Pesquisa divulgada na última quinta-feira (11) pelo Instituto Ethos demonstra que especialmente nos cargos de direção e gerência o abismo da desigualdade racial provocada pela herança de quase 400 anos de escravidão ainda persiste
Partido da Causa Operária
13 de novembro de 2010
Os resultados da pesquisa “Perfil Social, Racial e de Gênero das 500 Maiores Empresas e suas Ações Afirmativas – 2010” revelam que o abismo racial se dá mais claramente nos cargos de direção: o número de negros gerindo empresas, é de 5,3% contra 3,5% no último levantamento, em 2007, apesar de representarem mais da metade da população.
O perfil da direção das 500 maiores empresas brasileiras, segundo a pesquisa, continua quase que 100% branco: diretores brancos representam 93,3%, com uma queda mínima em relação a 2007, quando esse percentual era de 94%.
No que tange 51,3% da população do País, os números da Pesquisa causaram espanto, inclusive no presidente do Instituto Ethos, Jorge Abrahão, para quem o racismo no universo empresarial deve-se a “uma forte questão cultural arraigada na sociedade e à falta de políticas de diversidade nas empresas”. Prossegue: “existe uma certa acomodação, evita-se apostar no novo, criar políticas de diversidade. A presença da mulher negra em posições executivas é de 0,5%, dado assustador”, constatou Abrahão.
Embora constituam a maioria da população brasileira, as mulheres também estão sub-representadas. Nos quadros diretivos das empresas, a presença de mulheres caiu em relação ao quadro funcional geral – de 35% para 33,1%.
Segundo Jorge: “isso revela grande discrepância: se fizéssemos seleção às cegas, tapando o nome e o sexo, considerando apenas a qualidade, a maioria das contratações seria de mulheres”.
As mulheres negras continuam a ocupar as piores posições: 9,3% no quadro funcional, 5,6% na supervisão, 2,1% na gerência e apenas 0,5% no quadro executivo, embora representem uma parcela de 50,1% do dotal de mulheres brasileiras e correspondem a um contingente de 25,6% de toda a população.
Segundo o estudo divulgado recentemente pelo IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), órgão do próprio governo, o badalado crescimento econômico serve apenas para os ricos, ou seja, nem mesmo emprego para população negra existe, quiçá cargos de chefia.
De acordo com o IPEA, a parcela mais pobre da população desempregada, a mais necessitada, não foi beneficiada pela reativação do mercado de trabalho e pelo crescimento econômico. Em seis principais regiões metropolitanas do Brasil, entre agosto de 2004 e agosto de 2010, a taxa de desemprego dos 20% mais pobres (com renda per capita domiciliar inferior a R$ 203,3 por mês) saltou de 20,7% para 26,27%.
O Instituto Ethos apenas confirmou o já levantando por diversos organismos, quer dizer: a discriminação racial e falta de educação estão na base do desemprego crônico. Se os negros são apenas 5% em gerência de negócios, os dados levantados pelo IPEA indicam que quase 80% dos desempregados pertencentes a famílias de baixa renda são negros.
Nenhum estudo indica que haverá crescimento de empregos para negros no próximo período, muito pelo contrário, a política do PT e de Dilma Rousseff promete estabelecer o plano de austeridade do FMI. Assim a tarefa que está colocada é se organizar de forma independente, e defender as necessidades dos negros, ou seja, um programa que, além de defender as necessidades imediatas e democráticas da população negra, defenda também a luta contra a burguesia e seus planos de austeridade e cortes de direitos.