Por Ligia Martins de Almeida, para o Observatório da Imprensa
Duas mulheres são notícia diariamente nestes tempos de campanha eleitoral: Dilma Rousseff e Marina da Silva, as candidatas à Presidência da República. E o ano de 2010 provavelmente entrará para a história como o momento em que as mulheres brasileiras tiveram a sua primeira presidente eleita.
Poderá, no futuro, parecer até que foi o ano da grande mudança para as mulheres. Isso porque a mídia, pela primeira vez, trata as mulheres da mesma forma que sempre tratou qualquer candidato. Discute sua posição nas pesquisas, mostra os comícios, revela suas falas sobre episódios recentes. O tratamento é tão igualitário que até mesmo o grande escândalo de corrupção na Casa Civil é protagonizado por uma mulher. Enfim, para quem pesquisar jornais no futuro tentando entender o momento político brasileiro, ficará a certeza de que nesse momento as mulheres brasileiras tinham atingido a plena igualdade política com os homens.
Mas, como os jornais ficam no superficial, os leitores do futuro não terão um panorama verdadeiro do que se passa no país. O desinteresse da mídia com relação à política (que não seja a eleição presidencial) é tanto que os eleitores – do futuro e do presente – nem ficam sabendo números interessantes relativos aos demais cargos em disputa.
Números que mostram que, apesar de haver duas candidatas a presidente, a situação das mulheres na política está tão ruim – ou pior até – como sempre. Informa o TSE:
“Estão na disputa 15.780 homens (79% do total) e 4.058 mulheres (20%). Proporcionalmente existem mais mulheres candidatas a vice-governadora no país – 43, ou 23% do total. Duas são candidatas a presidente (Dilma Rousseff, do PT, e Marina Silva, do PV) e só uma a vice-presidente (Cláudia Durans, do PSTU). 18 mulheres disputam os governos estaduais (10%) contra 153 homens (77%). Para o Senado são 35 candidatas e 238 candidatos. A proporção é a mesma entre homens e mulheres para os cargos de deputados estadual e federal – 22%. São 1.344 mulheres candidatas à Câmara Federal e 4.692 homens (77%). Para as assembleias legislativas, são 3.277 candidatas e 11.120 (77%) candidatos.”
Por que o apoio a Dilma?
Quem sabe, passadas as eleições, naquelas tradicionais matérias mostrando quem foram os eleitos, a imprensa tenha espaço para falar das mulheres eleitas: as senadoras, deputadas federais, governadoras e deputadas estaduais – e se isso faz diferença. Quem sabe aí, então, a imprensa discuta a presença feminina nas assembleias e congressos de uma forma mais séria e não apenas mostrando as mocinhas bonitas que prometem furor ou o eventual botox de uma ou outra eleita.
Se o Brasil for governado por uma mulher, o momento será muito oportuno para renovar uma pesquisa feita em 2008 que discutia a credibilidade das mulheres ocupando cargos públicos. Em matéria publicada no mesmo ano, o jornal Correio do Povo mostrava que “67% dos brasileiros acreditam que a maior presença feminina no poder melhoraria o nível da política do país; 58% afirmam que a participação da mulher é menor do que deveria; 48% entendem que elas são mais honestas.”
Seria interessante verificar hoje, depois do escândalo envolvendo a agora ex-ministra Erenice e seus familiares, se os brasileiros ainda acreditam que as mulheres são mais honestas do que os homens ou se, até nisso, as mulheres já conquistaram a plena igualdade.
Mas, do ponto de vista feminino – e feminista –, o que mais interessa é saber se os eleitores que apoiam Dilma Rousseff a escolheram por seus méritos e características – entre elas o fato de ser mulher, mãe e avó – ou estão apenas obedecendo ao comando de Lula, na esperança de que, com ela eleita, ele continue sendo o primeiro mandatário do país. É uma pesquisa que a mídia fica devendo para que no futuro, ao consultar os jornais, os leitores (se ainda houver jornais e leitores) tenham uma noção mais clara do que está acontecendo no Brasil de 2010.
(Envolverde/Observatório da Imprensa)