O racismo ainda aprisiona

Iêda Leal

O Dia da Consciência Negra, comemorado em 20 de novembro, é um momento de reflexão sobre a presença do negro na sociedade, de resgate das raízes negras do povo brasileiro e também de comemoração da conquista da liberdade da comunidade negra. A lei federal 10.639/03, que instituiu a data, é a mesma que tornou obrigatório o ensino da cultura e da história africana e afrobrasileira na rede básica de educação.

Esses dois atos – a criação de uma data para reflexão e a obrigatoriedade do ensino da cultura negra – estão interligados não só por causa da lei, mas também porque o ambiente escolar é o mais propício para se enfrentar os obstáculos que ainda existem para uma sociedade livre do racismo e de qualquer preconceito.

A história do povo negro se mistura com a dos outros povos desde o início de formação da sociedade brasileira. A contribuição da cultura africana e afrobrasileira é inegável. Os personagens que se sacrificaram e que se tornaram referência de luta e exemplo de coragem não só de uma raça, mas da humanidade, como Zumbi dos Palmares, Dandara, Luiz Gama, Lélia Gonzales e tantos outros enriquecem a história do nosso País.

A escravidão foi abolida no final do século 19 e desde então a população negra vem conquistando espaços importantes, mas ainda falta muito. Vieram as políticas afirmativas e de inclusão, o Estatuto da Igualdade Racial, a Lei 10.693/03, e outras tantas ações, mas sem que haja uma luta para conscientizar a sociedade, para superarmos o preconceito e as diferenças, todas essas leis terão pouco efeito.

Muitas escolas desenvolvem trabalhos significativos, mas são ações isoladas. Precisamos e vamos exigir que o poder público se organize e enfrente a situação de forma concreta. É preciso que haja a formação necessária para os trabalhadores em educação, materiais didáticos, campanhas de combate ao racismo e o acompanhamento sistemático das atividades para avaliação da eficácia.

Não vivemos mais presos em senzalas, nem acorrentados, mas isso não significa que somos completamente livres. As condições de vida da população negra no Brasil ainda são lamentáveis. O racismo é bem visível e aprisiona o negro na miséria e na exclusão.

Por isso a importância de levar essa discussão para a escola. O estudante, quando absorve conhecimento, multiplica a informação. Pois leva o aprendizado para sua casa, familiares, vizinhos e comunidade. Uma criança livre de preconceito se tornará um adolescente consciente que será um cidadão pleno e capaz de tratar todos com absoluto respeito.

Iêda Leal é presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Goiás (Sintego) e coordenadora do Centro de Referência Negra Lélia Gonzales

 

Artigo publicado em 20/11/2010 no jornal  O POPULAR – GO

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *