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A família contemporânea mudou. As dinâmicas familiares continuam as mesmas, mas os membros que as compõem são diferentes, como bem mostra “Minhas Mães e Meu Pai”.
Quando Paul, dono de um restaurante, entra em cena, a harmonia da família sai pela porta dos fundos. Não que tudo estivesse indo muito bem. O melhor amigo de Laser é uma péssima influência sobre ele, e Joni tem dúvidas sobre estar apaixonada. À medida que o pai deles começa a tomar contato com os dois, as dúvidas e problemas de cada um vêm à tona e mostra que as mães, Nic (Annette) e Jules (Julianne), não são tão perfeitinhas quanto julgavam.
Nic é uma médica, organizada e controladora, pés no chão, e mantém a família no prumo. Já Jules é uma espécie de hippie que já tentou vários trabalhos, mas nunca se satisfez com nenhum deles. As duas se amam, mas, como qualquer casal, enfrentam crises.
Ao contrário da maioria das comédias, tanto nacionais quanto estrangeiras, os personagens de “Minhas Mães e meu Pai” passam longe de ser meros tipos nas mãos de roteiristas e diretores para efeito cômico. Aqui, existem seres humanos lidando com problemas, sentimentos e emoções. Jules e Nic são mães compreensivas, mas que nunca realmente entendem seus filhos. Cheias de dúvidas, creem fazer o melhor, mas nem sempre se saem bem.
Por isso, a chegada de Paul soa, num primeiro momento, como uma ameaça. O que esse estranho quer dos filhos delas? Ele que, sequer, sabia da existência de Laser e Joni, agora reivindica seus direitos de pai?
O detalhe é que ele desconhecia isso não por descaso seu, mas porque nunca foi comunicado – o que até faz parte do sigilo desse tipo de doação. Quando descobre que tem dois filhos quase adultos, ele tenta recuperar o tempo perdido, pensando em assumir o papel de pai.
Paul não é um vilão – até porque neste filme não existem rotulações. Na verdade, a sua atitude perante a vida incomoda Nic e seduz Jules, que trabalha como paisagista e está montando um jardim no fundo da casa dele. Mesmo quando a história ameaça jogar todos os demônios dos personagens para cima de Paul, a diretora e Ruffalo sabem que o pai de Laser e Jules não é culpado de tudo.
Sem cair em vícios do cinema independente norte-americano, que parecem colar um selo de aprovação do Festival de Sundance nos filmes, “Minha Mães e Meu Pai” tem a narrativa conduzida pelos personagens e suas ações, ou melhor, suas escolhas e renúncias. Cholodenko dá espaço para que os atores trabalhem sem que movimentos de câmeras e efeitos de fotografia desnecessários desviem a atenção da trama.
“Minhas Mães e Meu Pai” ganhou o prêmio Teddy, no Festival de Berlim, em fevereiro – uma estatueta conferida ao melhor longa de temática gay. Cholodenko faz um retrato terno e engraçado de nosso tempo. Tempos em que criar os filhos parece muito mais complicado do que colocar comida na mesa e pagar as contas.
(Por Alysson Oliveira, do Cineweb)
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