URUGUAI: Persistem desigualdade de gênero e discriminação na mídia

SEMlac *

Por Cristina Canoura – Tradução: ADITAL

Adital – Como em outros 99 países, no Uruguai as notas jornalísticas continuam reforçando e não questionam os estereótipos de gênero. As mulheres são sujeitos de notícias na área social (61%), enquanto que em política e governo apenas chegam a 8%, conclui o relatório nacional do IV Projeto de Monitoramento Global de Meios (GMMP) 2010.

O monitoramento aconteceu no dia 10 de novembro de 2009 em mais de 100 países e trata-se da investigação mundial mais exaustiva em relação ao tema de gênero na mídia.

O primeiro, em 1995, abarcou 71 países e o de 2010 foi coordenado pela Associação Mundial para a Comunicação Cristã (WACC, por suas siglas em inglês), juntamente com o Media Monitoring Africa (MMA), com sede na África do Sul, encarregado pela análise da informação coletada.

Centenas de voluntários/as pertencentes a diferentes organizações, acadêmicos, estudantes de comunicação, jornalistas, sindicatos de jornalistas, redes de meios alternativos e grupos vinculados à Igreja coletaram a informação.

No Uruguai, as responsáveis pela coleta foram as comunicadoras Cecilia Lucas, Mariangela Giaimo, Elena Fonseca, a jornalista Ana Artigas, Ana Sarasolacomo administrativa e Francesca Casariego, desenhista gráfica. O trabalho contou com o patrocínio do Fundo das Nações Unidas para a Mulher (Unifem) e a organização não governamental “Cotidiano Mujer”.

“O monitoramento mundial de meios 2009/2010 no Uruguai não aponta dados alentadores, mais bem reforça as já conhecidas desigualdades de gênero nos meios de comunicação, tanto nas mulheres como sujeitos da notícia, quanto na presença das jornalistas nos meios de comunicação”, sustentam as responsáveis pelo trabalho de campo.

Ressaltam que no dia escolhido para a coleta dos dados, o Uruguai encontrava-se em um momento eleitoral para a presidência da República, “motivo pelo qual as notícias tiveram um marcado traço partidário”.

Além disso, nesse dia e nos subsequentes, o descobrimento de um volumoso arsenal, em casa de um particular, ao qual foram atribuídas inicialmente motivações políticas (logo desmentidas) ocupou grande espaço nas primeiras páginas e os mais importantes espaços informativos.

Para o relatório, foram monitorados os noticiários centrais dos quatro canais de TV aberta (Canal 10, Canal 12, Canal Nacionbal e Canal 4); os quatro jornais diários que circulam na capital (El País, La República, El Observador eÚltimas Noticias) e quatro informativos das rádios AM de maior difusão (El Espectador, Rádio Monte Carlo, Rádio Sarandí e 1410 AM Livre; não foi possível decodificar os dados dessa última devido a falhas técnicas).

Foram decodificadas 48 notas dos quatro jornais analisados, 38 notícias de rádio e 131 notícias de TV.

Em relação à participação das mulheres como profissionais da informação, foi comprovado que 61% cobre a área social, enquanto apenas 8% das jornalistas cobre a área política e governo.

Em relação com seu papel como fonte de informação, foram apenas 16%. Ao comparar homens e mulheres como sujeitos da notícia, os homens são maioria (92%), ao serastrear entre funcionários de governo, políticos, presidente, ministros de governo, líderes políticos; em seguida vêm os esportistas, atletas, jogadores (98%) e criminosos, delinquentes suspeitos (86%). Praticamente, não houve diferenças na eleição de fontes femininas se a nota foi reportada por uma mulher ou por um homem.

A presença de mulheres como repórteres é de 29% e, no caso da TV, esse número se eleva para 31%. 58% das notícias internacionais foram reportadas por homens e 42% por mulheres. Das notícias nacionais, 76% estiveram a cargo de homens e 23% a cargo de mulheres.

Não houve notas que destacaram a igualdade de gênero, nem a desigualdade. 98% dos temas de política e governo reforçam estereótipos “já que são tratados como temas estritamente masculinos; nas notas não havia fotografias, não aparecia a mulher, mesmo que tivesse sido nomeada na nota”, registra o relatório uruguaio.

Nas notas one a mulher é central na notícia, 74% das reportagens foram feitas por homens e 26% por mulheres e são muito poucas as notas em que a mulher é ema central.

O Relatório Nacional do Projeto de Monitoramento Global de Meios 2010 foi entregue por suas autoras na primeira semana de outubro a representantes da Comissão de Gênero da Associação de Imprensa Uruguaia (APU).

Difundir os resultados do monitoramento, entregando uma cópia aos executivos e jornalistas dos meios é uma das propostas das responsáveis pelo relatório uruguaio. Elas entendem que “dar visibilidade a essa realidade é um passo para mudá-la; colocar a desigauldade que existe nos meios em cifras é uma forma de gerar uma mudança”.

Sugerem também que outro caminho para garantir a equidade pode ser “gerar espaços de reflexão onde as cifras levantadas podem ser seguidas por sucessivos monitoramentos e provocar o debate sobre novas abordagens possíveis para os/as trabalhadores/as dos meios”.

* Serviço de Noticias da Mulher da América Latina e Caribe

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