Claudia Andujar na Amazônia

Diego Santos, do Museu Paraense Emílio Goeldi

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Há quatro anos, o Museu Goeldi está na rota de exposições do Arte Pará. Em 2010, a instituição recebe trabalhos de Roberto Evangelista, Armando Queiroz e da renomada fotógrafa Claudia Andujar, que pela primeira vez expõe na Amazônia

Agência Museu Goeldi – A exposição Igualmente Diferentes, que compõe o 29º Salão do Arte Pará, aberta ao público na última sexta-feira, 8 de outubro, no Parque Zoobotânico do Museu Goeldi, traz à tona a preocupação em aproximar a ciência da arte e a valorização das culturas indígenas sul-americanas. Para o curador da exposição, Orlando Maneschy, “É fundamental ver o outro, o diferente”.

Um dos artistas homenageados no circuito de 2010 e convidado para expor em Igualmente Diferentes, Armando Queiroz – que apresenta o vídeo Ymá Nhanderetama (Antigamente fomos muitos), com um depoimento de um índio guarani, fala sobre o que ele espera do efeito da obra nos visitantes: “Eu fui afetado pelo depoimento que aparece no vídeo. Que esse vídeo possa afetar o público também”.

Uma das homenageadas, e grande centro das atenções durante a abertura da exposição, Claudia Andujar expõe parte da série fotográfica Sonhos, que apresenta o universo mítico dos Ianomâmis. É a primeira vez que a celebrada fotógrafa expõe seu trabalho na Amazônia, objeto recorrente e querido. Claudia, que nasceu na Suíça, mas há mais de 50 anos vive no Brasil, falou em entrevista a Agência Museu Goeldi, um pouco sobre seu trabalho em defesa dos índios.

Perfil de Cláudia Andujar –
Claudia,confessa um fascínio pelo Brasil, país que chegou em 1955, e revela que a câmera foi sua primeira companheira, sendo seu trabalho fotográfico uma forma de se comunicar com o povo. “Vim só para o Brasil, mas gosto do país, porque me sentia acolhida. Mesmo não falando a língua, tinha uma facilidade de me comunicar com as pessoas, que sempre foram muito receptivas”. A artista nunca estudou fotografia, aliás, ainda na Europa, se dedicava à pintura abstrata. Aprendeu o ofício fazendo e procurando soluções para as questões que se deparava.

À época que veio ao Brasil, Andujar diz que já tinha interesse de conhecer os povos indígenas, realizando a vontade em 1959 quando, por sugestão de Darcy Ribeiro, foi à Ilha do Bananal ao encontro dos índios Carajás.

“Nos anos 70, eu tive meu primeiro contato com os Ianomâmis. Depois, ainda nos anos 70, eu morei com eles, vi de perto os problemas que eles viveram com a chegada dos grandes projetos na região”, conta Claudia.

Entre 71 e 77, a artista registrou o cotidiano dos Ianomâmi. Morando em Caracaraí, Roraima, Claudia presenciou o início da construção da Perimetral Norte (BR-120), concebida para cortar a Amazônia desde o Amapá até a fronteira colombiana no Amazonas. “Esses índios tinham pouco contato com outras pessoas. Com a vinda da estrada, doenças até então desconhecidas atacaram os índios. Malária, sarampo, tuberculose. Os danos foram terríveis”.

Andujar explica que após observar o grande impacto na comunidade Ianomâmi, e junto a um pequeno grupo em São Paulo, colaborou para a criação da Comissão Pró-Yanomami, para lutar pelos direitos dos índios, sobretudo no que dizia respeito à demarcação da Terra Indígena Ianomâmi, oficialmente demarcada em 1991 e homologada e registrada em 1992.

Por conta da militância, a fotografa releva que em 77 foi considera persona non grata, em Roraima. Aliás, ela acredita que até hoje é mal quista na região. “Me acusaram de estar fazendo espionagem para a venda da Amazônia. Na verdade, tinham medo das denúncias sobre os maus tratos dos índios. Já em 78 eu estava 100% dedicada à causa Ianomâmi, tinha deixado a fotografia”.

Pela resistência que encontrou na região por conta de sua militância, Claudia nunca expôs seus trabalhos na Amazônia. “Fui convidada pelo Orlando Maneschy. Na exposição que está aqui, mostro trabalhos de superposição de imagens dos Ianomâmis com fotos da natureza, mostrando muito do mundo mítico desses índios”.

Serviço:

29º Salão do Arte Pará 2010 no Museu Paraense Emílio Goeldi. De 8 de outubro a 30 de novembro, no Prédio Domingos Soares Ferreira Penna – Rocinha, Parque Zoobotânico do Museu Goeldi, à Avenida Magalhães Barata, 376, Belém, Pará. Visitas de terça a domingo, entre 9h e 17h. Aos sábados, Mostra de Filmes Etnográficos com os filmes Uirapuru, de Sam Zebba (Israel), e Filhos do Barro, de Vitor Souza Lima (Belém), no Auditório Alexandre Rodrigues Ferreira, nos dias 16 e 23 de outubro e 6 e 20 de novembro, às 10h30.

FOTO
Crédito:
Acervo Agência Museu Goeldi
Legenda: Fotógrafa Claudia Andujar

(Envolverde/Museu Emílio Goeldi)

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