Tatiana Félix *
Adital – No mês em que se intensificam as campanhas de enfrentamento e eliminação da violência contra as mulheres, a Missão Internacional “Pelo acesso para a justiça das mulheres na Região Mesoamericana”, em visita à Nicarágua, afirmou que a violência contra a mulher é um problema que tem raízes culturais profundas, onde se valoriza a superioridade do homem e a inferioridade e subordinação das mulheres.
A instituição que trabalha para prevenir, punir e erradicar o feminicídio, e que também tem o objetivo de dar visibilidade ao aumento de casos de violência contra as mulheres, aproveitou o momento para dar algumas recomendações aos organismos internacionais de direitos humanos.
A Missão chamou atenção para a importância de se considerar os casos isolados de violência doméstica, intrafamiliar, torturas e abusos. Para a organização, estes casos fazem parte de uma situação estrutural “de um fenômeno social e cultural enraizado nos costumes e mentalidades, de uma cultura de violência e discriminação baseada no gênero”.
Após entrevista com vítimas e familiares, a Missão Internacional encontrou alguns obstáculos que limitam o direito à vida livre de violência das mulheres nicaraguenses. De acordo com os relatos coletados, a entidade identificou falhas jurídicas, políticas públicas insuficientes e falta de uma cultura de respeitos aos direitos humanos das mulheres.
O sistema desigual de divisão de poder entre homens e mulheres, onde a subordinação feminina requer uma profunda transformação cultural da sociedade, foi um dos aspectos apontados como impeditivo para o avanço das mulheres. Além disso, a origem étnica, a distribuição econômica desigual e o local de moradia também são fatores que contribuem para o desrespeito às mulheres.
“A violência contra as mulheres é tolerada, protegida e com uma ampla participação dos familiares dos agressores”, sublinhou. Alguns dos casos exemplificados é o de Susana Zamorano que teve suas mãos cortadas pelo parceiro, o de Fátima que sofreu violência sexual e o de tantas meninas que são violadas por pais, padrastos, familiares, professores e outros.
A Missão Internacional ressaltou que em casos de morte de mulheres, não estão sendo considerados as marcas de agressões, e que há muitas contradições nos processos penais.
A Missão finalizou chamando a atenção do Estado para a tarefa importante que realizam as organizações de mulheres e da sociedade civil que dão assistências às vítimas de agressões e sobreviventes de ataques violentos. A instituição destacou ainda que é necessário realizar campanhas de sensibilização sobre as consequências que marcam a vida das vítimas de violência de gênero.
As informações são baseadas na análise feita pela doutora Julia Monárrez, pesquisadora e especialista no tema do feminicídio do Colégio da Fronteira Norte no México e publicada pelo Fundo Centro-americano de Mulheres.
* Jornalista da Adital