Meio milhão de grávidas em risco no Paquistão

Por Aprille Muscara, da IPS

Nova Iorque, Estados Unidos, 3/9/2010 – Organizações humanitárias e agências da Organização das Nações Unidas (ONU) alertam para a vulnerabilidade de mulheres grávidas e bebês nas áreas do Paquistão afetadas pelas inundações. O desastre humanitário causado pela monção de agosto afetou quase 18 milhões de pessoas, e 1.600 delas morreram, de acordo com estimativas da ONU.

“Sabemos que tem mães dando à luz em abrigos precários ou lotados, a pouca distância de lixo e água estagnada”, disse Sonia Kush, diretora de preparação e resposta de emergência da organização Save the Children. “Sabemos que o risco para os recém-nascidos é enorme. As primeiras horas e os primeiros dias são os mais delicados para eles no mundo em desenvolvimento, mesmo sem as complicações de um desastre como o do Paquistão. O reassentamento forçado das pessoas e a maior pobreza agravam a lotação nos abrigos, as doenças e as infecções”, acrescentou.

A organização estima que cem mil mulheres darão à luz no mês que vem. Aproximadamente 500 mil grávidas em áreas afetadas estão no segundo ou terceiro trimestre de gestação, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). “Devemos assegurar a saúde e a segurança das mulheres e de seus bebês”, alertou Martin Mogwanja, coordenador humanitário das Nações Unidas para o Paquistão. “O desastre afetou quase 18 milhões de pessoas. Não queremos que também afete meio milhão de bebês que ainda nem nasceram”, acrescentou.

O Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) tem desempenhado um papel muito ativo fornecendo assistência em saúde reprodutiva, disse Paul Garwood, da OMS. Esta agência da ONU colaborou dando assistência a 5.600 nascimentos desde o início das chuvas e ajudou a instalar 36 clínicas fixas e móveis, equipadas para realizar partos e oferecer atendimento obstétrico e emergencial.

“A OMS trabalha com outras agências da ONU, governos e organizações não governamentais para reabilitar centros de saúde o mais rápido possível, e também apoiou o envio de equipamentos médicos para as comunidades afetadas, com o objetivo de dar assistência primária e serviços de saúde reprodutiva”, disse Paul à IPS.

As clínicas da Save the Children atendem centenas de pessoas por dia, entre mulheres grávidas, outras que acabaram de dar à luz, bem como crianças, informou Sonia. Além de centros de saúde, é necessário “pessoal médico, de preferência mulheres” para ajudar e atender grávidas, disse Paul à IPS. Mas é difícil conseguir mulheres, especialmente ginecologistas, nas áreas afetadas.

Dos US$ 6 milhões solicitados para os serviços de saúde reprodutiva, foram entregues apenas 20%, segundo os últimos dados da ONU. Os outros US$ 4,8 milhões são necessários. “Temos que redobrar as operações humanitárias a fim de evitar uma segunda onda de doenças e sofrimento para milhões de famílias, especialmente as mais vulneráveis, além de mulheres e crianças”, afirmou Anthony Lake, diretor-executivo do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), que visitou as áreas afetadas pelo desastre no começo desta semana.

A ONU informou que são necessários também 40 helicópteros, pois as inundações destruíram pontes e estradas, deixando cerca de 800 mil pessoas isoladas, e aproximadamente 600 mil quilômetros quadrados, uma área maior do que a da Inglaterra, ficaram sob a água. Mais de 1,2 milhão de pessoas desapareceram, 4,8 milhões perderam suas casas e 4,3 milhões de hectares cultivados foram destruídos. A segurança alimentar do país está em perigo.

Estima-se que 2,4 milhões de menores de cinco anos continuam precisando de assistência alimentar, o que faz temer que fiquem desnutridos. Outros 3,5 milhões podem contrair doenças que se propagam pela água contaminada, segundo a Save the Children. “Dengue, malária, diarreia e outras infecções afetam centenas de milhares de pessoas. São doenças curáveis, mas podem ser mortais, especialmente para meninas e meninos, se não forem atendidos”, alertou Sonia.

Se os rios continuarem transbordando, aumentará o número de pessoas precisando de ajuda e, por conseguinte, para a ONU não serão suficientes os US$ 460 milhões que pediu há três semanas para financiar a resposta de emergência. As Nações Unidas receberam 70% dos fundos solicitados, mas seus funcionários disseram que a quantia foi subestimada já que as necessidades continuam aumentando. Em meados deste mês, será feita uma revisão do pedido inicial. Envolverde/IPS

(IPS/Envolverde)

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