Apesar do culto ao corpo, Rio possui maior proporção de obesos do Brasil

Sérgio Vieira, do R7, no Rio | 01/11/2010 às 08h03

Segurança é apontada como um dos fatores para os quilinhos a mais dos cariocas

O Rio de Janeiro é a capital de corpos sarados, com homens e mulheres exibindo seu físico e exalando simpatia e beleza pelos 55 km que separam a orla das praias do Flamengo, início da zona sul, de Grumari, no final da zona oeste. Mas se engana quem se apega apenas à imagem saudável do carioca. Segundo pesquisa realizada pelo Ministério da Saúde, a cidade é a capital nacional das pessoas obesas. O levantamento mostra que, em apenas três anos, o índice de obesidade da população subiu de 12,6% para 17,7% em 2009. 

Em alguns pontos da cidade, como no Posto 9, em Ipanema, ou na Praia do Pepê, na Barra da Tijuca, é raro encontrar físicos fora dos padrões. Mas isso não é uma regra em todos os bairros da cidade. Muitas são as explicações para o paradoxo carioca, entre elas a má alimentação, o aumento da renda da classe C nas favelas da cidade e, consequentemente, o sedentarismo nessa faixa da população. O culto às academias e à boa forma está presente nas famosas praias das zonas sul e oeste, onde vivem apenas 10% dos 6,8 milhões de habitantes.

Os 90% restante, que vivem nos bairros centrais e nas favelas da capital fluminense, beneficiaram-se com o crescimento econômico do Brasil e passaram a ter acessos a alimentos antes considerados supérfluos. Excesso de açúcares e de gorduras impera na dieta, que para piorar o quadro, não apresenta regularidade nos horários das refeições. Segundo a dra. Tatiana Ossola, nutricionista do Emagrecentro Grande Rio, nesse processo sofre com velocidade maior a população das classes C e D, que viram sua renda aumentar nos últimos anos e buscaram produtos que antes não consumiam, sem a preocupação de alimentar-se de forma saudável. 

– O poder aquisitivo dessa faixa da população melhorou o acesso ao mercado consumidor, mas as opções alimentares são piores, são mais calóricas e menos nutritivas. As classes C e D se preocupam menos com o corpo, têm menos acesso à informação, e querem carne, macarrão e feijão na mesa, não querem saber de saladinha e sucos de fruta. 

Ela ainda constata outra realidade do Rio de Janeiro. Muitas vezes, a garrafa de dois litros de refrigerante é mais barata que o litro do leite, assim como o biscoito recheado, o que obriga a mãe carioca a comprar alimentos menos saudáveis para os filhos para que não pese muito no bolso no final do mês. 

– Dessa forma, as opções nutricionais são mais pobres e mais calóricas, por isso as classes B e C estão engordando mais. É mais vantajoso comprar a maioria dos produtos industrializados que manter alimentação estritamente saudável. 

Além disso, essa população não está habituada a fazer exercícios, atividade cara para quem faz em academias e praticamente inacessível em locais públicos nos subúrbios do Rio, já que a quantidade existente de parques e outras áreas disponíveis para lazer é bastante escassa.

Calcule seu IMC
Para calcular seu índice de massa corporal (IMC), divida seu peso pela sua altura (em metro) ao quadrado. Se o resultado for menor que 20, você está abaixo do peso ideal. Se o resultado der entre 20 e 25, seu peso está normal. Acima de 25 indica sobrepeso e, de 30, obesidade. Se o resultado for maior que 35, você tem obesidade mórbida.
Identifique seu grau de obesidade
IMC ( kg/m2) Grau de Risco Tipo de obesidade
18 a 24,9 Saudável Peso adequado
25 a 29,9 Moderado Sobrepeso
30 a 34,9 Alto Obesidade Grau I
35 a 39,9 Muito Alto Obesidade Grau II
40 ou mais Extremo Obesidade Grau III (“Mórbida”)

Segurança é citada como razão para sobrepeso carioca 

Além das questões relacionadas à economia, outro fator aumenta a lista de razões para que os cariocas, mais uma vez, surpreendentemente, encabecem a lista da capital mais obesa do país. De acordo com a professora da cadeira de endocrinologia da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), Maria Tereza Zanella, a falta de segurança nos bairros fora do eixo turístico e da orla da praia ocasiona aprisionamento dos moradores, o que potencializa os efeitos em detrimento da balança. 

– Aumentou de forma significativa o serviço de delivery no Rio de Janeiro. As pessoas na cidade estão com medo de sair de casa. Pesquisas mostram que essa situação gera estresse, que eleva o nível de depressão e ansiedade, fatores ligados à maior incidência de obesidade. 

A rede pública carioca já soma 6 mil casos de obesidade extrema, os chamados obesos mórbidos, aguardando na fila para se submeter à cirurgia de redução de estômago. Para Maria Tereza, os serviços públicos voltados à obesidade são bastante ineficientes em todo o Brasil, pois atacam o problema depois que ele ocorre e não por meio da prevenção, o que evitaria que houvesse gastos desnecessários no sistema público de saúde. 

Mas o sobrepeso na população não é uma exclusividade carioca. O índice de sobrepeso e obesidade da população brasileira avançou nos últimos quatro anos e as projeções futuras são ainda mais preocupantes. 

Pesquisas sobre obesidade

O levantamento mundial mais recente da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico), com sede em Paris, revela que, em média, metade dos adultos nos países desenvolvidos está acima do peso. No caso brasileiro, segundo dados de 2008, os níveis tanto de obesidade quanto de excesso de peso são semelhantes aos dos países desenvolvidos e estão entre os mais altos dentre os emergentes – 56% estão acima do peso e 17% são obesos. 

Pesquisa do Ministério da Saúde aponta que, de 2006 a 2009, a proporção de pessoas com excesso de peso subiu de 42,7% para 46,6% da população. O percentual de obesos cresceu de 11,4% para 13,9% no mesmo período, como mostrou a pesquisa Vigitel (Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico), que entrevistou 54 mil adultos. 

O salto carioca mostra que o brasileiro está ficando cada vez mais gordo e essa constatação não é recente. A POF (Pesquisa de Orçamentos Familiares) revelou que, desde 1974, a população obesa masculina saltou de 2,8% para 12,4%. Nas mulheres, o índice chega a 16,9%, ambos para brasileiros com idade a partir de 20 anos. No sobrepeso, os números são bem maiores e atingem metade dos homens. Maria Tereza Zanella ressalta que apenas em um grupo houve redução na taxa de obesidade, entre as mulheres de renda elevada na parte sul do Brasil.

 

– Muito mais por estética que por questões de saúde, mas o importante é que a taxa vem diminuindo com o passar dos anos. 

Esses números evidenciam, sem questionamentos, que a obesidade, nos patamares em que se encontra, tornou-se caso de saúde pública. Os obesos sofrem de pressão alta, diabetes, doenças relacionadas ao coração, e alguns tipos de câncer. Esses níveis são considerados tão elevados, a ponto de instituições, como o Inca (Instituto Nacional de Câncer), elaborarem pesquisas e outros materiais alertando para a ligação entre obesidade e câncer. 

A  pesquisa do Inca
(Instituto Nacional de Câncer) mostra que a manutenção de um peso saudável ao longo da vida pode ser uma das formas mais importantes de se proteger contra o câncer, além de também proteger contra diversas outras doenças crônicas comuns.

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