Do R7, com EFE
Jornais belgas divulgaram conteúdo de gravações de conversas
Eric Vidal/15.12.2009/AFP
Cardeal belga Godfried Danneels aconselhou a vítima de pedofilia em sua igreja o silêncio; gravação foi publicada por jornais do país neste sábado
O antigo chefe da Igreja Católica da Bélgica, o cardeal Godfried Danneels, ocultou o caso de pedofilia do ex-bispo de Bruges Roger Vangheluwe, informam neste sábado (28) os jornais De Standaard e Het Nieuwsblad.
Os jornais publicaram o conteúdo das gravações divulgadas pela vítima, que foi quem as fez durante uma reunião mantida neste ano com Danneels, que teria tentado convencê-lo de manter o assunto em sigilo.
Vangheluwe, de 74 anos, renunciou em abril após reconhecer que quando era sacerdote tinha abusado sexualmente de um menor de idade, seu sobrinho, segundo a imprensa.
Na reunião, em 8 de abril participaram a vítima, sua família, o próprio Vangheluwe e o cardeal Danneels, máxima autoridade da igreja na Bélgica até este ano.
Danneels pediu paciência e evocou o perdão para que o silêncio fosse mantido, informa outro veículo belga, o jornal Le Soir. O religioso também dá a entender que não queria um escândalo ao menos até a aposentadoria de Vangheluwe.
Os jornais relatam que no encontro a vítima reivindicou a renúncia de seu tio, cujos abusos prescreveram penalmente há dois anos. Vangheluwe acabou renunciando cerca de duas semanas depois.
A vítima, que tem hoje cerca de 40 anos, foi submetida a um longo período de abusos e disse ao Le Soir que divulgou as gravações como uma forma de restaurar parte de sua honra.
Danneels se viu envolvido na polêmica neste ano, especialmente após os registros policiais realizados na principal sede da igreja na Bélgica, o arcebispado de Malines-Bruxelas, que ele ocupou durante anos.
O cardeal foi interrogado durante dez horas em relação aos casos de pedofilia e entre os objetos apreendidos estava seu computador pessoal.
Na época, a Igreja Católica da Bélgica criticou a atuação das autoridades policiais na chamada Operação Cálice. O Soir publicou ontem que os 475 dossiês de casos de abusos sexuais que foram retirados da igreja na operação podem voltar em breve para os religiosos.
Um pedido de devolução do material foi feito na Justiça. O processo também questiona se a busca estava dentro da lei. O Soir conseguiu adiantar o conteúdo da decisão, que determinaria a devolução do material por considerar que ele foi recolhido da forma ilegal da sede da Igreja Católica na Bélgica.