ROGERIO WALDRIGUES GALINDO, GAZETA DO POVO – COM AGÊNCIAS
Presidente confirma novos nomes, mas não consegue encontrar lideranças femininas para primeiro escalão. Partidos aliados não estariam colaborando
Lideranças petistas já admitem que a presidente eleita Dilma Rousseff não deverá conseguir colocar um terço dos ministérios nas mãos de mulheres, conforme pretendia inicialmente. O número será reduzido por vários motivos, como a falta de lideranças políticas femininas e a ausência de quadros nos partidos aliados. Apenas o PT estaria oferecendo nomes de mulheres para o primeiro escalão.
Até o momento, entre oficializados e não oficializados, o ministério de Dilma já tem 16 nomes – o que significa que pouco menos da metade das 37 pastas existentes já foi ocupada. Apenas uma mulher já foi garantida no ministério: Miriam Belchior, do Planejamento. Hoje, por exemplo, a equipe de transição deve confirmar os nomes dos ministros “palacianos”, que formam o núcleo duro da política. Nenhuma mu lher integra a lista.
“Há uma dificuldade em achar nomes. Vivemos em uma sociedade machista”, afirma o deputado federal André Vargas (PT-PR), secretário nacional de Comu nicação do partido. “É só ver na Câmara. São 36 deputadas para 513 cadeiras. Elas só ocupam 6% da Casa”, exemplifica. Segundo ele, o país abriu pouco espaço até hoje para que surgissem lideranças femininas. Vargas diz que Dilma está fazendo um esforço para encontrar mais mulheres para o primeiro escalão, mas há dificuldades. “Talvez não seja um terço, mas 20%”, diz.
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Convite
Gerdau vai integrar núcleo de gestão do governo
Agência Estado
O empresário Jorge Gerdau aceitou ontem o convite da presidente eleita Dilma Rousseff para integrar o núcleo de gestão do próximo governo. O formato do núcleo ainda não foi definido, mas Gerdau conversou com Dilma sobre instrumentos para aperfeiçoar a gestão pública.
“O tipo de mecanismo que tem hoje no PAC [Programa de Aceleração do Crescimento] tem de se estender a toda uma estratégia de governo. No fundo, é criar mecanismos de aprimoramento de gestão”, disse Gerdau.
Ao falar de Dilma, Gerdau comentou que considera a presidente eleita uma “gestora muito sólida, muito firme, com entusiasmo de fazer as coisas se aprimorarem”. O empresário espera um aumento da qualidade do serviço público em áreas como saúde e educação.
Gerdau é amigo de Dilma. Durante a campanha, a petista costumava citar uma frase atribuída a ele, de que “meta que se cumpre é meta errada”.
De acordo com as prestações de conta entregues ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) pelas campanhas dos presidenciáveis, o grupo Gerdau doou R$ 1,5 milhão para a campanha da petista – e o dobro para o tucano José Serra, que recebeu R$ 3 milhões.
A senadora eleita Gleisi Hoffmann (PT-PR) confirma a dificuldade e diz que um dos problemas está nos partidos aliados. “O PMDB, por exemplo, não tem quadros femininos para indicar. Tenho a impressão, inclusive, de que se eles tivessem uma mulher para indicar teriam o quinto ministério”, afirma, em referência ao desejo do partido de indicar cinco nomes para o primeiro escalão.
Quando têm nomes, muitas vezes os partidos também não têm interesse em apresentá-los. É o caso do PCdoB, por exemplo. Dilma teria interesse em nomear a deputada federal Manuela Dávila (PCdoB-RS) para o Ministério do Esporte. No entanto, o partido, que deve ter apenas uma vaga para preencher, faz questão de manter Orlando Silva na pasta.
Entre as mulheres que ainda poderão ser indicadas estão a paranaense Márcia Lopes, atual ministra do Desenvolvimento Social; a deputada federal Iriny Lopes, do Espírito Santo, que assumirá a Secretaria de Direitos Humanos; e Izabella Teixeira, que poderá permanecer no Meio Ambiente.
Outros ministérios que poderão ser ocupados por mulheres, embora ainda não haja nomes definidos, são o da Pesca e a Se cretaria de Políticas para as Mulheres. “De qualquer modo, será uma representação feminina maior do que no governo Lula”, diz Gleisi.
Patriota
Uma das pastas que Dilma gostaria de ver sob o comando de uma mulher foi preenchida ontem. E por um homem. Antônio Patrio ta foi escolhido pela presidente para o Ministério das Relações Exteriores. Segundo se diz, a ideia era achar uma diplomata para o cargo, mas não foi possível.
Atual secretário-geral das Relações Exteriores, o embaixador ainda não foi confirmado no posto. No entanto, ontem mesmo, depois de sua indicação ter vazado, ele foi saudado por amigos diplomatas como o novo chanceler.
Ao participar da abertura da III Conferência Brasileiros no Mundo, Patriota ouviu em silêncio a fala do embaixador Jerônimo Moscardo, que o cumprimentou pela nomeação. “Ele já foi indicado pela presidente Dilma [para o cargo]” afirmou. Após participação no evento, Patriota foi questionado por jornalistas sobre a notícia, mas se recusou a falar com a imprensa que o aguardava.