MMC/SC *
MULHER CAMPONESA,
PRODUZINDO ALIMENTOS SAUDÁVEIS,
CONSTRUINDO LIBERTAÇÃO.
O Movimento de Mulheres Camponesas em Santa Catarina – MMC/SC, nos dias 21, 22 e 23 de agosto de 2010, realizou em Xaxim/SC, a 11ª Assembléia Estadual, com o tema: “Identidade Camponesa e Feminista”. A assembléia foi um momento de celebrar os 27 anos de organização, formação, lutas e conquistas de direitos e dignidade. Nós, mulheres lutadoras, construímos o nosso movimento autônomo, de classe, camponês e feminista. Em todos os momentos lutamos pela libertação da mulher contra todo o tipo de opressão e exploração, pela construção do projeto de agricultura camponesa agroecologica e a transformação da sociedade.
Durante os meses de março a agosto realizamos estudos, reuniões nos grupos de base, fizemos as Assembléias Municipais, Regionais e Estadual. Este processo nos mostrou que, o campo vem passando por profundas transformações interferindo na vida e na organização das mulheres. Alguns dados revelam que a agricultura camponesa utiliza apenas 24% das terras férteis e de pior topografia, por outro lado, produz 75% do alimento para o povo brasileiro. Apesar disso, em Santa Catarina entre 1985 a 2003, desapareceram 36.562 propriedades menores de 19 hectares(1). O modelo de produção capitalista que privilegia a agricultura química, o monocultivo, os transgênicos está levando as pessoas à abandonarem cada vez mais o campo. O êxodo da juventude está produzindo o envelhecimento do campo, permanecendo pessoas com faixa etária entre 40 á 60 anos. Isso confirma o dado onde 40% das unidades de produção em Santa Catarina não têm sucessores(2). Principalmente as jovens têm mais oferta de trabalho na agroindústria ou em residências, exercendo trabalho doméstico ou de cuidar de crianças, doentes, idosos, entre outras, submetem-se a estes serviços com baixa remuneração associado à possibilidade de estudar.
Faz parte do cotidiano das mulheres o problema da violência doméstica. No Brasil 43% das mulheres já foram vítimas de algum tipo de violência doméstica. Mesmo com a lei Maria da Penha e com as campanhas e debates(3) realizados, a violência contra a mulher camponesa ainda é bastante silenciada. Em 2009, através do disque denúncia número 180, 4% das denúncias foram de mulheres rurais. Ainda é pouco, mas é sinal de que estamos saindo do silêncio, enfrentando a cultura machista, sexista e patriarcal(4).
O estudo que realizamos sobre identidade camponesa e feminista veio confirmar nossa luta pela construção do projeto de agricultura camponesa agroecológica, e ao mesmo tempo, a luta feminista como um movimento e uma teoria que nos desafia a ter atitude pessoal e coletiva de construção da igualdade entre mulheres e homens. Diante disto reafirmamos nosso compromisso de fortalecer nosso movimento autônomo, camponês, classista e feminista; oportunizar as lideranças a formação política para desenvolver com mais eficiência a organização de base e sua tarefa de militante na articulação com os outros movimentos feministas e de classe.
Nossa contribuição para fortalecer a construção do projeto popular de agricultura camponesa, agroecologica se dá a partir da recuperação e cuidado com as sementes crioulas de hortaliças, plantas medicinais, mata nativa, fontes e riachos; Do exercício de novas relações entre as pessoas e com a natureza; Do avanço na luta por políticas públicas e justiça social; Da luta e denuncia contra o modelo de agricultura capitalista (agronegócio, monocultivos, padronização da alimentação, agrotóxicos, transgênicos…) e da cultura patriarcal.
Um dos desafios é fortalecer o trabalho com as jovens camponesas, para que construam suas lutas específicas ampliando a participação na formação e lutas, fortalecendo nossa organização.
Para concretizar o plano de luta aprovado nesta assembléia se faz necessário uma direção qualificada, unificada, disposta e comprometida a assumir os desafios colocados ao MMC nestes 27 anos de historia, construindo uma pedagogia feminista de organização e luta pela emancipação das mulheres.
DA LUTA NÃO FUJO NA LUTA CONTINUAREMOS.
Notas:
(1) Fonte: Ibge (1985 e 1995/96 e LAC (2003)
(2) Fonte: LAC, 2003
(3) Dados da Pesquisa Perseu Abrano de 2001.
(4) SANTOS Danielle. Número de denúncias de violência contra a mulher aumenta ano após ano, mas ainda enfrenta barreiras. Jornal Correio Brasilense Publicação: 07/03/2010.
* Movimento de Mulheres Camponesas em Santa Catarina
fonte: ADITAL