Solange Azevedo – revista ISTO É
Imagens de um programa da tevê estatal iraniana e a divulgação de fotos na internet espalharam boatos de que Sakineh teria sido solta. Mas ela continua no corredor da morte
ENGANO
Sakineh apenas gravou imagens
para a tevê iraniana
Tudo não passou de um mal-entendido. Sakineh Ashtiani, condenada por adultério e pelo assassinato do marido, continua no corredor da morte. Boatos sobre sua libertação chegaram à imprensa internacional depois que a Press TV, emissora estatal iraniana, começou a anunciar que, na noite da sexta-feira 10, transmitiria um programa especial sobre o caso. Na propaganda, Sakineh e o seu filho mais velho, Sajjad Asgharzadeh, aparecem na casa da família. As imagens, divulgadas pela internet, confundiram ONGs de direitos humanos que encabeçam uma campanha internacional para salvá-la. “Estou muito feliz pelo filho dela, que lutou bravamente e sozinho no Irã para defendê-la e dizer ao mundo que ela é inocente”, chegou a declarar Mina Ahadi, do Comitê Internacional contra a Lapidação.
A Press TV desfez a confusão horas depois. Publicou em sua página na web um comunicado relatando que Sakineh não fora libertada e que a produção do “Iran Today” levara a iraniana à sua casa apenas para gravar imagens “na cena do crime”. No texto, Sakineh é descrita como “assassina confessa” e adúltera. A emissora afirma ainda que Sajjad e Hootan Kian, advogado de Sakineh, também apareceriam no programa. Os dois foram presos em outubro. O drama de Sakineh veio à tona depois que Sajjad lançou uma campanha virtual para libertá-la.
Em 2006, Sakineh foi condenada a 99 chicotadas por, supostamente, ter mantido “relações ilícitas” com dois homens. Um deles, assassino de seu marido. De acordo com um dos advogados dela, Mohammad Mostafaei, apesar de não haver provas do adultério, o processo foi reaberto porque a Justiça suspeitou que ela tivesse participação na morte do marido. Desde então, Sakineh está presa. Não se trata, porém, de um caso isolado. Pelo menos outras 12 mulheres e três homens, condenados à morte por apedrejamento, aguardam no corredor da morte no Irã.