Lei Maria da Penha ainda tem que vencer machismo nas delegacias

O Estado de S. Paulo

“O marido trabalhou o dia todo, chegou cansado e queria um carinho da mulher, mas ela se recusou. Numa situação dessas, ele acaba estourando mesmo, é difícil ele se segurar.” 

 

Esse relato de um agente policial após a denúncia de uma mulher que havia sido agredida pelo companheiro consta da tese de doutorado da assistente social Marilda Lemos, defendida em abril na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP.  

Intitulada “Alívio e tensão: um estudo sobre a interpretação e a aplicação da Lei Maria da Penha nas Delegacias de Defesa da Mulher e Distritos Policiais da Seccional de Polícia de Santo André (SP)“, a tese mostra que a Lei Maria da Penha, que visa punir e coibir a violência contra a mulher, precisa vencer o machismo até nas delegacias.

Segundo Marilda Lemos, delegados e escrivães reproduzem a discriminação contra quem deveriam defender. “Poucos enxergam as mulheres como sujeito de direitos. Essa visão, transformada em prática profissional, poderá fazer a diferença no momento de interpretar a Lei Maria da Penha”, afirma a assistente social, que entrevistou sete mulheres agredidas, seis delegados e seis escrivães entre 2007 e 2008, nas cidades de Santo André, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra, na Grande São Paulo.

“Alguns relatos procuram inocentar o agressor e culpar o comportamento de mulheres que fogem do padrão tradicional de mãe, dona de casa e esposa”, afirma a pesquisadora, que aponta a necessidade de qualificação específica para o atendimento a mulheres que passam por situação de violência. “Os policiais devem ter um filtro mais acurado para lidar com esse tipo de violência. A delegacia é a porta de entrada para que o crime se torne um inquérito.”

Leia na íntegra: Machismo em DP vira doutorado (O Estado de S. Paulo – 28/09/2010)

 

fonte: Agência Patrícia Galvão

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