Fantéstico/TV Globo
No programa revolucionário da TV afegã, elas usam máscaras, mas agora, dez anos depois da queda do regime dos talibãs, têm a voz, sempre negada às mulheres.
No Afeganistão, um programa de entrevistas faz história. As convidadas são vítimas de violência doméstica. Elas finalmente têm uma chance de falar em público sobre a situação da mulher naquele país.
Não é preciso conhecer o idioma para entender a dor e o medo. A mulher afegã que conta seu drama na televisão tem o rosto coberto por uma máscara metade azul – como a burca, a roupa símbolo da opressão – metade branca, por uma inocência perdida.
No programa revolucionário da TV afegã, elas continuam sem rosto, mas agora, dez anos depois da queda do regime dos talibãs, têm a voz, sempre negada às mulheres. Depois de ouvir Yasmin, que aos 13 anos foi vendida pelo próprio pai ao marido que a torturava sistematicamente, a autoridade religiosa que está na platéia declara: “Isso é contra o islamismo e contra a lei.”
Na audiência, há também especialistas em direitos humanos e conselheiros. O programa foi ideia de um homem de 28 anos, inspirado no silêncio da própria mãe. Há milhares de mães sem voz, sem oportunidade de falar do seu sofrimento.
Outra mulher agora veste a máscara. Soraya conta que foi forçada a se casar aos 15 anos com um estuprador, que cometia seus crimes dentro de casa. Soraya temia que ele atacasse a própria filha. O diretor diz que sabe que não pode fazer muito por essas mulheres, mas espera evitar que outras passem o mesmo, e mudar a mentalidade dos homens em seu país.
Soraya diz que com a máscara se sente segura e que precisava falar para proteger seus filhos. A reportagem da rede CNN correu o mundo esta semana. Se no Afeganistão a violência sofrida pelas mulheres era assunto proibido, no Brasil é preciso trazer à luz esse drama que, de tão frequente, muitas vezes deixa de ser visto.
“Eu tinha medo de denunciar ele, eu tinha medo que ele me matasse”, revela uma brasileira.
Nos primeiros dez meses de 2010, mais de 600 mil mulheres procuraram ajuda através da central 180, um serviço de proteção oferecido pelo governo federal.
“Para mim estava acabada a minha vida, eu não tinha mais para onde ir. Você não tem saída de nada, falei: ‘Pronto, vai acabar assim a minha vida, se ele não me matar eu vou me matar’. Porque vai acabar, eu não tinha mais forças. e quando eu descobri dentro de mim um pedacinho de nada de força, foi quando eu olhei para os meus filhos e vi que eles não mereciam passar por aquilo, e aí eu consegui forças e saí daquilo”, conta a mulher. “Acabou. O que ela te fazia de mal era enquanto você permitia. Você deu o primeiro passo, agora acabou.”
Há centros de atendimento à mulher em 268 municípios brasileiros. Poucos diante do número de vítimas. Mais de um milhão por ano, segundo o IBGE. Ao todo, 68% das vítimas sofrem lesões corporais; 57% são agredidas todos os dias; 70% dos agressores são os maridos, companheiros ou ex-companheiros.
Mas talvez este número seja o retrato da situação brasileira: Em dez anos, foram 37.945 certidões de óbito em que a causa da morte de uma mulher é atribuída a agressão intencional de terceiros. Não entram nesse número outras causas além da violência dirigida à mulher. São mais de dez mortes por dia.