Agência Senado
Os senadores vão comemorar no período do expediente que antecede a sessão plenária deliberativa de quarta-feira (17), às 14h, o centenário de nascimento da escritora Rachel de Queiroz. O requerimento solicitando a homenagem é do senador Inácio Arruda (PCdoB-CE).
Primeira mulher a ingressar na Academia Brasileira de Letras (ABL), Rachel de Queiroz foi, além de escritora, tradutora, romancista e jornalista, tendo desempenhado importante papel na dramaturgia brasileira. Foi também a primeira mulher a receber o prêmio Luis de Camões, instituído pelos governos do Brasil e de Portugal e concedido a autores que contribuíram para o enriquecimento do patrimônio literário e cultural da língua portuguesa. Para Inácio Arruda, a escritora é motivo de grande orgulho para o Ceará e para o Brasil.
A homenageada nasceu em Fortaleza no dia 17 de novembro de 1910. Foi a quinta filha de Daniel de Queiroz e Clotilde Franklin de Queiroz. Sua bisavó materna, conhecida como dona Miliquinha, era prima do escritor José de Alencar.
Em 1917, em razão de forte seca no Ceará, a família de Rachel mudou-se para o Rio de Janeiro e logo depois para Belém (PA). “Esse fato marcou sua vida de tal forma que serviu de inspiração para a criação de O Quinze“, observou Inácio Arruda, referindo ao livro de estréia de Rachel de Queiroz.
Publicado em 1930, O Quinze alcançou lugar de destaque na literatura brasileira. Nesse romance, a autora conta a luta do povo nordestino contra a seca e a miséria, demonstrando preocupação com questões sociais e desenvolvendo habilidosa análise psicológica de seus personagens.
“Com vinte anos apenas, projetava-se na vida literária do país, agitando a bandeira do romance de fundo social, profundamente realista na sua dramática exposição da luta secular de um povo contra a miséria e a seca”, ressalta o senador, lembrando que a consagração de O Quinze veio com o prêmio da Fundação Graça Aranha.
Em 1932, Rachel publicou novo romance, intitulado João Miguel, e, em 1937, escreveu Caminho de pedras. Dois anos depois, conquistou o prêmio da Sociedade Felipe de Oliveira com o romance As Três Marias. Em 1950, publicou em folhetins, na revista O Cruzeiro, o romance O galo de ouro.
Entre suas obras também são destaque Memorial de Maria Moura (1992), sobre a história de uma mulher no sertão nordestino que é levada pelas circunstâncias a liderar um bando de aventureiros que praticam roubos e vivem de forma desregrada; Tantos anos (1998), autobiografia; e Não me deixes: suas histórias e sua cozinha (2000), que trata de suas memórias gastronômicas.
Inácio Arruda lembra que Augusto Frederico Schmidt, Graça Aranha, Agripino Grieco e Gastão Gruls foram os principais críticos que avaliaram sua obra.
Rachel foi também autora de mais de duas mil crônicas, compiladas nos seguintes livros: A donzela e a moura torta; 100 Crônicas escolhidas; O brasileiro perplexo e O caçador de tatu. No Rio, onde voltou a residir em 1939, colaborou no Diário de Notícias, em O Cruzeiro e em O Jornal.
Foi ainda autora de três peças de teatro: Lampião, de 1953; A Beata Maria do Egito, de 1958, laureada com o prêmio de teatro do Instituto Nacional do Livro; e O padrezinho santo, peça que escreveu para a televisão, inédita em livro. No campo da literatura infantil, escreveu O menino mágico, inspirado nas histórias que contava para os netos de sua irmã, Maria Luiza.
Em suas atividades como tradutora, Rachel trabalhou com cerca de 40 volumes traduzidos para o português, entre os quais Mansfield Park, de Jane Austen; Humilhados e ofendidos, Os demônios e Os irmãos Karamazov, de Fiódor Dostoiévski; A mulher de trinta anos, de Honoré de Balzac; e A mulher diabólica, de Agatha Christie.
A escritora também fez parte do Conselho Federal de Cultura, desde a sua fundação, em 1967, até sua extinção, em 1989. Participou ainda da 21ª Sessão da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em 1966, onde serviu como delegada do Brasil, trabalhando, especialmente, na Comissão dos Direitos do Homem. Em 1988, iniciou sua colaboração semanal no jornal O Estado de S. Paulo e no Diário de Pernambuco.
Rachel casou-se com o poeta José Auto Oliveira, em 1932, com quem teve uma única filha, Clotilde, nascida no ano seguinte, mas que faleceu com apenas um ano e meio de idade devido a uma septicemia. Em 1939, a escritora se separou do marido, casando-se, posteriormente, com o médico Oyama de Macedo. A autora morreu no dia 4 de novembro de 2003, dormindo em sua rede, na cidade do Rio de Janeiro, a 13 dias de completar 93 anos de idade.
Helena Daltro Pontual/ Agência Senado