Criada em março de 1987, Maria Mulher é uma organização feminista, coordenada por mulheres negras com formação e experiências diversas, favorecendo a realização de um trabalho interdisciplinar. Desde então, Maria Mulher vem pontuando a defesa dos direitos das mulheres e a luta pela melhoria das condições de vida da população afrobrasileira. Nesta quarta-feira (17), seu trabalho foi reconhecido pela Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul.
SEMANA DA CONSCIÊNCIA NEGRA
Edição: Letícia Rodrigues – MTB 9373 Foto: Marcelo Bertani / Ag AL
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Durante a sessão solene desta quarta-feira (17), em homenagem ao Dia da Consciência Negra, deputados de vários partidos ocuparam a tribuna para destacar a contribuição dos negros para a construção do Brasil. A governadora Yeda Crusius enviou uma mensagem escrita, lida pelo deputado Raul Carrion (PCdoB), que presidiu a sessão. “O povo negro marca a história do estado e do país com coragem, perseverança e alegria”, sustentou.
Na solenidade também foram entregues o Prêmio Zumbi dos Palmares e o Troféu Carlos Santos. Os agraciados com o Prêmio Zumbi dos Palmares foram: José Roberto Moreira (Área Cultural), Centro de Apoio ao Pequeno Agricultor – Núcleo Pelotas (Área Social), João Batista Lima Conceição (Área Política), Paulo Roberto Silva (Área Religiosa), e Paulo César Fonseca do Nascimento, o Tinga (Área Esportiva).
O Troféu Carlos Santos foi entregue a Rubens da Silva, o Saravá (Categoria Saúde), a Adriane Santos da Silva (Categoria Educação), a Juremir Machado da Silva (Categoria Empreendedorismo Cultural), a ONG Maria Mulher (Categoria Políticas Afirmativas para as Mulheres Negras), e ao Instituto de Assessoria às Comunidades Remanescentes de Quilombos – IACOREQ (Categoria Resistência Quilombola).
Manifestações
A deputada Marisa Formolo, que falou em nome do PT, declarou que quem tem a oportunidade de passar por alguns lugares do Nordeste, como Porto de Galinhas, onde é possível ver um dos locais onde os negros chegavam, eram “guardados” e comercializados como escravos, sem condições mínimas de dignidade, só tem uma coisa a fazer: pedir perdão. “Não temos outra condição senão a de pedir perdão a todos os portadores da pele negra, em nome de todos os brasileiros e brasileiras que não conseguiram enxergar, na história oficial, o papel fundamental que os negros tiveram na história deste país”.
A deputada Marisa Formolo, que falou em nome do PT, declarou que quem tem a oportunidade de passar por alguns lugares do Nordeste, como Porto de Galinhas, onde é possível ver um dos locais onde os negros chegavam, eram “guardados” e comercializados como escravos, sem condições mínimas de dignidade, só tem uma coisa a fazer: pedir perdão. “Não temos outra condição senão a de pedir perdão a todos os portadores da pele negra, em nome de todos os brasileiros e brasileiras que não conseguiram enxergar, na história oficial, o papel fundamental que os negros tiveram na história deste país”.
O deputado João Fischer (PP) lembrou que aprendeu a falar “brasileiro” com um amigo de seu pai, o Seu Zé, que era negro. Antes disso, falava apenas um dialeto alemão. Quando o viu pela primeira vez, achou que era um branco pintado de preto, pois nunca havia visto uma pessoa negra. Foi quando sua avó o ensinou que ele era de outra cor e que havia pessoas de várias cores. Ressaltou ainda que o Brasil hoje é uma das maiores economias do mundo, mas a desigualdade social e racial continua.
A ideia de Rui Barbosa de que a escravidão era a causa dos defeitos do caráter nacional foi relembrada pela deputada Zilá Breitenbach (PSDB). “Então jovem abolicionista, analisou a escravidão como uma grande desonra que barbarizava o escravo, pervertia a vida das famílias, atrofiava a energia dos brasileiros e explicava todas as decepções, todas as sombras do nosso horizonte”. Ela destacou que a abolição no Brasil foi um processo demorado, que aconteceu após muitos anos de resistência dos negros, dos abolicionistas e pressão de outros países. Hoje, a integração racial ainda é um desafio, um processo inacabado.
Uma declaração do presidente Lula durante aula inaugural para os alunos de ensino a distância em Maputo, capital de Moçambique, foi citada pelo deputado Gilmar Sossella (PDT). Ele disse que o projeto de investimento em educação do governo brasileiro naquele país é o resgate de uma dívida histórica com a África. Esse resgate também acontece aqui no Brasil. “O aumento da quantidade de universidades federais, de institutos técnicos e da oferta de bolsas de estudos em universidades particulares por meio do ProUni e da oferta de vagas nas universidades federais, pelo Reuni, fazem parte do resgate da dívida histórica do país com seu povo, acreditando-se que somente a educação capacita para o futuro”, disse.
Para o deputado Raul Carrion, “falar da enorme contribuição do negro para a formação do Brasil é redundante”. Ele lembrou de alguns nomes importantes, como Cruz e Sousa, Machado de Assis, Lima Barreto, Milton Santos, Luiz Gama, Henrique Dias e os Lanceiros Negros, além de Zumbi e João Cândido. “Apesar disso, nós vemos a invisibilidade da participação do negro. Por isso a importância de prêmios como o Zumbi dos Palmares e o Troféu Deputado Carlos Santos, outro grande parlamentar negro, primeiro presidente negro desta Assembleia Legislativa, tendo assumido também o governo do Estado”.
Defendeu ainda a aprovação de alguns projetos de lei de sua autoria, como o que cria o Estatuto Estadual da Igualdade Racial, o que estabelece cotas para negros na Uergs, cotas nos concursos públicos e também o que determina que o dia 20 de novembro seja feriado no Rio Grande do Sul.
Presenças
Também participaram da cerimônia o desembargador Sejalmo Sebastião de Paula Nery, representante do Tribunal de Justiça; o promotor Francesco Conti, coordenador do Centro de Apoio Operacional dos Direitos Humanos do Ministério Público Estadual; o ex-governador Alceu Collares; o prefeito em exercício de Porto Alegre, vereador Nelcir Tessaro; e a coordenadora da Semana Esta
dual da Consciência Negra, professora Franquilina Marques Cardoso.
No início da sessão, o Hino Nacional foi interpretado pela cantora Loma, acompanhada pelos violonistas Carlos Catuípe e Daniel Pereira. Ao final da solenidade, o trio interpretou o Hino Rio-Grandense.
Homenageados
O Prêmio Zumbi dos Palmares, instituído pelo Parlamento em 2008, foi proposto pelo deputado Raul Carrion (PCdoB). Já o Troféu Carlos Santos foi criado a partir de proposição do deputado Alceu Moreira (PMDB), aprovada em 2009. Confira abaixo quem são as personalidades e entidades agraciadas com a distinção:
Prêmio Zumbi dos Palmares:
- Área Cultural: José Roberto Moreira, indicado pela Secretaria Municipal de Turismo e Cultura de Rio Pardo/RS. Foi um forte batalhador pela criação e implementação do Departamento de Cultura Negra de Rio Pardo. Também criou, em conjunto com o grupo João Cândido, o projeto “Espelho Meu”. Membro atuante e participante do carnaval de Rio Pardo, é o fundador da instituição carnavalesca BC Raízes da Vila.
- Área Social: Centro de Apoio ao Pequeno Agricultor – Núcleo Pelotas, indicado pela Instituição Sinodal de Assistência, Educação e Cultura – ISAEC, pelo trabalho de acompanhamento técnico e apoio ao processo de reconhecimento público a 29 comunidades quilombolas. A entidade agraciada é ligada à Igreja Evangélica de Confissão Luterana, com 30 anos de existência e inserção na região Sul do estado. Busca em seu trabalho a extensão rural e o desenvolvimento sustentável.
- Área Política: João Batista Lima Conceição, indicado pelo Grêmio Recreativo Bafo da Onça e pelo Clube Farroupilha de Santana do Livramento. O agraciado é vereador, advogado e professor que tem se dedicado e contribuído às causas afrodescendentes.
- Área Religiosa: Paulo Roberto Silva, indicado pela Sociedade Africana Ile Ixá Nilogum e Umbanda Fraternidade Tupinambá de Porto Alegre. Atua no bairro Vila Bom Jesus e fundou várias associações de bairro e núcleo de jovens para combate às drogas e alcoolismo. É Líder Religioso Babalorixá (Zelador dos Orixás).
- Área Esportiva: Paulo César Fonseca do Nascimento (Tinga), indicado pela comissão julgadora. Se destaca pela sua atuação no futebol e pelas ações sociais em prol da comunidade do bairro Restinga.
Troféu Carlos Santos:
- Categoria Saúde: Rubens da Silva, o Saravá, com forte atuação em diversas entidades na área da saúde da população negra, especialmente na periferia. É coordenador da CEPPIR – GHC.
- Categoria Educação: Adriane Santos da Silva, professora, diretora da Escola Estadual de Ensino Fundamental Dr. Victor de Brito, com trabalhos de destaque na área da educação, com destaque para a implementação da Lei 10.639/03 na sua escola.
- Categoria Empreendedorismo Cultural: Juremir Machado da Silva, escritor, jornalista e professor da PUC, indicado por suas pesquisas sobre a população negra no RS.
- Categoria Políticas Afirmativas para as Mulheres Negras: ONG Maria Mulher, organização feminista coordenada por mulheres negras que realizam um trabalho interdisciplinar na defesa dos direitos e pela melhoria de vida da população afrobrasileira.
- Categoria Resistência Quilombola: IACOREQ – Instituto de Assessoria às Comunidades Remanescentes de Quilombos, entidade que nasceu da vontade política de militantes do movimento negro em contribuir com as comunidades rurais negras, favorecendo seu processo de inclusão.