Carlos Eduardo Vicelli – Gazeta do Povo (Curitiba)
Quando Gleisi Hoffmann (PT) atingiu ontem a marca de 3 milhões de votos, por volta das 19 horas, o comitê improvisado que se instalou no salão de festas do prédio em que a petista mora, no bairro Água Verde, em Curitiba, extravasou. Em meio a balões vermelhos em formato de estrela, papéis picados e taças de espumante, o grupo de cerca de 30 pessoas, entre familiares, amigos mais próximos e assessores diretos, saudou a primeira mulher a se eleger senadora no Paraná.
Gleisi fez mais. Terminou na liderança de uma disputa que, contrariando a previsão dos institutos de pesquisa, se mostrou acirrada. Venceu o ex-governador Roberto Requião (PMDB), seu companheiro de chapa, e os deputados federais Gustavo Fruet (PSDB) e Ricardo Barros (PP), todos mais “testados” nas urnas. Conseguiu quase 3,2 milhões de indicações – ou 29,5% dos votos válidos, a “cereja do bolo” de uma campanha iniciada no ano passado, quando a então presidente estadual do PT percorreu quase 200 municípios para reorganizar o partido. E abrir caminho à campanha.
Mais do que Beto Richa (PSDB) garimpou para se eleger o novo governador do Paraná, o que rendeu uma provocação de correligionários mais animados. “Passamos o Beto Richa. É a vingança perfeita”, gritou uma das assessoras, fazendo referência à derrota na eleição para a prefeitura de Curitiba, há dois anos, a segunda vez que Gleisi concorreu a um cargo eletivo – antes, em 2006, perdeu por pouco uma cadeira no Senado para o tucano Alvaro Dias.
A primeira frase como parlamentar, depois de um rápido beijo no marido, o ministro do Planejamento Paulo Bernardo, porém, contrastou com o ambiente festivo, o que indica traços da personalidade da curitibana de 45 anos. “Virei senadora, mas não é uma vitória completa”, disse, logo após desligar o movimentado telefone celular – era um prefeito de uma pequena cidade no interior informando que no município a petista havia conquistado mais de 80% da preferência.
Gleisi estava preocupada com Osmar Dias (PDT), derrotado na corrida pelo Palácio Iguaçu, por isso se conteve nas comemorações. “Faltou eleger o Osmar. Trabalhamos muito por essa coligação. O Paraná perdeu uma grande oportunidade de ter um governador experiente, com vivência e muita capacidade”, explicou. Depois sim, falou um pouco mais de seu projeto político. “Tenho muita consciência da minha responsabilidade porque sei que as mulheres serão avaliadas por mim na política. Vamos romper o conservadorismo, aquele conservadorismo de manter as coisas como estão”, afirmou a advogada, mãe de João Augusto (9) e Gabriela Sofia (4).
“A Gleisi é uma pessoa muito boa para se conversar, mas que também sabe marcar posição, sabe brigar por aquilo que quer”, ressaltou Paulo Bernardo, antes de emendar uma brincadeira com a sogra, dona Getúlia Hoffmann, o braço direito da petista – é assim que a própria Gleisi costuma apresentá-la. “Era o sonho dela. Demorou, mas ela conseguiu realizar”, disse a nova “mãe de senadora”. O apelido ela ganhou do genro. E a graça do momento.
Planos
Gleisi Hoffmann, senadora eleita pelo PT.
A senhora esperava ser a mais votada, terminar com mais de 3 milhões de votos?
Tinha a expectativa de ganhar a eleição, mas não em primeiro lugar. Nunca foi a minha meta. Estou muito emocionada. O povo paranaense me deu uma procuração para representá-los. É tempo de muito trabalho e dedicação.
A senhora apresentou várias propostas durante a campanha. Já tem ideia de qual irá priorizar?
Primeiramente vou me dedicar à união política paranaense, da economia paranaense, da sociedade paranaense. Vou me empenhar junto ao PAC [Programa de Aceleração do Crescimento] para brigar pelo desenvolvimento do estado. E trabalhar em cima do Sistema Único de Segurança Pública.
E em relação às reformas, qual a prioridade?
A política e a tributária. Vou fazer de tudo para puxar essas reformas logo nesse primeiro ano de governo. Se não acontecer, estarei na linha de frente, junto com a sociedade organizada, puxando um plebiscito para votá-las.
Como o PT sai desta eleição?
Ainda vamos esperar a Dilma [Rousseff, candidata à Presidência], mas acredito que sai ainda maior. O partido acertou na estratégia, elaborada há dois anos, de apostar em fazer o sucessor do Lula e de ter uma boa base no Senado.
Essa base não pode se transformar em um rolo compressor em caso de vitória da Dilma?
Não acredito. São poderes distintos que se respeitam.
A senhora será candidata à prefeitura de Curitiba em 2012?
Não faz parte dos meus planos. Não serei candidata.
Uma república de mulheres campeãs de votos
O Brasil terá de esperar até 31 de outubro para saber se terá ou não a sua primeira presidente mulher. Mas, ontem, seis mulheres tiveram seu dia de rainha. Cinco delas disputavam uma vaga na Câmara Federal e foram campeãs de votos em seus respectivos estados: Ana Arraes (PSB-Pernambuco), Manoela D’Avila (PCdoB-RS), D. Iris (PMDB-GO), Teresa Jucá (PMDB-RR) e Fátima (PT-RN).