Mães cada vez mais jovens

Bruna Sensêve – JORNAL DE BRASILIA

Luciana tem 16 anos e um bebê de três meses. Ao contrário de muitas, ela pretende continuar a estudar. Quase 24% das mulheres com filhos no Varjão e Estrutural têm entre 10 e 19 anos

 

Varjão do Torto e a Estrutural estão entre as cidades com maior índice de mães jovens. Quase 24% mulheres com filhos têm entre dez e 19 anos nestas regiões. É o que mostram dados divulgados esta semana pela Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF), O percentual está muito acima da média do Distrito Federal, que atinge 13% das gestações registradas no ano de 2009. Em terceiro lugar está o Recanto das Emas, com 19,3% de jovens mães. Nos dados, a região do Varjão também se destaca pelo maior índice de gestantes com menos de 15 anos de idade ? 2,1% contra 0,5% do DF.

Segundo moradores do Varjão, é muito comum encontrar jovens grávidas pelas ruas da cidade. “Hoje, nem me espanto quando encontro meninas novinhas grávidas por aqui. Já ficou estranho ver mães entre 30 e 40 anos.”É o que conta Ingrid dos Santos, 19 anos, que hoje cuida da segunda filha, nascida há apenas 13 dias. O primeiro filho veio aos 16 anos. Ela confessa que enxerga as duas gestações com normalidade, como só mais uma etapa da vida. Ingrid não tem um relacionamento com o pai do primeiro filho e conta que o pai da segunda, atualmente, mora em Recife (PE). “Não sei o que vai acontecer daqui para a frente. Agora, com dois filhos, vou precisar trabalhar. Não sei se volto a estudar e esse não é meu foco agora”, detalha.

ESTUDO INTERROMPIDO

Ingrid iria começar o 3º ano do Ensino Médio quando soube que estava grávida e, por não se sentir confortável, preferiu interromper os estudos. Ela mora com a mãe, o irmão e os dois filhos numa casa no Varjão. A mãe está desempregada e a única ajuda financeira que a família recebe é o bolsa-família, garantido pela frequência escolar do irmão. O Centro de Referência da Assistência Social (Cras) do Varjão, ligado à Secretaria de Desenvolvimento Social e Transferência de Renda (Sedest), desenvolve o Programa Mãezinha Brasiliense, no qual gestantes comparecem a encontros mensais para troca de experiências e informações. Ingrid participou do grupo durante os últimos meses de gravidez, após ser encaminhada pelo Posto de Saúde da cidade, onde fez seu pré-natal. Os encontros reúnem entre 25 e 30 gestantes, em sua maioria menores de idade. As assistentes sociais do local explicam que a intenção é informar e cuidar dessas grávidas que, normalmente, têm situações complicadas relacionadas à convivência familiar.

A psicóloga e docente da Universidade Católica de Brasília (UCB) Sílvia Borges conta que questões emocionais são muito recorrentes entre adolescentes que ficam grávidas precocemente. “Não podemos culpar a falta de informação porque elas têm acesso. O problema é a conscientização nessa etapa da vida em que o imediatismo, sem considerar as consequências, é muito forte. O adolescente não processa a informação da mesma forma que um adulto.” SAIBA De acordo com a pesquisa Saúde Brasil-2009, divulgada pelo Ministério da Saúde no final de 2010, o índice nacional de fecundidade caiu 21,5% entre adolescentes de 15 a 19 anos e 16,4% entre as adultas jovens de 20 a 24 anos. O número de nascimentos também caiu de 3,2 milhões para 2,9 milhões. A tendência de queda se mantém em todas as regiões do país, com exceção da Norte. O Centro-Oeste aumentou a proporção de nascimentos com 7 ou mais consultas de pré-natal de 50,5% para 61,5%. PEDRO LADEIRA

Problema é geral

Mesmo com os maiores índices entre os moradores de áreas mais precárias do DF, a psicóloga Sílvia Borges acredita que não é uma questão associada inteiramente à população de baixa renda, mas sim a fatores comportamentais da juventude. “Muitas têm baixa autoestima e não usam o preservativo porque o parceiro não quer.

Para manter a relação, ela aceita as condições. Isso acontece em todas as classes sociais.” Um ponto de destaque na situação dessas jovens mães é que a maioria não volta a estudar. A falta de presença do pai durante a gestação e o apoio familiar pesam na hora de decidir qual caminho tomar após o nascimento da criança.

Por consequência, a baixa escolaridade pode levar à falta de perspectiva profissional, pois as opções se limitam a empregos com exigência intelectual menor. “Na maior parte das vezes, a menina leva a gravidez sozinha e fica destinada a subempregos.” Esse não parece ser o caso de Luciana (nome fictício), 16 anos, que há três meses deu à luz ao seu primeiro filho. Ela mora na Estrutural com a família e conta que no momento em que descobriu a gravidez ficou bastante assustada, mas não conseguiu conter o entusiasmo do companheiro.

“Ele ficou muito feliz com a notícia e noivamos. No começo achei que ía me atrapalhar muito, pois tinha a intenção de buscar um estágio para complementar minha formação. Hoje, vejo que tudo pode acontecer ao seu tempo”, diz a jovem.

Questionada sobre quais são seus planos para quando o bebê estiver maior, não hesitou. “Vou voltar a estudar. Quero concluir o Ensino Médio para depois procurar um emprego. O casamento só deve vir depois que eu resolver isso, quando eu for maior de idade”, planeja Luciana.

Ela explica que só deixou de frequentar as aulas quando soube que sua gravidez era de alto risco e que precisava de repouso absoluto. Depois que o bebê nasceu, tentou se matricular, mas a escola próxima à sua residência não tinha vaga. Esperançosa, ela aguarda o dia 19 deste mês, quando foi prometido pela secretaria do Centro de Ensino uma chance para encaixe nas turmas.

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