gravidez delas sem poder ter um filho… Caí em lágrimas quando ouvi a palavra infertilidade”, disse Penny ao jornal Daily Mail. “É o que a maioria das mulheres deseja: ser mãe”.

Este blog, Mulher 7×7, volta e meia discute se toda mulher deseja mesmo ser mãe como receita inescapável de realização e felicidade, como no post da Marcela, Por que ter filhos?. As discussões são sempre passionais.

No caso de Penny, esta é uma verdade absoluta e irrevogável – ela se define como mãe em expediente integral. Além de Mackenzie, tem mais quatro filhos: Jaymie-Leigh, de cinco meses, Morgan, 6 anos, e os gêmeos William and Abigail, 3.

Ao ler esta notícia, fiquei surpresa. Até agora, com toda a revolução na medicina de reprodução, as histórias mais frequentes de congelamento envolvem esperma e não óvulos. Há casos emocionantes, como o publicado na revista ÉPOCA na edição que está nas bancas. Em reportagem de Humberto Maia Junior, uma foto mostra a professora paranaense Katia Lenerneier abraçada amorosamente com o marido, Roberto. Ele morreu há 11 meses, antes de ela engravidar, mas seu filho deverá nascer em julho. O sêmen de Roberto foi congelado, porque ele estava doente. Katia só conseguiu concretizar o procedimento com autorização judicial. Mas agora, no Brasil, tornou-se possível legalmente usar na fertilização óvulos e espermatozoides de parceiros que já morreram.

Há algumas histórias, hoje em dia, de mulheres que congelam seus óvulos para poder engravidar mais tarde, com mais idade. São mulheres que, por um motivo ou outro, profissional, pessoal ou médico mesmo, decidem adiar a gravidez e não querem se arriscar a perder o momento do relógio biológico. A ciência já criou uma dezena de alternativas de famílias não convencionais, como vimos recentemente aqui no blog: os gêmeos que nasceram de barrigas diferentes.

Mas, aos meus olhos, o caso divulgado pela imprensa inglesa é inédito. Uma mãe congelar óvulos para um dia serem inseminados na própria filha?

Mães que “emprestam” seu corpo à filha, servindo do que se convencionou chamar de “barriga solidária”, já frequentam há algum tempo o noticiário das alternativas de reprodução.

O caso da mãe Penny e da filha Mackenzie é especial porque a Síndrome de Turner é rara. Há várias doenças relacionadas com essa síndrome, mas são males que podem ser curados por cirurgias ou medicamentos. A filha de Penny não escuta direito e tem problemas de fala. Mesmo assim, a mãe espera que um dia ela se apaixone e queira formar uma família. Neste caso, os óvulos de Penny estarão disponíveis se o processo de armazenamento do material genético não apresentar falhas.

Mães só podem doar óvulos até 40 anos de idade porque, depois disso, a qualidade dos óvulos cai e o risco de o material deteriorar é maior. Mesmo assim, armazenar e congelar esperma é muito mais fácil e certo do que óvulos. Várias experiências mal-sucedidas com óvulos congelados mostram que a ciência ainda tem muito a progredir para que esses sonhos não acabem em frustrações, porque o óvulo tende a estragar após longos períodos de congelamento.

(leia mais: É tempo de congelamento de óvulos? Saiu na “Crescer”)

Penny acha que só está fazendo o que toda mãe faria para driblar a infertilidade da filha. Claro que as suas outras filhas também poderiam doar, disse a inglesa, mas ela não deseja jogar essa responsabilidade nas irmãs da pequenina Mackenzie. Ela deseja garantir logo uma doação que possa amenizar, caso dê tudo certo, outras limitações que e menininha terá em sua vida adulta.

“Algumas pessoas me criticaram, acharam minha atitude esquisita, meio doentia, mas a maioria das pessoas me apoia”, afirmou Penny.

Josephine Quintavalle, que trabalha numa instituição especializada em Ética de Reprodução (CORE), disse compreender a tristeza e Penny, mas acha que sua decisão de congelar óvulos não é “prática nem ética”.  Imagine, disse ela, “essa criança seria seu meio-irmão, e o marido de Mackenzie fertilizaria os óvulos de sua sogra”.

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