Albert Steinberger / Manoel Lenaldo – Bom Dia DF > 02/12/2010 > Reportagem
Movimento nacional de parteiras tenta trazer de volta o parto em casa. Risco para a mulher é mínimo, se ela tiver acompanhamento pré-natal. Proposta é apoiada pelo Ministério da Saúde.
A profissão de parteira está quase em extinção nas grandes cidades. Um grupo de parteiras de diferentes pontos do país e do mundo está reunido em Brasília para uma conferência sobre a humanização do parto. E elas têm receitas bem curiosas.
“Você pode, com um café bem quentinho, dar para ela um pouquinho daquele azeite de mamona, que aquilo é necessário para a mulher. E um banho bem quentinho e acota ela, bem acotada. Um algodãozinho no ouvido e um paninho no queixo”, conta a parteira Janira Rocha de Abadia. “Na hora que o neném nasce, a primeira coisa na boquinha deles é o café amargoso para não dar cólica”, explica a parteira Bernarda Pereira Siqueira.
Cada vez mais os partos no DF são feitos em hospitais, mas as parteiras garantem que em casa o nível de stress da mulher é menor. Mary Zwart, uma parteira da Holanda, acredita que, com menos adrenalina, o corpo da mãe é capaz de produzir naturalmente os hormônios necessários para o parto. “Tem tantos hormônios para nascer e um muito mal é a adrenalina. A adrenalina você faz quando está estressado, é uma contradição para o parto normal. É preciso de ocitocina, é preciso de endorfina”, afirma.
A professora canadense Ellen Rodnet fez uma pesquisa com dez mil mulheres e concorda que um ambiente que promova o parto natural é melhor e pode ajudar até mesmo na amamentação. “Não há risco adicional. Se ela tiver uma complicação e precisar de tecnologia, a assistência está disponível, mas não é usada se não for necessária”, explica.
O Brasil está na contramão. De acordo com a professora da UnB Daphne Rattner, nós somos os campeões mundiais em cesariana. 45% dos nascimentos são cirúrgicos, quando o recomendado pela Organização Mundial da Saúde são de no máximo 15%.
“É uma linha de produção. Então, a cesariana representa no imaginário da nossa cultura um parto eficiente, um parto que demora menos tempo, um parto controlado. Nós sabemos quando ele vai acontecer e podemos agendar e o que acabou acontecendo foi que os estudos científicos acabaram mostrando que este parto não é o melhor para mulher e para o bebê”, destaca.
Estudos mostram que as mulheres precisam de tempo na hora do parto. De acordo com o movimento que defende o parto humanizado, as mães devem poder escolher como vão ter o filho e tentar fazer da forma mais natural possível.
Nesta tarefa, vale até mesmo inovar. Foi o caso do Ravi que nasceu debaixo d’água. Os pais, Dani e Magnus, optaram por fazer o parto em casa, acompanhados de uma parteira. “O parto do Ravi foi muito rápido. Eu já estava durante a semana com contrações, com dilatação. Quando entrei mesmo em trabalho de parto foi bem rápido. A gente estava em casa eu senti muita necessidade de água. A gente encheu uma piscina aqui no apartamento e foi dentro da água. Acho que foi muito mais suave e menos agressivo pro meu corpo e menos traumático pro neném, porque ele sai da água e já vai para a água”, relata a atriz Dani Neri.
Os encontros de parteiras são promovidos pelo Ministério da Saúde para reduzir a mortalidade materno-infantil no Nordeste e na Amazônia Legal. As parteiras capacitadas tornam-se multiplicadoras dos conhecimentos adquiridos, melhorando o atendimento nas áreas onde atuam, geralmente desprovidas de médicos e de hospitais.