Pedro Venceslau (Jornal Brasil Econômico)
Maior estrela do PSB paulista faz campanha sem recursos e conta com eleitorado fiel para se reeleger
Em 1988, Luiz Inácio Lula da Silva já era o grande líder do PT, mas não a sua principal estrela. Depois de impor a Paulo Maluf, então do PDS, uma derrota surpreendente e tornar-se a primeira prefeita de São Paulo, a vereadora de assistente social Luiza Erundina tornou-se a ponta de lança do chamado “modo petista de governar”.
A gestão que se seguiu foi um hiato de esquerda em um período dominado pelo malufismo na capital. Em 1989, Lula enfrentou Fernando Collor e Erundina foi um dos quadros mais importantes do partido na campanha – uma espécie de cartão de visita do que viria pela frente caso o PT chegasse ao poder. O que pouca gente se lembra é que ela representava a ala mais a esquerda do petismo em um tempo em que o partido era bastante radical. Antes de disputar a prefeitura, Erundina enfrentou e venceu nas prévia o nome “moderado” ungido por Lula e todo o seu campo majoritário: Plínio de Arruda Sampaio.
Nas últimas duas décadas, o PT passou lentamente do radicalismo para o pragmatismo radical. Já Luiza Erundina não mudou. Mora até hoje no mesmo apartamento dos tempos em que era vereadora, no bairro Mirandópolis, e mantém em seu vocabulário palavras como “socialismo” e “campo democrático de esquerda”.
Em 1993, aceitou um convite do então presidente Itamar Franco e tornou-se ministra da Administração Federal. Foi suspensa do PT e nunca mais voltou. Filiada ao PSB desde 1998, ela concorre em 2010 à reeleição para a Câmara em condições que beiram à penúria. Os panfletos foram doados por um amigo de seu estado natal, a Paraíba, e os adesivos e demais materiais confeccionados com dinheiro de uma poupança e ajuda da legenda. “Fico constrangida em pedir dinheiro”, admite. Dentro do PSB, as posições de Erundina empurraram para a periferia da cúpula.
Candidata avulsa
Em seus santinhos, o espaço dedicado ao governador, presidente e senador aparecem em branco. “O PSB não tem vida orgânica. Não sou ouvida pela cúpula. As decisões são tomadas por três ou quatro pessoas”, revela. Seu último embate com o comando socialista se deu quando Paulo Skaf foi lançado candidato a governador de São Paulo. “O PSB escolheu um candidato sem identidade partidária. Entre ele e o partido há uma incompatibilidade de raiz. Eu disse ao Skaf: ‘Você está no partido errado. Vai ter que passar a eleição inteira se justifiacndo.”
No plano nacional, porém, ela se diz entusiasmada com a candidatura de Dilma Rousseff (PT). “A Dilma lutou contra a ditadura. Seu passado não deve ser negado ou evitado.” A deputada conta que não recebeu de Dilma nenhum convite formal para subir em seu palanque. Mas tem subido assim mesmo. Em 2009, Erundina recebeu a única condenação judicial de sua vida política: teve que devolver aos cofres públicos R$ 350 mil. O dinheiro foi gasto com publicidade em jornais nos quais a então prefeita manifestou apoio à greve geral de 1989. O apartamento onde mora (seu único imóvel), seu carro e ainda 10% da remuneração mensal como deputada foram penhorados. Mesmo assim, o patrimônio ainda era inferior ao total da dívida. A notícia sensibilizou o meio político.
Vários jantares foram organizados por amigos, aliados e até ex-desafetos. A deputada pagou a dívida e respirou aliviada. Como diz o ditado: a gente nasce e morre todos os dias.
PONTO DE VISTA
“O governo Lula não investiu na reforma política”
A reforma política é defendida por dez em cada dez políticos, mas são raros os casos dos que levantam essa bandeira fora dos períodos eleitorais. Como fundadora e presidente da Frente Parlamentar da Reforma Política, Luiza Erundina defende uma mudança ousada do atual sistema: votação em lista pré-ordenada por gênero. A idéia é que cada partido apresente uma lista de candidatos onde obrigatoriamente devem constar nomes de homens e mulheres na mesma proporção.
“Na Argentina é assim”, diz a deputada. Ela também advoga o fim das coligações para cargos proporcionais e o financiamento público de campanha, mas é contra a criação de uma Constituinte exclusiva para isso. “O governo Lula não investiu na reforma. Deixaram essa discussão para o final do mandato, quando todos só se preocupam com a próxima eleição. Temos que acelerar esse processo no próprio Congresso.”
Jornal Brasil Econômico, edição de quarta-feira, 1° de setembro de 2010 – Páginas 12 e 13