Emilio Godoy, da IPS
Cidade do México, México, 26/8/2010 – Depois de se levantar da cama, Ghadeer Malek checa sua rede social Facebook para ver notícias e mensagens relacionadas com seu trabalho feminista. Esta rotina ilustra como as mulheres jovens tendem a recorrer mais e mais às novas ferramentas tecnológicas, embora esse uso ainda seja incipiente, segundo especialistas participantes da Conferência Mundial da Juventude. O painel “Poder das mulheres pelo uso inovador das novas tecnologias da informação e das comunicações (TIC)”, delegadas de organizações não governamentais compartilharam suas experiências, no dia 24, segundo dia de atividades da conferência que acontece em León, 202 quilômetros ao norte da capital mexicana.
“As meninas, adolescentes e mulheres jovens têm menos familiaridade com as novas técnicas de comunicação”, disse à IPS a espanhola Inés Alberdi, diretora-executiva do Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher (Unifem), que agora integra a agência ONU Mulheres. “A igualdade de oportunidades é um tema fundamental para a futura autonomia de mulheres jovens e não estar em termos equilibrados com os homens, no uso, familiaridade e conhecimento de novas técnicas é muito grave”, destacou Inés, encarregada de abrir a Conferência de 2010, declarado pelas Nações Unidas ano Internacional da Juventude.
Esse evento, organizado pelo governo mexicano que reúne 2.500 participantes de todo o mundo, terminará amanhã com uma declaração exortando a Organização das Nações Unidas a promover mais políticas para esse segmento da população. “A tecnologia pode ajudar as mulheres a mudar o status quo”, disse Abby Blechman Goldberg, diretora de Gênero para América Latina e Caribe da organização norte-americana Digital Democracy. Esta instituição desenvolve um projeto no Haiti – em consequência do terremoto de janeiro que matou mais de 220 mil pessoas – que gira em torno do uso de telefone celular e câmeras digitais entre as mulheres para se comunicarem e responderem a agressões.
“Nosso foco é apoiar o ativismo para estar mais integrado no movimento. Podemos conectar redes e ideias e construir visões de forma estratégica, e não apenas passar informação”, disse Ghadeer, integrante do Programa de Ativismo Feminista Jovem da Associação pelos Direitos das Mulheres em Desenvolvimento (AWID) em sua intervenção no painel.
Na América Latina existem cerca de 180 milhões de usuários de Internet, com penetração de 30,5%, segundo dados de diversas consultorias dedicadas ao estudo da rede. As mulheres representam mais de 45%. O México tem em torno de 27 milhões de usuários da Internet. Além disso, 81,9% dos internautas da região possuem conta em alguma das redes sociais como Facebook ou Twitter. O Facebook atrai 49% da audiência, com o México sendo o país com maior número de registrados; e 94% dos cibernautas utilizam alguma rede social.
Em 2007, cinco instituições, entre elas o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento e o Unifem, criaram a Rede Internacional de Informação sobre Mulheres e Política para promover a participação de gênero nessa atividade. “Acreditamos em conectar as mulheres à política, que não se sintam intimidadas considerando a política ser um trabalho sujo”, disse Piyoo Kochar, facilitadora de redes do projeto. No mundo, 18% das cadeiras nos parlamentos estão ocupadas por mulheres e as ministras representam 16%.
A popularidade da Internet levou o Unifem a expandir seu projeto Di-NO Una-se, Plataforma Global para Defesa e Ação em Eliminação da Violência contra as Mulheres e Meninas, lançada em 2007 com o objetivo de reunir um milhão de assinaturas contra esse flagelo. O Unifem lançou em 2009 a iniciativa, após arrecadar mais de cinco milhões de assinaturas e com adesão de centenas de organizações não governamentais, 70 governos, 200 ministros e 700 legisladores de todo o mundo. “Desembocou em muito mais, em uma plataforma de comunicação e assessoria. Mostra o trabalho de campo de organizações e ativistas”, disse Urjasi Rudra, coordenadora da campanha.
No México, a não governamental Cuidemos do Voto, que denuncia anomalias nas eleições locais, adaptou pela primeira vez para o espanhol a plataforma tecnológica Ushahidi, desenvolvida em 2008 pela organização de mesmo nome do Quênia, habilitada para enviar informação via mensagens de texto, e-mails ou páginas da web. “Quando ocorre um fato dramático, queremos a maior informação possível. Se por alguma razão sua voz é silenciada, a Internet oferece muitas ferramentas para poder dizer o que vemos e o que está acontecendo”, disse Juliana Chebet Rotich, cofundadora da Ushahidi, que significa “testemunho” em língua suahili. A Cuidemos do Voto recebeu contribuições de organizações não governamentais e de cidadãos sobre alteração de urnas, falsificação de resultados e compra de votos.
Para Ghadeer, os desafios estão vinculados aos idiomas usados, ao acesso, especialmente nas comunidades rurais, à capacitação e uso das TIC em termos de gênero, para que as mulheres não sejam apenas usuárias e blogueiras, mas também programadoras ou que desenvolvam softwares. “O maior desafio é garantir que todos os grupos de mulheres jovens, que muitas vezes estão marginalizadas e têm maior desvantagem, especialmente nos países em desenvolvimento, possam adquirir essas habilidades e capacidades e tenham acesso a tais tecnologias para obter poder”, disse Inés. Envolverde/IPS
FONTE: IPS/Envolverde