Cfemea
Dia 20 de novembro, data em que comemoramos o Dia da Consciência Negra, é a data em que celebramos a cultura, a história e a resistência d@s african@s e suas/seus descendentes no Brasil. É a data em que celebramos nossa insistência em lutar por um mundo em que o racismo não tenha lugar.
Comemoramos a força e a coragem de homens e mulheres que, como Zumbi dos Palmares, Anastácia, João Cândido Felisberto, Lélia Gonzalez e tant@s outr@s, tiveram a ousadia de lutar contra as injustiças. Pessoas negras que não reconheceram o lugar que lhes é atribuído pela sociedade racista, sexista, elitista, na qual são tomad@s por “indolentes”, “atrevid@s”.
Nós, @s negr@s, ainda perfazemos uma fração pequena no Congresso Nacional, nas universidades, postos de destaque em empresas privadas e outros espaços de poder. E continuamos sendo a maioria d@s pobres, trabalhadoras/es informais, empregadas domésticas com poucos direitos trabalhistas, vítimas da violência urbana. Em pleno século XXI, nossas manifestações religiosas são perseguidas com a conivência de setores do Estado e ainda falta muito para que o direito d@s quilombolas a seus territórios ancestrais seja reconhecido de fato. Nós, mulheres negras, ainda não gozamos do direito de sermos vistas como pessoas íntegras, inteligentes, bonitas. Não usufruímos dos direitos reprodutivos e tampouco nos livramos dos absurdos estereótipos sexuais que sempre foram e ainda nos são impostos.
Mas, inspiradas na coragem d@s negr@s que nos antecederam, encontramos espaço em nossas jornadas de trabalho duplas e triplas para enfrentar coletivamente o racismo. Seguimos mostrando para o mundo que a discriminação, o preconceito e o racismo não conseguem nos silenciar: não aceitamos menos do que ter nossos direitos humanos respeitados, manifestamos o orgulho de nossa herança africana e negra e nos organizamos politicamente para acabar com as inúmeras formas de violência que sofremos.
Apesar de nossas lutas seculares, as tentativas de instituir políticas públicas de promoção de justiça social enfrentam muita resistência da elite conservadora, que não aceita a revogação dos privilégios históricos concedidos a homens brancos, ricos, heterossexuais. Isso fica evidente quando constatamos que o Projeto de Lei Orçamentária para 2011 destina o menor montante dos últimos quatro anos para políticas de promoção da igualdade racial e de gênero, como mostra análise do CFEMEA (http://74.53.188.162/~cfemeao/orcamento/index.php?option=com_content&task=view&id=209&Itemid=1).
Em novembro de 2010, a Revolta da Chibata completa 100 anos. Há um século, o marinheiro João Cândido Felisberto liderou o movimento de militares da Marinha do Brasil pelo fim dos castigos físicos na corporação. Em carta enviada ao governo, ele reivindicava a abolição das punições físicas, a melhoria da comida e a anistia dos revoltosos, ameaçando bombardear o Palácio do Catete, então sede do Executivo. Como punição, João Cândido sofreu torturas e foi confinado ao Hospital de Alienados. Só foi anistiado pelo Estado brasileiro em 2008.
A luta do Almirante Negro, porém, está na memória d@s negr@s e daquelas/es que se unem a nós por um mundo justo. Como ele, perseveramos diante da resistência da elite conservadora e racista. Neste 20 de novembro, celebramos o centenário da Revolta da Chibata e nos revigoramos para continuar a trilhar o caminho desbravado pel@s heroínas e heróis negr@s que nos antecederam.