Por Maria Júlia Lledó – Revista do Correio Braziliense
Assim no palco como na vida, fazer 30 anos rende assunto para muitas conversas. Nesta aqui, a atriz Camila Raffanti e a leitora Nathalie Amaral falam sobre relacionamentos, sexo, liberdade e pressões da sociedade
Zuleika de Souza/CB/D.A Press – 13/8/10 |
A atriz Camila Raffanti e a produtora Nathalie Amaral: os 30 anos são tão mais fáceis… |
Ela não é inocente, tampouco sábia. A mulher de 30 é um ser em ebulição. Segura e autônoma, ela vive o aqui e o agora, embora tenha mil e um projetos para realizar no futuro. Sim. Sabe o que não quer, mas fica em dúvida sobre o que realmente quer. Para decifrar esse enigma, o diretor Domingos de Oliveira recolheu depoimentos e criou, na década de 1990, a peça Confissões de mulheres de 30. Em 2008, o texto ganhou nova montagem interpretada pelas atrizes Camila Raffanti, 32 anos, Juliana Araripe, 32, e Patrícia Pichamone, 36.
A peça esteve em curta temporada na capital, na segunda semana de agosto, e arrancou risos e reflexões do público. No palco, divertidas esquetes mostram a beleza e as picuinhas das balzaquianas. Cenas baseadas em histórias de mulheres de carne e osso, que enfrentaram relacionamentos desfeitos, carreiras interrompidas, o crescimento dos filhos, a falta de tempo para cuidarem mais de si… Ufa! Mas, é verdade, também tornaram-se mais confiantes e livres. Para entender melhor o que se passa na cabeça daquelas que estão na casa dos 30, promovemos um encontro entre a atriz Camila Raffanti e a produtora Nathalie Sales Amaral, 36, leitora da Revista.
O que significa ter 30 anos?
Camila Raffanti: É o momento de tomar algumas decisões. Uma delas é: como vamos vivenciar essa questão da idade? Tanto que há uma fala na peça: “Não me importo que a história da minha vida esteja marcada no meu rosto, contanto que seja uma bela história”. Você vai ter que decidir se vai envelhecer bem com isso ou não. Os 30 representam a descoberta de que a idade está chegando. Você descobre aquele problema de coluna; o bumbum, então, nem se fala… A mulher de 30 também tem que dar conta de todos os recados a que ela se propôs. Ela quer: carreira, filhos, marido, vida independente, diversão…É uma meta muito ambiciosa. Não acredito que os homens tenham uma meta assim.
Nathalie Amaral: Para os homens, não faz muita diferença essa questão da idade. Estou namorando um cara mais novo. Vi que, na peça, vocês falam sobre isso, de como é ter o primeiro namorado depois de uma separação. O começo é muito estranho… Você não sabe se liga toda hora ou se não liga. Tenho que ser madura demais, porque já sou uma mulher. Mas, ao mesmo tempo, não me sinto velha.
Camila: É estranho. Demora para esquentar a relação. Você não sabe se você está sendo legal ou se está fora de moda. Por isso, a gente colocou uma cena na peça: como ir para uma balada depois dos 30. Isso porque você ficou muito tempo casada e não sai para dançar há anos. Aí, quando você sai, parece que está fora do contexto. Você não sabe se se faz de gostosa ou de desencanada.
Nathalie: Como naquela cena do filme Divã, em que a mulher vai para a balada e começa a falar: “Tô na vibe, tô na vibe!” (algo como “tô no clima”, “tô na vibração”). Passei mal de rir. Pensei: “Gente, imagina eu numa balada?” O problema é mais da gente com a gente do que com os outros. Mas você pensa: “Sou a mais velha da turma”. Acho que pesa mais para a mulher, não acha?
Camila: A mulher se cobra muito. Existe a cobrança da sociedade, sobre a questão dos filhos… Mas também acho que a mulher se impõe esses prazos. Por que ter filho aos 30? Não tem mais essa pressa, mas a gente fica se cobrando. E ainda diz: “Já devia estar rica aos 30”. Calma aí! Deixa eu olhar para minha estrada com mais carinho. Até para aprender e corrigir os erros. Ter 30 anos é um momento de recolher o que você viveu até agora e seguir mais certeira. Tentar pelo menos.
E quando o assunto é sexo?
Nathalie: A jovem tem que transar todo dia. Se não, tem alguma coisa errada com a relação. Daí, ela começa a discutir: “A culpa é minha? Tá chato? Amor, você está com algum problema?” Quando a gente chega aos 30, se for lindo e uma vez por semana, ok, meu bem! Isso não quer dizer que a gente não dê conta de fazer todo dia (risos), mas não temos que fazer por obrigação, nem provar nada para ninguém.
Camila: Concordo. A intensidade muda a qualidade do sexo. Nós já sabemos os caminhos, os atalhos. Conhecemos melhor nosso corpo. Aos 20, você quer agradar o parceiro e, aos 30, você é você, e pronto! Sabemos da gordurinha e da celulite. Claro que tirar a canga na praia é sempre um terror (risos). Mas, entre quatro paredes, tudo o que aprendemos conta muito. Um vinhozinho conta muito. Viva o abajur!
Como vocês se imaginavam aos 30 anos?
Nathalie: Olhava as mulheres de 30 casadas e com filhos. Achei que muito cedo seria mãe. Depois que você passa dos 30, tudo fica mais calmo. Se não fui mãe até agora, não era para ser. Se, aos 40, for mãe, estarei pronta para isso. Não tem mais regra. Casar e ter filhos, agora, é consequência. Me sinto mais tranquila. Profissionalmente, acho que tenho tanta coisa para fazer… Você tem uma idade para terminar o segundo grau, para entrar na faculdade, mas, depois dos 30, você pode fazer outra faculdade e tantas outras coisas.
Camila: Só me imaginei até os 28 (risos). Acho que estou melhor que a encomenda. Claro que imaginava que seria tudo mais liso, mais reto e foi tudo torto. Mas, de alguma maneira, eu cheguei, não do jeito que tinha sonhado. Aos 20, também parece que a vida é mais curta, por incrível que pareça. Tudo é agora. E, aos 30, apesar de falarmos na peça que “É agora ou nunca”, queremos dizer que dá pra fazer e dá tempo. Aos 20, a gente acha que só tem até os 30 para ajeitar a vida.
E por que o medo ronda as mulheres prestes a entrar nos 30?
Nathalie: Você percebe que uma pessoa tem 29 quando ela bate na mesa: “Eu não tenho 30 ainda; eu tenho 29.” Daí eu falo: “Amiga, você acha que ter 30 vai
fazer uma diferença enorme? Vai não, meu bem”.
Camila: Pra mim, os 28 anos são bem mais caóticos… Agora, a mulherada de 50 que assiste à peça fala para gente: “Parem de reclamar (risos)”.
Mulheres reais
Desde a primeira montagem, em 1992, no Rio de Janeiro, com as atrizes Clarice Niskier, Dedina Bernadelli, Maitê Proença e Priscilla Rozenbaum, a peça Confissões de Mulheres de 30 arrebatou um público de meio milhão de pessoas no Rio, em São Paulo, na América Latina, Espanha e Portugal. Nessa nova montagem, outro atrativo entra em cena. Após o primeiro ano de temporada, as atrizes Camila Raffanti e Juliana Araripe, amigas e ex-colegas do programa de TV Mothern (GNT), criaram o blog Mulheres Reais (www.mulheresreais.blog.br). “Nele, falamos sobre nossas experiências e abrimos espaço — no Confessionário — para que outras mulheres possam participar. Claro que tudo isso vai inspirar novos trabalhos. São muitas as histórias de vida que valem uma peça teatral”, constata Camila.
Frases do espetáculo
Salvador Cordaro/Divulgação |
“Aos 30 anos, o meu mundo caiu. Casamento desfeito, falta de perspectiva profissional, embate com a minha própria condição de mulher de 30. Aos 30 anos, a minha bunda caiu.”
“Ter 30 anos é uma posição de abrangência estratégica: você pode namorar homens de 20, 30, 50… sem que ninguém lhe chame de tarada.”